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Lua de Saturno é compatível com existência de vida

Fósforo é um dos seis elementos fundamentais para a sustentação da vida, ao lado de carbono, hidrogênio, nitrogênio, oxigênio e enxofre

Lua Encélado tem elemento fundamental para a formação de vida

Desde que cientistas descobriram evidências da existência de fósforo no oceano sob a crosta gelada da lua Encélado, de Saturno, em setembro de 2022, os pesquisadores estão animados com a possibilidade de haver vida por lá. Isso porque o fósforo é um dos seis elementos fundamentais para a sustentação da vida, ao lado de carbono, hidrogênio, nitrogênio, oxigênio e enxofre.

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É o fósforo que fornece estrutura ao DNA ao unir as quatro nucleobases à dupla hélice. Além disso, ele está presente em membranas celulares e ossos, bem como na molécula trifosfato de adenosina, que transporta a energia metabólica pelo organismo.

Um estudo publicado nesta quarta-feira (14) na revista Nature reforça a pesquisa anterior. E mais: revela estimativas de que as concentrações de fósforo em Encélado são pelo menos mil vezes maiores do que as mais abundantes concentrações conhecidas nos oceanos da Terra. Com isso, Encélado satisfaz “o mais rigoroso requisito de habitabilidade”.

Frank Postberg, líder da pesquisa e professor de ciências planetárias da Universidade Livre de Berlim, na Alemanha, diz que os indícios sugerem que a vida pode se formar muito bem por lá. “Não encontramos vida ou mesmo algo que foi criado pela vida”, diz, em entrevista ao Space.com. “É apenas um indicador de habitabilidade, mas muito bom e importante.”

Segundo Christopher Glein, cientista planetário e geoquímico do Instituto de Pesquisa do Sudoeste (SwRI), em San Antonio, no Texas (EUA), destaca que essas descobertas contradizem estudos anteriores, que indicavam que o fósforo seria raro em Encélado. Ele participou da pesquisa divulgada em setembro.

Glein conta que todas as abordagens se baseiam em dados da sonda Cassini, da Nasa. Ela operou até 2017 e detectou gêiseres de água (uma fonte termal que tem erupções periódicas) que pulverizam através das aberturas profundas na superfície gelada da lua — conhecidas como “listras de tigre”.

Os pesquisadores apontam que os jatos d’água de Encélado provavelmente são acionados quando a gravidade de Saturno pressiona a lua, o que aquece seu interior rochoso. A água pressurizada, então, explode no espaço a velocidades de 360 litros por segundo — nesse ritmo, poderia encher uma piscina olímpica em algumas horas.

Grãos de gelo

Partículas dessa substância atingiram os instrumentos da Cassini e, ao aprimorar os resultados da pesquisa divulgada no ano passado, a equipe de Postberg conseguiu, pela primeira vez, detectar fósforo diretamente nesse material. O trabalho examinou medições de mais de 300 grãos de gelo.

Em nove deles havia ortofosfato: a única forma de fósforo que organismos vivos podem absorver e que é usado por eles para o crescimento. “Há fosfatos até em cometas, mas, em Encélado, ele é dissolvido no oceano. Ou seja, está prontamente disponível para a formação potencial de vida.”

A descoberta tem implicações abrangentes. O fósforo é bastante raro em águas naturais, pois reage prontamente com átomos carregados positivamente como o cálcio para formar fosfato de cálcio — isso o torna inútil para formas de vida. “Encélado hospeda quantidades tão altas de fósforo dissolvido porque tem o que chamamos de oceano de refrigeração.”

Esses oceanos são ricos em carbonatos, que contêm dióxido de carbono e se formam facilmente na água. Os carbonatos se ligam a outros elementos, como o cálcio, e deixam o fósforo disponível para uso potencial de vida. “É habitável. É difícil argumentar contra isso. Só não sabemos se é habitado”, diz Postberg sobre Encélado.