Pesquisa é um retrato de um momento, mas podemos comparar diversos retratos e, como em uma animação, sobrepor um sobre o outro e transformar em um filme.
Ao final do terceiro mês de mandato, já perto da data simbólica dos 100 dias, tem sido uma constante a realização de pesquisas de avaliação de desempenho de presidentes. Esta semana o IPEC (antigo IBOPE) publicou os resultados do levantamento feito para avaliar o início do Governo Lula.
Pelo IPEC o Governo Lula é avaliado como ótimo ou bom, a chamada avaliação positiva, por 41% dos entrevistados, a avaliação regular perfaz 30% e o ruim e péssimo somados (avaliação negativa) é de 17%.
Em uma primeira análise pode parecer que Lula perdeu popularidade entre o fim das eleições e o início do seu governo. Essa falsa impressão se dá ao se comparar a avaliação positiva , 41% com a votação do próprio Lula ao final do segundo turno, 50,9% e constatar que Lula perdeu cerca de 10 pontos percentuais.
Quanto a esta comparação dois pontos se fazem necessários: por mais que avaliação de governo seja um ótimo preditor de voto, ou seja, se o eleitor gosta de um governo é altíssima a chance do eleitor votar pela continuidade deste governo, elas não são as mesmas coisas. Ademais é necessário contabilizar os números dentro da realidade de cada um. A pesquisa IPEC representa o conjunto de Brasileiros maior que 16 anos. Já o resultado da eleição considera apenas os votos válidos. Em um conta rápida o Brasil tem 156 milhões de eleitores, Lula então com seus 60.345.999 teve então 38,6% sobre o total (incluindo abstenção, brancos e nulos). E Bolsonaro obteve 37,3% do total.
Com estes números em mãos a avaliação de 17% de ruim e péssimo indica que parte dos que votaram em Bolsonaro, mesmo em uma eleição tão polarizada, não se comportam como críticos contundentes do Governo Lula.
Agora mais do que comparar com o resultado das eleições a pesquisa nos permite comparar o desempenho de Lula com o de outros Presidentes à mesma época. Lula tem um desempenho de avaliação positiva no início de mandato pior do que ele mesmo obteve em 2003 (51%) e também pior que no início do segundo mandato (49%), lembrando que teve agora 41%. Contudo esse número é igual ao que obteve Fernando Henrique em 1995 (41%) e maior do que o obtido por Bolsonaro, 34%.
Para este filme fazer mais sentido é necessário um enredo que começa a ser construído agora com as ações de governo e ao final, se teremos um final feliz, vai depender de como cada um de nós se verá e verá aos outros ao término deste mandato.
