Após a condenação do promotor André de Pinho na noite desta quarta-feira (29) por unanimidade no Tribunal de Justiça de Minas Gerais, por feminicídio contra a esposa Lorenza de Pinho em 2021, o pai da vítima se pronunciou e agradeceu a atuação do ministério público.
Muito atuante durante todo o julgamento, Marco Aurélio, de 74 anos, afirmou estar extremamente emocionado e deixou um recado para as mulheres que sofrem com violência doméstica no Brasil, como sua filha sofria antes de ter sido morta pelo marido.
“Foi uma grande luta. Faltam 5 dias para completar 24 meses que minha filha se foi, estou extremamente emocionado. Eu não sou feliz porque isso não traz a minha filha. O que eu vim buscar aqui hoje dentro deste tribunal, foi que se fosse ouvida a voz da minha filha. E nós conseguimos isso”, disse o pai da vítima aos prantos, enquanto saia do tribunal que condenou o genro a 22 anos de prisão
“Eu falo principalmente para as mulheres, nós homens estamos dentro de um casulo, que não protegemos as mulheres. Esse processo é um processo que ele vem passo a passo. Primeiro empurrão, depois é uma fala alta, depois um tapa e depois a morte. E nós, a nossa sociedade fica calada, nós não podemos ficar mais calados. Precisamos de justiça e precisamos que um caso como esse se espalhe no Brasil para eles verem que não vale a pena matar mulher não. Porque, se você matar a mulher, mesmo sendo um promotor de justiça, você pega 22 anos de cadeia. É isso é que tem que ser demonstrado a todo mundo. Chega de impunidade”.
Relacionamento com os netos
Durante o julgamento do caso, a relação de Marco Aurélio com os cinco netos, frutos do relacionamento de Lorenza com André de Pinho, foi usada pela defesa do promotor. As crianças e adolescentes se colocaram ao lado do pai durante todo o processo e demonstraram ter uma relação conturbada com a família materna.
Apesar disso, o avô afirmou ter esperanças e preferiu não comentar o assunto, por estar cedo demais. Ele disse, entretanto, que o crime que matou Lorenza destruiu a vida de toda a família e ressaltou que não consegue perdoar André de Pinho.
“É muito cedo para falar, eu carrego dentro do meu peito uma dor muito difícil. Para dizer eu perdoo porque acabou tudo? Não perdoo não. É muito difícil, vai ser muito difícil eu esquecer. Inclusive eu vou fazer 75 anos agora, eu acho que eu não vou ter vida para ver o tempo de eu esquecer. Esse crime com a minha filha, acabou com a minha vida. Acabou com a vida da irmã gêmea dela, acabou com a vida dos cinco filhos dela, acabou com a vida de todos os nossos familiares e acabou com a vida dele. Como é que um promotor não enxerga isso? Isso é empáfia! É o poder do macho, o macho promotor. Ele falava ‘eu sou o homem que prendo e que solto’. Não é não, ele é um homem que vai preso”.
O promotor André Luis Garcia de Pinho, de 53 anos, foi condenado a 22 anos de prisão pelo homicídio qualificado da própria mulher, Lorenza Maria Silva de Pinho, morta aos 41 anos após ser dopada e asfixiada no apartamento da família no bairro Buritis, na região Oeste de Belo Horizonte, em 2 de abril de 2021.
O membro do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) está preso desde 4 de abril daquele ano e também recebeu condenação de um ano em regime aberto e multa pelo crime de omissão de cautela por ter guardado uma arma de fogo no guarda-roupa de um de seus cinco filhos menores de idade.
Ouça fala completa:
Entrevista feita pela repórter Amanda Antunes