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Salvaguardar o ser humano

A sociedade precisa dialogar sobre como está construindo o futuro, mas faltam análises profundas sobre as raízes humanas da crise ambiental

Apelos para salvaguardar o meio ambiente ecoam fortemente no mundo atual, quando são celebrados os dez anos da Laudato Si’, Carta Encíclica do Papa Francisco que chama a atenção para a urgência de cuidar das feridas causadas pelo tratamento inadequado do planeta. O mundo adoece com um estilo de vida que alimenta o consumo desmedido, o desperdício e o extrativismo predatório. Quando o planeta adoece, a humanidade também se desequilibra. Assim, torna-se sempre mais pertinente compreender que proteger o meio ambiente é proteger o ser humano.

As consequências da degradação ambiental são dramáticas, especialmente para os pobres e excluídos, mas não poupam também aqueles que exploram os recursos naturais em busca de lucro. No fim, todos sofrem. A sociedade precisa dialogar sobre como está construindo o futuro, mas faltam análises profundas sobre as raízes humanas da crise ambiental. Há movimentos por soluções concretas, mas também frustrações diante da indiferença. Um sinal dessa indiferença é o Projeto de Lei 2.159/2021, que flexibiliza o licenciamento ambiental e ameaça enfraquecer os controles essenciais para evitar danos socioambientais.

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A água, as florestas, os povos originários, as comunidades tradicionais e o equilíbrio dos ecossistemas estão ameaçados. A mesma Casa Legislativa que aprovou o “Junho Verde”, Lei para promover a educação socioambiental, agora abre portas para riscos advindos da falta de limites no licenciamento. Essa flexibilização está em desarmonia com a preparação para a COP30, conferência mundial que será sediada no Brasil. É urgente rever atitudes e escolhas para superar a tendência de negar o evidente: o planeta dá sinais de esgotamento. Essa negação contamina até mesmo pessoas de fé, que esquecem seu vínculo com a Criação.

Precisamos ir além da hegemonia dos interesses econômicos e buscar uma nova dinâmica no tratamento ambiental, guiada pela ecologia integral, que conecta aspectos ambientais, econômicos e sociais. A natureza é indissociável da condição humana. A crise social e a crise ambiental são interdependentes. O licenciamento ambiental deve, além das questões técnicas, considerar a ordem social e ser iluminado pelo humanismo, fortalecendo as relações entre as pessoas e o meio ambiente.

A Doutrina Social da Igreja alerta para o erro de o ser humano agir como tirano, e não colaborador de Deus. É preciso uma espiritualidade que reconheça o vínculo humano com a natureza. A preservação do planeta exige ciência, ética e justiça, lembrando que os bens da Terra foram criados para serem sabiamente partilhados. Salvaguardar o meio ambiente é salvaguardar o ser humano – um caminho essencial à construção da paz.

O Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo, presidiu a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e publica semanalmente aos sábados no Portal Itatiaia.

A opinião deste artigo é do articulista e não reflete, necessariamente, a posição da Itatiaia.