Ouvindo...

Fabiana de Lemos | Qual a pior dor? Parto, pedra nos rins, herpes zoster, fraturas?

Herpes zoster é provocado pelo vírus da catapora, que fica adormecido e reativa-se em um nervo do corpo quando a imunidade está comprometida

Lesão causada pelo herpes zoster

Só quem vivenciou, ou conhece alguém que teve herpes zoster, sabe a intensidade da dor. “Nossa, é pior que a dor do parto”, “prefiro crise de rim”, costumam dizer em consultório. Cerca de 30% das pessoas terão herpes zoster na vida. A situação piora com o decorrer da vida. Um a cada três adultos, que chegam aos 80 anos, conhecerá essa dor. Os dados são da Sociedade Brasileira de Dermatologia.

A boa notícia é que existe vacina contra essa doença. A parte ruim é que o imunizante é bastante caro. São necessárias duas doses, com intervalo de dois meses entre elas. Atualmente, gasta-se, no total, cerca de R$ 1.600.

A vacina mais eficaz está no mercado brasileiro, desde 2022, e é capaz de evitar a ocorrência de herpes zoster em mais de 80% dos casos.

Mas afinal, o que é herpes zoster?

Apesar do nome herpes, essa doença nada tem a ver com aquela ferida que, normalmente, dá nos lábios ou em vagina e pênis. São vírus diferentes. O herpes zoster é provocado pelo vírus da catapora, que fica adormecido e reativa-se em um nervo do corpo quando a imunidade está comprometida.

É uma doença de pele e nervos, bastante dolorosa. As lesões são unilaterais, raramente ultrapassam a outra metade do corpo e seguem o trajeto de um nervo. As regiões mais frequentemente acometidas são: tronco (53%) e pescoço (20%). Quanto afetam a face, próximo ao nariz e aos olhos, pode ser necessária internação hospitalar para evitar-se meningite e cegueira.

As lesões de pele demoram dois a quatro dias para surgir como pequenas bolhas por cima de uma pele avermelhada. Antes de seu aparecimento, pode haver coceira, fisgadas, ardência, sensação de estar pinicando, queimação ou dor tipo choque no local. Esses sintomas devem servir de alerta ao paciente, pois, quanto antes iniciamos o tratamento, menos intenso é o quadro. Pode ocorrer febre, dor de cabeça e mal-estar. O desparecimento das lesões demora cerca em quatro semanas.

O maior temor de quem apresenta herpes zoster é permanecer com a dor por meses a anos. Isso é possível e recebe o nome de Neuralgia Pós Herpética.

O tratamento deve ser precoce

Identificar um caso de herpes zoster, rapidamente, é fundamental para começar o uso de antivirais. O tratamento é mais eficaz quando iniciado nas primeiras 72 horas. Atualmente, temos o Aciclovir para uso cinco vezes ao dia e os Vlaciclovir e Fanciclovir, três vezes ao dia, com duração de sete dias. É um tratamento intenso e caro. Podem ser necessários 70 comprimidos para completar o ciclo. Chega a custar R$ 500, a depender do remédio escolhido. Isso faz pensar que a opção pelo gasto com a vacina pode ser mais vantajosa.

Os objetivos do tratamento são limitar a extensão da lesão, a duração e gravidade da doença na sua fase aguda, além de tentar evitar a neuralgia pós herpética.

Já a dor arrastada é tratada com outras classes de medicamentos – ansiolíticos, antidepressivos e remédios para dor de nervos (neuropática).

Favor lembrar que as medicações devem ser indicadas por algum médico.

Vacina no Brasil

O imunizante preferido, atualmente, é o Shingrix, que chegou ao Brasil em 2022. Ele consegue reduzir a duração e a intensidade da dor, previne a dor pós-herpética.

Segundo a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIM), a vacina tem uma eficácia superior a 80% , em pessoas com mais de 50 anos. Para adultos entre 18 e 49 anos, é indicada para quem tem risco aumentado de desenvolver herpes zoster, ou seja, portadores de cânceres, usuários de antiretrovirais e imunossupressores e quem já teve a lesão. Para esses últimos, sugere aguardar seis meses após a resolução do quadro.

Alguns pacientes relatam incômodos após vacinar-se, como dor de cabeça, náusea, vômito, diarreia, dor abdominal, muscular e nas articulações, fadiga, febre, calafrios ou mal estar. Além disso, podem surgir dor, vermelhidão, inchaço, hematoma, endurecimento no local da injeção. Não se deve tomar se: gestação, amamentação, alergia aos componentes, febre, redução do número de plaquetas, problemas de coagulação conhecidos e menores de 18 anos. Havia no Brasil uma outra vacina contra herpes zoster (Zostavax), que já está sendo descontinuada.

O imunizante poderá estar disponível no SUS, em 2026

O Ministério da Saúde já anunciou o desejo de incorporar, gratuitamente, a vacina no quadro nacional. Já estão sendo realizadas avaliações de eficácia, segurança e custo-efetividade, além de impactos financeiros. Se a incorporação for aprovada pelo setor, o processo incluirá uma fase de consulta pública. Tomara que esse processo tenha sucesso.

** Obs.: texto em homenagem às pacientes M.D.LG e F.D.A.V (que vivenciaram zoster, em agosto) e à ouvinte Lisieux Andrade Cerceau (que sugeriu o tema)

https://sbim.org.br/calendario-de-vacinacao/adultos-21-a-59-anos

Leia também

Fabiana de Lemos é jornalista e médica. Membro da Sociedade Brasileira de Clínica Médica. Trabalhou no Caderno Gerais do Jornal Estado de Minas, de 1997 a 2003. Foi concursada da Prefeitura de Belo Horizonte e atuou como médica no SUS, de 2012 a 2018. Foi professora de Medicina pelo UniBH, até 2023. Atualmente, atende em consultório.

A opinião deste artigo é do articulista e não reflete, necessariamente, a posição da Itatiaia.