“Não posso achar normal um ser humano passar fome enquanto estou falando de comida todos os dias, sentando em bares e comendo os melhores pratos”. A frase é de Renata Urbano, de 38 anos, uma das mentes por trás do
Porém, mais que isso. O projeto promove e apoia várias ações sociais desde que foi criado, sendo esse um dos motores do projeto. Renata e seu companheiro de Oncêvai e vida, Bernardo Cançado, 38 anos, contam, inclusive, que a atuação social foi um dos motores do primeiro boom do portal.
Criado em 2016, o Oncêvai passou por um momento de incertezas no início da pandemia de Covid-19, em 2020. Bernardo, ao tomar ciência da necessidade de isolamento social, se preocupou com o futuro do projeto, que tem como pilar a vivência nas ruas, bares e em comunidade.
Renata relatou que viu muitos donos de estabelecimentos desesperados, temendo falência, e isso os motivou a lançar o projeto “Apoie o Local”, que consistia em divulgar, diariamente, todo e qualquer pequeno empreendimento da Grande BH, ainda que ambos tivessem suas rotinas profissionais no mercado de trabalho formal.
“Restaurantes e bares que foram para o delivery, produtos artesanais, conteúdo nichado em datas especiais, sempre incentivando a compra dos pequenos produtores ao invés do e-commerce. É essa galera que precisava disso para sobreviver. Isso era diário. De domingo a domingo. Quando a flexibilização foi garantida, fizemos um levantamento e mais de 1300 pequenos empreendedores foram impactados”, explicou Cançado.
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Aparição na TV e “Recebidos do Bem”
O sucesso do “Apoie o Local” foi tão grande que o Oncêvai foi convidado para uma participação no programa Mais Você, apresentado por Ana Maria Braga, na Rede Globo. A visibilidade fez com que as redes sociais do projeto crescessem exponencialmente.
E a ação social gerou ainda mais frutos. Gratos pelo apoio nos momentos de dificuldade, os pequenos comerciantes ajudados passaram a enviar muitos produtos para o casal, algo extremamente acima do que eram capazes de receber. Segundo Renata, nem os vizinhos, para quem davam parte dos recebidos, estavam conseguindo lidar com tanta coisa. Então surgiu outra ideia: o “Recebidos do Bem”.
“Chegávamos aos comerciantes que queriam nos mandar produtos e perguntávamos qual a capacidade que tinham para doação. Em seguida, apresentávamos instituições de caridade e pedíamos para mandarem para lá em nosso nome e no deles”, contou Bernardo.
Numa das primeiras ações, conseguiram diversos doces para profissionais da linha de frente contra a Covid da Santa Casa de BH no período da Páscoa. A continuidade do projeto foi um sucesso, com várias instituições apoiadas.
E esse trabalho social rendeu homenagens que enchem o casal Oncêvai de orgulho. No Bar do Antônio “Pé de Cana”, onde a entrevista foi realizada, o “Torresmo do Betão” passou a se chamar “Torresmo Oncêvai”, pela gratidão ao trabalho feito no período. E não parou por aí. Em diversos estabelecimentos, pratos favoritos do casal ganharam o nome do canal.
“Quer homenagem mais bonita? O nome do projeto numa obra de arte dessas?”, celebrou Renata.
‘Comida que Abraça’
Outro projeto social com participação do Oncêvai é o “
Ao tocar no assunto, Bernardo levantou outra discussão: o desperdício de comida nas publicidades de páginas de sugestões gastronômicas no Instagram.
“Muitos criadores de conteúdo de gastronomia trabalham com mesas enormes postas, com praticamente todos os pratos servidos naquele restaurante. Estão lá na sua melhor apresentação. Ele vai lá e morde um, morde outro e todo aquele resto vai para onde? O que é feito daquilo? É um baita incentivo ao desperdício em um país que, menos que antes, mas, que ainda tem tanta gente que passa fome. É um escárnio, um absurdo. Não é um modelo nosso, autoral do Brasil”, afirmou ele.
“A gente trabalha com comida farta, não com desperdício”, completou Renata.
Ôncevai em distribuição de marmitas para pessoas em situação de rua junto do projeto Comida que Abraça
Cançado ressalta que o Oncêvai busca fazer esse tipo de provocação. “Aqui você procura ajuda para decidir o que vai comer, mas já pensou em quem não tem nada?”.
Urbano conta que a partir disso busca fazer ações sociais, como almoços beneficentes nos aniversários do Oncêvai, com menu completo, e o valor dos ingressos é destinado ao Comida que Abraça. Outra ação costumeira é a distribuição de marmitas de KAOL junto do Café Palhares no Aniversário de Belo Horizonte.
“Com o Oncêvai a gente pode dar luz e ajudar de fato, com dinheiro, indo além da divulgação”, explicou.
O “Comida que Abraça” faz 200 marmitas por dia, de domingo a domingo. Por isso, o Oncêvai reforça a importância de doações, não só em datas comemorativas, mas com constância.
“A gente mobiliza para fazer acontecer. Ela tem parceiros fixos, porém não recebe recurso em dinheiro do governo”, finalizou Renata.