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Ciro Dias Reis | Alemanha celebra 35 anos de reunificação preocupada com o futuro

O 3 de outubro de 1990 marcou a data em que deixaram de existir oficialmente os lados “Ocidental” (apoiado por Estados Unidos e aliados europeus) e “Oriental”

Em dia de celebração da reunificação da Alemanha, chanceler Friedrich Merz fez um apelo à nação por união em meio a mudanças na ordem econômica mundial e à ascensão de autocracias

A Alemanha celebra nesta sexta-feira, 3 de outubro, 35 anos de reunificação na condição de terceira maior economia do mundo. E exibe um PIB de US$ 4,7 trilhões que é 120% superior ao brasileiro.

O 3 de outubro de 1990 marcou a data em que deixaram de existir oficialmente os lados “Ocidental” (apoiado por Estados Unidos e aliados europeus) e “Oriental” (conectado à então União Soviética), e que os dois territórios se tornaram um só país. Isso ocorreu quase um ano após a emblemática queda do Muro de Berlim, em 9 de novembro de 1989, que dividiu a cidade por 28 anos.

As mais do que justificadas comemorações deste ano convivem com uma série de desafios que seus governantes, empresários e trabalhadores enxerga com clareza. A começar pela própria sensação de pertencimento e equidade de seus 83,5 milhões de habitantes.

Apesar dos esforços políticos de três décadas e meia, a Alemanha ainda não apagou totalmente as marcas de tantos anos de divisão. É o que aponta pesquisa recente do instituto de marketing Forsa, segundo o qual apenas 35% dos entrevistados afirmam que Leste e Oeste “cresceram em grande parte juntos”. As diferentes percepções dos entrevistados parecem confirmar a divisão: no Leste, apenas 23% acreditam que os alemães se tornaram um só povo desde 1990, em comparação com 37% no Oeste.

Apesar de ter ultrapassado o Japão em 2024 para subir ao podium das maiores economias do planeta, depois de Estados Unidos e China, a economia alemã está passando por um significativo processo de autoquestionamento e desaceleração. De 2010 a 2019 a economia cresceu uma média anual de 1,7%. De 2019 a 2023 o avanço perdeu força: alta de apenas 0,1% por ano, com a economia registrando queda de 0,2% em 2024. Segundo os cinco institutos de economia e pesquisa mais importantes da Alemanha, pode haver crescimento de 0,2% em 2025; de 1,3% em 2026; e de 1,4% em 2027.

Isso vai depender de diferentes variáveis: desde a sensível questão geopolítica europeia até a confiança do mundo dos negócios na nação que já foi chamada “Locomotiva da Europa”.

Fato novo que ajuda a garantir alguma dose de otimismo é o recém-lançado programa “Made in Germany”, que uniu 60 das maiores empresas da Alemanha (entre as quais Volkswagen, BMW, Mercedes-Benz, Siemens, SAP e Deustche Bank) para ampliar o diálogo do mundo corporativo com o governo e garantir um novo salto. Mais do que palavras, no entanto, aquelas 60 empresas se comprometem a investir até 2028 a respeitável quantia de 631 bilhões de euros (aproximadamente US$ 750 bilhões) em pesquisa & desenvolvimento, inovação e sistemas produtivos.

Por enquanto, a realidade é que os salários reais estão sendo afetados em grande medida devido a disparada dos custos de energia a partir de 2022. Trata-se de resultado do boicote ocidental a Moscou em um contexto de enorme dependência da Alemanha em relação a petróleo e gás da russos (obrigado a comprar energia mais cara em outros mercados, o país viu sua inflação subir).

Cálculos da Federação das Indústrias Alemãs (BDI, em alemão) sugerem que um quinto da criação de valor industrial da Alemanha pode estar em risco a médio prazo se guinadas como a pretendida pelo “Made in Germany” não forem rapidamente implementadas. Mais: a entidade diz que se a tendência de estagnação persistir, o atual alto padrão de vida no país poderá ser fortemente comprometido, especialmente devido ao aumento dos custos com saúde e previdência.

Sem crescimento econômico adicional as contribuições dos funcionários para o sistema de previdência complementar precisariam aumentar em quase quatro pontos percentuais – patamar, para os padrões alemães, quase alarmante. Além disso, seriam necessários maiores subsídios federais para as aposentadorias, sendo que essa rubrica já representa mais de 21% do orçamento total e é o maior item individual de despesa do governo.

Investir para crescer, portanto, é inescapável para a Alemanha se quiser manter-se numa posição ainda considerada privilegiada no cenário europeu: tem as contas equilibradas e uma economia diversificada; caminha (embora agora mais lentamente) para a transição energética em direção a soluções renováveis e continua garantindo a seus cidadãos uma rede de amparo social consistente.

O seguro-desemprego, por exemplo, equivale a 60% do último salário líquido recebido, podendo chegar a 67% no caso da pessoa ter filhos. A duração do benefício, teoricamente, é de 12 meses. Mas dependendo de determinadas condições, como por exemplo o fator idade, o prazo pode ser prorrogado.

Ciro é atualmente board member da International Communications Consultancy Organization (ICCO) sediada em Londres; membro do Copenhaguen Institute for Futures Studies, na Dinamarca; membro do Crisis Communications Think Tank da Universidade da Georgia (EUA). Atua ainda como coordenador do PROI Latam Squad, grupo de agências de comunicação presente em sete países da América Latina.

A opinião deste artigo é do articulista e não reflete, necessariamente, a posição da Itatiaia.