O que é maior, o Lulismo ou bolsonarismo?

Como os dados da pesquisa Datafolha sobre a polarização no país explicam o contexto em que, neste Natal, duas narrativas que estarão presentes na sucessão presidencial se confrontam

Lula X Bolsonaro: quem venceu em Belo Horizonte?

O que as mensagens políticas do presidente Lula (PT) e da família Bolsonaro neste Natal estão nos informando sobre as narrativas eleitorais da sucessão presidencial em 2026?

Dois campos políticos se manifestam neste Natal e o teor dos discursos é a prévia do que virá na corrida presidencial. De um lado, Lula fez o tradicional pronunciamento à nação. De outro, Michelle Bolsonaro deixou o seu recado no mesmo horário em que falou Lula. O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) também escreveu uma carta para ser lida durante a sua cirurgia. Ambos focam em manter mobilizada as respectivas bases eleitorais, também dando-lhes argumentos para fazer a defesa de suas posições.

Mas, qual seria o tamanho do lulismo e do bolsonarismo no Brasil? Dependendo da forma como se mensura, o tamanho desses grupos se altera um pouco. A mais recente pesquisa Datafolha aponta para 40% de eleitores no Brasil inclinados a Lula e ao PT. Ao mesmo tempo, 34% se declaram inclinados ao bolsonarismo. Portanto, os dois grupos somam 74% do eleitorado, o que dificulta a vida do centro político. Ao centro, estão 24% do eleitorado que se dizem neutros ou que não apoiam nem Lula nem Bolsonaro.

Vocês podem me perguntar, o tamanho do lulismo e do bolsonarismo corresponde ao tamanho dos grupos que se dizem de direita e de esquerda no Brasil? Este é um ponto muito curioso. Quando se pergunta aos eleitores a sua posição no espectro da esquerda à direita, 35% se dizem de direita. Temos aí uma correspondência entre eleitores que se inclinam a Bolsonaro e eleitores que se declaram de direita.

Mas, o mesmo não se pode dizer em relação ao lulismo e à esquerda. O lulismo é, segundo a pesquisa Datafolha, maior do que o grupo de eleitores que se declaram de esquerda. Enquanto 22% se posicionam à esquerda; 40% se inclinam ao lulismo. Esse dado nos mostra que Lula é maior do que a esquerda, ao mesmo tempo em que a esquerda, depende de Lula e hoje, não teria nome alternativo para substitui-lo.

As mensagens natalinas dos dois grupos políticos dizem muito sobre o que virá na campanha presidencial em 2026. Lula fez um balanço da sua gestão. Apontou para conquistas sociais, econômicas e no campo da segurança pública. O presidente afirmou que o país saiu do mapa da fome, tem a menor taxa de desemprego da série histórica, a maior massa salarial, vai implantar a partir do ano novo a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. Lula também defendeu a escala de trabalho 6 por 1.

Ao mesmo tempo, o presidente mencionou obras em curso pelo país e destacou o combate ao crime organizado com foco, sobretudo em sua infiltração nas elites empresariais brasileiras. Por fim, Lula também fez menção à soberania do país, com o que chamou de vitória em reverter o tarifaço de Donald Trump.

O discurso de Michelle Bolsonaro é uma prévia da carta de Jair Bolsonaro, que será lida durante a cirurgia. Com um forte viés religioso e moral, Michelle explorou a narrativa de que Bolsonaro estaria sendo vítima de perseguição política, destacou a ideia de provações, de maldades e injustiças que a sua família estaria sofrendo. Ela não fez qualquer menção à tentativa de golpe de estado pela qual foi condenado Jair Bolsonaro.

Os dois discursos – de Lula e de Michelle – apontam para a clássica contraposição narrativa quando temos uma campanha à reeleição: o governante vai mostrar os seus feitos e dizer que o copo está cheio; e o desafiante, vai tentar mostrar que o copo está vazio, e, neste caso específico, insistir na ideia da injustiça, que nega crimes contra o estado democrático no Brasil. O que estamos vendo neste Natal, veremos muito ao longo de 2026.

Leia também

Jornalista, doutora em Ciência Política e pesquisadora

A opinião deste artigo é do articulista e não reflete, necessariamente, a posição da Itatiaia.

Ouvindo...