A Alemanha celebra nesta sexta-feira, 3 de outubro, 35 anos de reunificação na condição de terceira maior economia do mundo. E exibe um PIB de US$ 4,7 trilhões que é 120% superior ao brasileiro.
O 3 de outubro de 1990 marcou a data em que deixaram de existir oficialmente os lados “Ocidental” (apoiado por Estados Unidos e aliados europeus) e “Oriental” (conectado à então União Soviética), e que os dois territórios se tornaram um só país. Isso ocorreu quase um ano após a emblemática queda do Muro de Berlim, em 9 de novembro de 1989, que dividiu a cidade por 28 anos.
As mais do que justificadas comemorações deste ano convivem com uma série de desafios que seus governantes, empresários e trabalhadores enxerga com clareza. A começar pela própria sensação de pertencimento e equidade de seus 83,5 milhões de habitantes.
Apesar dos esforços políticos de três décadas e meia, a Alemanha ainda não apagou totalmente as marcas de tantos anos de divisão. É o que aponta pesquisa recente do instituto de marketing Forsa, segundo o qual apenas 35% dos entrevistados afirmam que Leste e Oeste “cresceram em grande parte juntos”. As diferentes percepções dos entrevistados parecem confirmar a divisão: no Leste, apenas 23% acreditam que os alemães se tornaram um só povo desde 1990, em comparação com 37% no Oeste.
Apesar de ter ultrapassado o Japão em 2024 para subir ao podium das maiores economias do planeta, depois de Estados Unidos e China, a economia alemã está passando por um significativo processo de autoquestionamento e desaceleração. De 2010 a 2019 a economia cresceu uma média anual de 1,7%. De 2019 a 2023 o avanço perdeu força: alta de apenas 0,1% por ano, com a economia registrando queda de 0,2% em 2024. Segundo os cinco institutos de economia e pesquisa mais importantes da Alemanha, pode haver crescimento de 0,2% em 2025; de 1,3% em 2026; e de 1,4% em 2027.
Isso vai depender de diferentes variáveis: desde a sensível questão geopolítica europeia até a confiança do mundo dos negócios na nação que já foi chamada “Locomotiva da Europa”.
Fato novo que ajuda a garantir alguma dose de otimismo é o recém-lançado programa “Made in Germany”, que uniu 60 das maiores empresas da Alemanha (entre as quais Volkswagen, BMW, Mercedes-Benz, Siemens, SAP e Deustche Bank) para ampliar o diálogo do mundo corporativo com o governo e garantir um novo salto. Mais do que palavras, no entanto, aquelas 60 empresas se comprometem a investir até 2028 a respeitável quantia de 631 bilhões de euros (aproximadamente US$ 750 bilhões) em pesquisa & desenvolvimento, inovação e sistemas produtivos.
Por enquanto, a realidade é que os salários reais estão sendo afetados em grande medida devido a disparada dos custos de energia a partir de 2022. Trata-se de resultado do boicote ocidental a Moscou em um contexto de enorme dependência da Alemanha em relação a petróleo e gás da russos (obrigado a comprar energia mais cara em outros mercados, o país viu sua inflação subir).
Cálculos da Federação das Indústrias Alemãs (BDI, em alemão) sugerem que um quinto da criação de valor industrial da Alemanha pode estar em risco a médio prazo se guinadas como a pretendida pelo “Made in Germany” não forem rapidamente implementadas. Mais: a entidade diz que se a tendência de estagnação persistir, o atual alto padrão de vida no país poderá ser fortemente comprometido, especialmente devido ao aumento dos custos com saúde e previdência.
Sem crescimento econômico adicional as contribuições dos funcionários para o sistema de previdência complementar precisariam aumentar em quase quatro pontos percentuais – patamar, para os padrões alemães, quase alarmante. Além disso, seriam necessários maiores subsídios federais para as aposentadorias, sendo que essa rubrica já representa mais de 21% do orçamento total e é o maior item individual de despesa do governo.
Investir para crescer, portanto, é inescapável para a Alemanha se quiser manter-se numa posição ainda considerada privilegiada no cenário europeu: tem as contas equilibradas e uma economia diversificada; caminha (embora agora mais lentamente) para a transição energética em direção a soluções renováveis e continua garantindo a seus cidadãos uma rede de amparo social consistente.
O seguro-desemprego, por exemplo, equivale a 60% do último salário líquido recebido, podendo chegar a 67% no caso da pessoa ter filhos. A duração do benefício, teoricamente, é de 12 meses. Mas dependendo de determinadas condições, como por exemplo o fator idade, o prazo pode ser prorrogado.