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Aldemir Drummond | O Brasil corre o risco de envelhecer pobre

O fim do bônus demográfico é o alerta definitivo: ou o Brasil cresce, ou envelhecerá pobre

O fim do bônus demográfico é o alerta definitivo: ou o Brasil cresce, ou envelhecerá pobre

O Brasil chegou a um ponto de virada demográfica. Em 2025, pela primeira vez na história, menos jovens entre 20 e 29 anos estão entrando no mercado de trabalho do que entraram no ano anterior. Esse dado aponta para o fim do chamado “bônus demográfico” — um período em que havia cada vez mais gente em idade de trabalhar do que a depender da renda de outros. Países que aproveitaram bem essa fase, como a Coreia do Sul, conseguiram enriquecer antes de envelhecer. O Brasil, infelizmente, está caminhando na direção oposta.

O envelhecimento da nossa população é um dos mais acelerados do mundo, devido à velocidade da diminuição do número de filhos por mulher. Em poucos anos, o número de brasileiros com mais de 60 anos vai superar, de forma inédita, o de crianças e adolescentes. Muitos desses idosos não contribuíram o suficiente para a previdência, mas, por estarem em situação de pobreza, têm direito a uma aposentadoria. Seria difícil e profundamente injusto imaginar que esse direito será retirado ou reduzido. O problema é que cada vez menos trabalhadores estarão na ativa para sustentar esse sistema.

Olhando para as últimas quatro décadas, o retrato é preocupante. O crescimento econômico do país foi baixo e irregular, sem ganhos expressivos de produtividade e renda. O país desperdiçou tempo valioso em que poderia ter preparado sua economia e sua população para esse novo cenário. Se nada mudar, corremos o risco de envelhecer sem os recursos necessários para cuidar de uma população idosa que só tende a aumentar.

A solução parece clara: o Brasil precisa crescer mais, e rápido. Apenas um crescimento econômico robusto pode gerar empregos, aumentar salários e ampliar as contribuições para a previdência social. Além disso, mais crescimento significa mais arrecadação para o governo financiar políticas sociais sem comprometer ainda mais as contas públicas.

O desafio, claro, não é pequeno. Para acelerar a economia, será preciso atacar problemas estruturais como a baixa qualidade do ensino, a insuficiência da infraestrutura, o protecionismo a empresas ineficientes e a insegurança jurídica. Esses passos são fundamentais para aumentar os investimentos e a produtividade, que são chaves para o crescimento sustentável.

O Brasil tem uma oportunidade neste momento, diante das tensões geopolíticas globais, da demanda crescente por energia e da necessidade de descarbonização da economia. Temos vantagens em todas essas frentes. O Brasil pode crescer, ajudando a si mesmo e ao mundo.

O risco de não agir é evidente. Um país que envelhece sem crescer se torna mais desigual, mais pobre e mais vulnerável a crises. Ajustes dolorosos, como cortes de benefícios e aumento de impostos, se tornam inevitáveis.

O tempo, porém, é curto. O fim do bônus demográfico é o alerta definitivo: ou o Brasil cresce, ou envelhecerá pobre.

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Aldemir Drummond é professor e coordenador da iniciativa Imagine Brasil da FDC