Enquanto o mundo acompanha, com justificada atenção, os horrores humanitários causados pelos conflitos em curso na Faixa de Gaza e na Ucrânia, um outro tipo de devastação avança de forma silenciosa: a destruição ambiental. Em 2025, relatórios de organismos internacionais como o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e estudos científicos independentes vêm revelando que os danos ao meio ambiente, embora menos visíveis, são tão profundos e duradouros quanto os sofrimentos humanos causados pela guerra.
Na Faixa de Gaza, o impacto ambiental da campanha militar é alarmante. Estima-se que os bombardeios tenham gerado mais de 39 milhões de toneladas de entulho que contêm não apenas restos de concreto e metal, mas também substâncias altamente tóxicas, como amianto, metais pesados e explosivos não detonados, que oferecem risco à saúde humana e aos ecossistemas por décadas.
As estações de tratamento de esgoto da região foram gravemente danificadas, resultando no despejo de mais de 60 mil metros cúbicos de esgoto bruto por dia no mar e no lençol freático. A escassez de água potável, que já era uma realidade antes do conflito, agravou-se drasticamente: a população local sobrevive com menos da metade do mínimo diário recomendado pela Organização Mundial da Saúde.
Além disso, as áreas agrícolas de Gaza enfrentam um cenário de colapso. Até 2024, mais da metade das terras cultiváveis havia sido danificada ou tornada inacessível. A destruição da frota pesqueira e a contaminação da costa mediterrânea afetaram diretamente a segurança alimentar da população. A perda de áreas verdes, incluindo oliveiras centenárias, contribui para a desertificação e enfraquece os ecossistemas locais.
Já na Ucrânia, os impactos ambientais são igualmente devastadores. A destruição da barragem de Kakhovka, em junho de 2023, liberou dezenas de milhares de toneladas de sedimentos contaminados com metais pesados — como arsênio, zinco e níquel — que se espalharam pelo rio Dnieper até o mar Negro. Mais de 55 mil hectares de florestas foram alagados, comprometendo a biodiversidade e a fertilidade dos solos.
Ademais, a queima de instalações industriais e de infraestrutura energética lançou centenas de milhares de toneladas de poluentes na atmosfera e nos recursos hídricos. Estima-se que mais de 2,4 milhões de hectares de florestas foram afetados, com consequências graves para a fauna e a flora nativas. A contaminação por substâncias tóxicas, incluindo resíduos petroquímicos e explosivos, tornou extensas áreas inabitáveis e improdutivas.
Em ambos os conflitos, o direito internacional prevê instrumentos de proteção ambiental em tempos de guerra, como o Protocolo I das Convenções de Genebra e a Convenção da Haia de 1954. No entanto, a aplicação prática desses mecanismos esbarra em obstáculos políticos, operacionais e periciais. A responsabilização por danos ambientais depende de documentação rigorosa, laudos técnicos e vontade política para implementar processos de reparação, inclusive nos tribunais internacionais.
Frente à magnitude dos impactos, torna-se urgente inserir a questão ambiental no centro dos debates sobre reconstrução pós-conflito. A remediação de solos, a restauração de recursos hídricos e a reabilitação de áreas florestais exigem planejamento de longo prazo e cooperação internacional. Mais do que um detalhe colateral, o meio ambiente é vítima direta das guerras contemporâneas — e sua recuperação é condição indispensável para qualquer projeto duradouro de paz e reconstrução.