Ficamos todos atônitos. A Pátria perde, por deslize de terra, de técnica, de afeto uma de suas filhas. Falamos de Juliana Marins. Brasileira morta na trilha do Monte Rinjani na Indonésia. Estivemos todos, do lado de cá, pensando, à luz do que já vimos acontecer em tragédias como o crime da Vale, em Brumadinho, ou as inundações no Rio Grande do Sul, ou nos deslizamentos em Petrópolis, que se fosse aqui no Brasil, com nossos bombeiros, com nossa empatia, o final talvez não tivesse sido assim...
Toda solidariedade à sua família. A dor de perder uma jovem soterra sonhos....Não lhes falte a esperança! Deus dê à Juliana o descanso e brilhe para ela a Sua luz!
O objetivo de nosso texto não é o de caçar “culpados” ou o de tecer juízos de valor acerca o que poderia e deveria ter sido feito neste caso. A questão aqui é refletir sobre a força dos sentimentos.
Somos, enquanto brasileiros, um povo, notadamente, de afetos. Como dizia Sérgio Buarque, o Brasil é o país do “homem cordial”. Há na cultura brasileira mania de disfarçar o inaceitável com o “afeto”. Confundimos o público com o privado. Gostamos de levar vantagem em tudo. Para tudo tem um jeitinho. Todavia, é preciso pensar, também, em que medida nossos afetos nos fazem ser um povo empático, criativo e potente!
Nestes tempos de “inteligência artificial” crescendo no mesmo ritmo da “burrice natural”, vale a pena pensar que há uma lucidez, uma potência e muita inteligência nos afetos. Chama a atenção como em casos de tragédia se revela algo de belo na alma do brasileiro. Temos uma enorme habilidade em fazer todo o possível, ainda que custe, para que o outro fique bem. Situações de calamidade ou da pandemia mostram o quanto nossas (nossos) profissionais como enfermeiras, médicas e médicos, bombeiros, em momentos extremos, conseguem intuir, unido empatia e técnica, as melhores soluções para salvar vidas.
Há uma grande jazida de afeto no povo Brasileiro. Não temos só minerais raros, fauna e flora únicas, temos também muito sentimento. E como nos lembra a mineiríssima (brasileiríssima) Adélia Prado: “a coisa mais fina do mundo é o sentimento”.
Costumamos pensar que o contrário do amor é o ódio. Não. O ódio é sempre um amor avesso, não declarado, disfarçado. O contrário do amor é a desidratação dos sentimentos, é indiferença... Em tempos como os nossos, há grande risco de que a gente perca “capacidade cognitiva”, isso não só por causa dos algoritmos, mas em decorrência do aumento da indiferença.
Deus nos dê lucidez diante do fato de que: sentimentos, afetos importam... Há potência, inclusive criativa, quando a gente se importa com quem falha, desliza, sofre. Nas Escrituras, um dos mais emblemáticos ensinamentos do Mestre Jesus está na Parábola do Samaritano (Lc 10). Nessa história, o nazareno demonstra que pressa, pragmatismo, indiferença, auto referencialidade impedem de enxergar o outro! O samaritano, se deixa afetar ao ver um judeu (ou seja, alguém de etnia inimiga da sua!) ferida pelo caminho. O samaritano investe tempo e recursos, dá vazão criativa à inteligência emocional, se implica e, com isso, salva da morte o que estava caído...
Estamos numa era de afetos artificiais, de uma cultura do espetáculo, com tecnologia e drones, mas, por vezes, anestesiados. Faz bem pensar que, sobretudo como brasileiros, vocacionados ao sentimento: empatia, ver o mundo sob a perspectiva do outro, a habilidade de empenhar recursos para arrancar quem se encontra no abismo é a maior e mais bela forma de empoderamento!