Ouvindo...

Quatorze escorpiões dentro da minha casa!

Meus sentimentos foram: desespero, dúvidas e impotência; saí de casa por 15 dias e foi feito um mutirão para procurar o ninho – que nunca foi encontrado

escorpião

Eu tive a experiência desagradável de encontrar 14 escorpiões DENTRO da MINHA CASA, em um intervalo de 10 dias, no bairro Buritis, Belo Horizonte. Um deles já adulto, os outros 13 tão pequeninos quanto uma formiga grande. O primeiro cheguei a matar com um chinelo, antes de entender que era um filhote de escorpião. A maioria foi encontrada na sala, debaixo do sofá, na parede ou no chão perto da varanda.

Meus sentimentos foram: desespero, dúvidas e impotência. Saí de casa por 15 dias e foi feito um mutirão para procurar o ninho – que nunca foi encontrado. Ainda tenho dúvidas se o foco estava dentro de alguma tomada da rede elétrica (como aconteceu na casa vizinha), no encanamento de água (eu tinha um vazamento na sala), ou se, simplesmente, uma fêmea jogou seus filhotes na garagem em frente à minha casa, que é de grama. Minha residência fica próxima a uma mata e um riacho. Um terreno baldio parecia ser o principal perigo.

O medo procede. Afinal, o bicho é pré-histórico e consegue se esconder por até 2 anos sem se alimentar e ainda ficar diversos meses sem respirar – o que dificulta a ação de qualquer veneno. Minha filha estava com 6 anos, naquela época, ou seja, dentro do grupo de risco dos 5% acidentados que se agravam. A chance de morte é de apenas 0,07%. Mas, caso aconteça com um filho nosso, a tristeza é 100% garantida.

Algumas medidas foram tomadas pelo condomínio - compramos 15 galinhas-d´angola; o lote foi capinado e telado; as crianças foram esclarecidas dos riscos; ocorreu um mutirão para limpar a área comum e foram ensinadas medidas de proteção para as áreas internas das casas.

Desde a época, faço 3 a 4 dedetizações para reduzir a presença de baratas, limpo as caixas de gordura e esgoto regularmente, evito acumular caixas, brinquedos e outros objetos na garagem.

Só lembrando, o Ministério da Saúde não recomenda o uso de pesticidas contra escorpiões, por não reconhecer nenhum produto atual do mercado como totalmente eficaz. E ainda alerta para o risco de desalojar o animal, o que pode aumentar o risco de acidentes. Mas, sendo as baratas a principal fonte de alimento, tento fazer o controle dessa praga. Uso um dos inseticidas piretróides com microencapsulação disponíveis no mercado, pois parecem ser mais eficazes.

Diversas outras medidas preventivas são interessantes. Existe no mercado uma lâmpada com luz ultravioleta especial que ajuda a procurar escorpiões no escuro – essa medida também pode amenizar o momento do desespero.

Por fim, aprendi que todo cuidado é pouco. Que o risco de gravidade não é tão grande, mas nem por isso o susto é pequeno. E que as medidas individuais (dentro de nossa casa) e coletivas (do condomínio) são muito importantes! Boa sorte – que você nunca encontre um desses animais dentro da sua casa...

Registros dos acidentes

  • No Brasil (2023): 202.714 pessoas acidentadas;
  • 50% dos casos ocorreram em Minas Gerais e São Paulo;
  • Necessidade de usar soro em 5% dos casos (mais graves);
  • Mortes no Brasil (2023): 131 casos;
  • Maior risco: crianças 7 anos ou menos e idosos.

Sintomas após picada

  • Dor local intensa;
  • Vermelhidão e sudorese local;
  • Leve inchaço;
  • Casos graves: vômitos, alteração de consciência, arritmias cardíacas, dificuldades respiratórias;
  • A gravidade varia conforme: quantidade de veneno, número de picadas, massa corporal da vítima, sensibilidade ao veneno, tempo decorrido entre acidente e atendimento médico.

Em caso de acidentes

  • Não “sugar” o veneno do local acidentado;
  • Não fazer torniquete, incisões ou mexer no local;
  • Lavar com água e sabão (se não for atrasar o socorro);
  • Procurar um hospital de referência próximo (em BH é o João XXIII);
  • Se possível e sem correr risco, capturar o animal e levar para o hospital.

Cuidados dentro de sua casa

  • Manter a tampa dos ralos internos da casa na posição fechada;
  • Instalar telas milimétricas em ralos no chão, pias, tanques, áreas externas;
  • Vedar frestas nas paredes;
  • Colocar soleiras nas portas;
  • Retirar entulhos que podem servir de esconderijos;
  • Afastar camas e berços das paredes;
  • Manter lençóis, cobertores, cortinas sem contato diretamente com o chão;
  • Vistoriar roupas, calçados, toalhas antes de usá-los, e camas antes de deitar-se;
  • Manter lixos em sacos bem fechados;
  • Usar luvas e botas grossas para manusear entulhos e cuidar do jardim.

Espalhados pelo mundo

  • Os escorpiões vivem, na Terra, há 410 milhões de anos (Dunlop et al. 2008);
  • No mundo: há 1,5 mil a 2 mil espécies deles;
  • No Brasil: 130 espécies;
  • Importância médica em BH: espécie Tityus serrulatus (escorpião amarelo).

Conheça os hábitos dos escorpiões

  • Habitat (meio urbano): entulhos, galerias de esgotos, canos de águas pluviais, instalações elétricas, materiais de construção, cemitérios, terrenos baldios, linhas de trem;
  • Já foram encontrados em locais a 5,5 mil metros de altitude e a 800 m de profundidade;
  • Alimentam-se de insetos e outros invertebrados (no meio urbano = baratas);
  • Têm hábitos noturnos; ficam escondidos durante o dia;
  • Atacam apenas quando se sentem ameaçados;
  • Localizam suas presas através de seus pelos sensíveis a pequenos movimentos do ar;
  • Sua visão é pouco desenvolvida;
  • Inimigos naturais: aves (galinhas, em especial as d´angola), lagartos, lagartixas, anfíbios e algumas aranhas;
  • Reprodução: espécie T. serrulatus (partenogênese = fêmea não precisa ser fecundada pelo macho);
  • Ninhada: dois partos por ano (20 a 70 filhotes cada) (os filhotes ficam no dorso da mãe por 15 dias);
  • Vivem, em média, 5 anos;
  • Inoculam o veneno pelo ferrão (telson), localizado no último segmento da cauda.

Escorpião se suicida?

Ao formar um círculo de fogo ao redor de um escorpião, o animal ferroa-se até a morte por não ver possibilidade de fuga! É mito. O fato de levantar o ferrão colocando-o próximo à cabeça representa uma atitude de defesa normal diante do perigo. Sua morte se dá por dessecação.

Leia também

Fabiana Lemos é jornalista e médica. Membro da Sociedade Brasileira de Clínica Médica. Trabalhou no Caderno Gerais do Jornal Estado de Minas, de 1997 a 2003. Foi concursada da Prefeitura de Belo Horizonte e atuou como médica no SUS, de 2012 a 2018. Foi professora de Medicina pela UNI-BH, até 2023. Atualmente, atende em consultório.

A opinião deste artigo é do articulista e não reflete, necessariamente, a posição da Itatiaia.