Você saberia dizer quais são os três cursos d’água mais longos que passam por Belo Horizonte? Talvez não. Porque, entre avenidas alargadas, calçadas de concreto e o zumbido cotidiano dos carros, esquecemos daquilo que nos atravessa.
A maioria dos rios da capital mineira está escondida. Alguns foram enterrados vivos, canalizados sob ruas e viadutos. Outros seguem a céu aberto, mas mutilados, reduzidos a valões onde correm o esgoto e o abandono. No entanto, os rios continuam lá, desenhando a topografia invisível da cidade. E conhecê-los é o primeiro gesto de cuidado.
Segundo dados do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM), do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas e da própria Prefeitura de Belo Horizonte, os três cursos d’água mais longos que cruzam o município são: o Ribeirão Arrudas, o Ribeirão do Onça e o Ribeirão Isidoro.
O Arrudas é o mais extenso. Nasce na Serra do Rola-Moça, em Contagem, e entra em Belo Horizonte pelo Barreiro. Acompanha o traçado da Avenida Tereza Cristina e depois da Avenida dos Andradas, cortando a cidade de ponta a ponta, até encontrar o Rio das Velhas em Sabará. São cerca de 43 a 47 quilômetros de extensão total, dos quais aproximadamente 37 km dentro da capital. Por séculos foi curso de água limpa. Hoje, embora parte da sua bacia esteja canalizada e tratada, ainda carrega a memória da negligência urbana.
O segundo é o Ribeirão do Onça, que nasce em Contagem, banha a região da Pampulha — incluindo a famosa lagoa — e segue até Santa Luzia, onde também deságua no Rio das Velhas. Com cerca de 36 a 39 km de extensão total, percorre entre 25 e 28 km dentro de Belo Horizonte. Em seu leito vivem contrastes: das áreas verdes ainda preservadas à poluição severa, dos condomínios fechados às ocupações ribeirinhas. É o rio que mais sofre com o adensamento urbano acelerado da zona norte.
O terceiro da lista é o Ribeirão Isidoro — ou Izidora, dependendo da grafia usada. Aqui há uma inversão importante: ao contrário dos dois anteriores, ele nasce dentro de Belo Horizonte, na região da Granja Werneck, entre os bairros Céu Azul e Jaqueline. Corre por cerca de 11,6 km, atravessando áreas ainda cobertas por mata, como a ocupação Vitória, e deságua no Ribeirão do Onça, já próximo à divisa com Santa Luzia. Trata-se do maior curso d’água com nascentes inteiramente belo-horizontinas.
E se a pergunta fosse outra — quais os três maiores cursos d’água que nascem em Belo Horizonte? A resposta mudaria. O Isidoro seguiria no topo, mas ao lado dele estariam o Córrego do Cercadinho, que nasce na Serra do Curral e deságua no Arrudas, e o Córrego do Jatobá, com origem no Barreiro. São cursos mais modestos em extensão, mas inteiramente locais.
A cidade não começou com asfalto. Começou com córregos, caminhos d’água, minas e vales. Foi em torno deles que os primeiros mapas foram desenhados, os primeiros bairros traçados, as primeiras praças definidas. Quando esquecemos os rios, esquecemos também a inteligência do território.
Conhecer os rios de Belo Horizonte é mais do que um exercício de geografia: é um gesto político. Porque eles seguem fluindo, visíveis ou soterrados, com ou sem nossa atenção. E seguirão — com água limpa ou poluída — moldando o que a cidade é e o que poderá ser.
Reencontrá-los é o começo. O resto… é cuidado.