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Dia da Amazônia: por que ela é tão importante para nós?

Não é exagero dizer: sem a Amazônia, a vida no Brasil — e no mundo — seria outra

Diariamente, a vegetação amazônica libera cerca de 20 bilhões de toneladas de vapor d’água

Você já se perguntou o que a Amazônia tem a ver com a sua vida? À primeira vista, dependendo de onde você vive e dos seus interesses, pode pensar que a Amazônia é “apenas” uma floresta gigantesca e distante. Mas, se olharmos com atenção, veremos que ela está presente no alimento que chega à nossa mesa, no equilíbrio do clima nas nossas cidades, na qualidade da água que bebemos e no ar que respiramos. Quer um exemplo? Diariamente, a vegetação amazônica libera cerca de 20 bilhões de toneladas de vapor d’água, formando nuvens que podem se “reciclar” entre cinco e seis vezes antes de seguir para outras regiões do Brasil. No Centro‑Oeste e Sudeste do nosso país, essas nuvens serão responsáveis por pelo menos 25% das chuvas que abastecem reservatórios e irrigam lavouras, entre tantas outras funções essenciais.*

Portanto, não é exagero dizer: sem a Amazônia, a vida no Brasil — e no mundo — seria outra. Mas o que muitas vezes passa despercebido diante da grandiosa biodiversidade e importância ambiental amazônica é a complexidade que a envolve. Uma complexidade que abrange diferentes povos e diversas formas de viver e ocupar o espaço, manifestar culturas, construir conhecimento e desenvolver arranjos econômicos.

Em novembro de 2025, o Pará receberá a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30) em Belém. Será um momento de grande significado para o planeta, com expectativa de reunir mais de 40 mil participantes — pessoas de diversos países, com visões de mundo diferentes entre si. E, é claro, de grande significado para o Brasil, para a Amazônia e para quem vive aqui. Todos vão se encontrar, num território amazônico, para debater questões urgentes e transformações que precisam ser duradouras.

E onde tem gente querendo promover mudança, precisa ter educação. Nas escolas, aprendemos a pensar que a floresta deve ser protegida como um patrimônio natural. Essa visão é insuficiente e fragmentada. Sem uma perspectiva integral, continuaremos reagindo apenas às consequências — secas, enchentes, crises de abastecimento — sem enfrentar as causas que estão na raiz do problema.

A educação ganha centralidade na articulação de soluções quando alunos, professores e toda a comunidade escolar constroem conhecimentos e adotam atitudes para transformar suas realidades. O programa Itinerários Amazônicos, realizado em parceria por sete redes públicas estaduais de ensino, pelo Instituto iungo, Instituto Reúna e rede Uma Concertação pela Amazônia, tem mostrado exatamente isso. Quando integramos ciência, cultura e saberes locais em materiais pedagógicos e formação de professores, é possível reconhecer que a Amazônia não se limita a um bioma distante. Compreender a Amazônia é o primeiro passo para cuidar dela e, assim, cuidar de nós mesmos. A educação é uma ponte essencial para tornar isso possível.

Neste Dia da Amazônia, o convite é mais do que à celebração: é à reflexão. De que forma a Amazônia já está presente em sua vida, mesmo sem você perceber? O que cada um de nós pode fazer para fortalecer essa conexão? A mudança depende, sim, de tratados internacionais, ações de governos e empresas, mas ela também acontece em escolhas do nosso dia a dia, que passam pelo conhecimento, pela valorização da diversidade e pelo respeito ao que nos sustenta.

As decisões e os aprendizados do presente são uma responsabilidade que compartilhamos para construir o futuro que desejamos.

*Zogahib, André & Simas, Danielle & Filho, Antônio & Norte, Naira & Sales, Ricardo & Lima, Jonathas & Braga, Mauro. (2024). Mudanças climáticas e seus impactos nas cidades: estudo de caso do fenômeno da seca no Estado do Amazonas, Brasil. Research, Society and Development. 13. e9913946940. 10.33448/rsd-v13i9.46940.

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Paulo Emílio Andrade é presidente do Instituto iungo, organização sem fins lucrativos que tem o propósito de transformar, com os professores, a educação no Brasil. É mestre e doutor em educação, pesquisador do Núcleo de Novas Arquiteturas Pedagógicas da USP e professor da PUC Minas.

A opinião deste artigo é do articulista e não reflete, necessariamente, a posição da Itatiaia.