Professor sabe tudo?

Pessoas não sabem tudo, pois não são máquinas. E que bom! Professores são pessoas e, portanto, também não sabem tudo, mas são indispensáveis para que aprendamos a aprender

Imagem ilustrativa de uma professora em sala de aula

Quando iniciei minha vida como professora, uma das minhas preocupações era a possibilidade de um estudante me perguntar algo que eu não soubesse. Como sair da enrascada de após a explicação de um tema ou um conceito, surgir uma pergunta de uma criança, que eu, a adulta da sala, não soubesse responder? Na época, minha estratégia era me dedicar ao máximo no estudo e na preparação das aulas, tentando imaginar antes, todas as perguntas possíveis de receber.

É evidente que isso contribuiu para eu ser uma professora que sempre planejou os detalhes de um momento de aprendizagem, gostando de pesquisar diferentes fontes, antecipar possíveis dúvidas ou perguntas das crianças e dos jovens e isso sempre enriqueceu minhas aulas. Aos poucos, fui deixando a preocupação com as perguntas inusitadas, de lado e entendendo que preparar bem uma aula também era contar com o imprevisto.

Mais adiante, já atuando como coordenadora pedagógica, uma professora tinha que explicar um conteúdo de Biologia tão complexo, que me revelou ter ficado quase duas semanas para elaborar uma aula. Por trás da sua inquietação e dedicação, havia uma professora preocupada em dar conta de um conteúdo que era muito difícil inclusive para ela. O caminho que ela tomou era igual ao meu no início da minha carreira e estava lá, a insegurança em errar, em perder algum detalhe que pudesse constrangê-la com uma pergunta de um estudante.

Esses relatos servem para pensarmos que assim como médicos não têm todas as respostas na primeira consulta de um paciente, e engenheiros precisam fazer laudos técnicos sobre o solo onde vão erguer um prédio, muitas vezes apoiados por outros profissionais, professores também não têm todas as respostas de bate-pronto. E que bom!

Ser um bom professor é uma construção profissional que passa por conhecimento, mas não tem fim apenas nisso. É preciso se libertar da imagem de sabe-tudo e incluir habilidades como saber selecionar bons materiais para os encontros, planejar atividades em que os estudantes coloquem as mãos na massa, formular boas perguntas para provocar discussões com a turma, planejar como observará e tomará notas enquanto aos alunos trabalham em grupo e, inclusive, deixar espaço para imprevistos, adaptações, fazer diferente e por que não: adiar respostas, ser sincero e dizer “ótima pergunta, nunca pensei sobre isso, vamos pesquisar juntos?”.

Em uma sociedade repleta de desafios, ser professor requer ser uma pessoa aberta a reinventar-se com os colegas e com os estudantes. Isso precisa ser visto pelos profissionais da escolas e pelas famílias como algo maravilhoso e muito mais interessante do que simplesmente ter todas as respostas. Afinal, a busca por informações tem sido cada vez mais aperfeiçoada com a inteligência artificial. O que realmente precisamos é de professores que apoiem os estudantes a formularem boas perguntas, organizar os resultados e somar suas reflexões, suas análises para resolverem, juntos, problemas complexos.

Nesse sentido, os professores são imprescindíveis! São eles os profissionais que estudaram como crianças e jovens aprendem, como despertar a curiosidade para um tema, disparar uma boa discussão e selecionar um bom livro para aprofundar a aprendizagem. Professores estudam todos os dias, a cada aula, a cada encontro de planejamento com os colegas e coordenadores pedagógicos, em congressos, novos cursos e leituras. Professores transformam!

Alcielle é diretora de educação do Instituto iungo, organização sem fins lucrativos que tem o propósito de transformar, com os professores, a educação no Brasil. É doutora em Psicologia da Educação e mestre em Educação: Formação de Formadores.

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Alcielle é diretora de educação do Instituto iungo, organização sem fins lucrativos que tem o propósito de transformar, com os professores, a educação no Brasil. É doutora em Psicologia da Educação e mestre em Educação: Formação de Formadores

A opinião deste artigo é do articulista e não reflete, necessariamente, a posição da Itatiaia.

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