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Para salvar espécie de rinoceronte, especialistas querem reproduzi-lo in vitro

Animal está praticamente extinto e procriação depende de esperma congelado e duas fêmeas ainda vivas

Cientistas buscam formas de evitar a extinção do rinoceronte-branco-do-norte

Era 2008 quando o rinoceronte-branco-do-norte foi considerado extinto da natureza pelo Fundo Mundial para a Natureza (World Wide Fund for Nature Inc. – WWf), entidade de preservação ambiental. No ano seguinte, os últimos quatro representantes da espécie (duas fêmeas e dois machos) foram transferidos para a reserva Ol Pejeta, no Quênia. Lá, não se reproduziram.

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Dez anos depois, em março de 2018, Súdan, o último macho, foi sacrificado aos 45 anos em razão de seu estado de saúde. Restaram, então, duas fêmeas: sua filha Najin e sua neta Fatu. Ambas têm dificuldade para procriar. Por isso, cientistas querem usar a técnica in vitro — com material genético armazenado em laboratório — para obter novos animais.

Uma equipe internacional de especialistas coletou, em 2018, mais de 80 ovócitos de fêmeas de rinocerontes-brancos-do-sul em zoológicos europeus. Eles estudam uma forma de completar o procedimento ainda inédito de reprodução assistida de rinocerontes.

Os óvulos foram, então, fecundados in vitro em laboratórios da sociedade italiana Avantea. Alguns receberam esperma congelado de rinoceronte-branco-do-norte e outros, material genético da espécie do sul. Os embriões se desenvolveram até a etapa de blastocisto e foram congelados para uma implantação em rinocerontes-brancos-do-sul fêmeas no futuro.

Cerca de um ano depois, ovócitos foram extraídos das duas últimas fêmeas de rinoceronte-branco-do-norte. Com eles, foram obtidos dois embriões — e o material tem sido mantido em nitrogênio líquido para ser transferido para uma fêmea no futuro. As duas fêmeas vivas de rinoceronte-branco-do-norte, no entanto, nunca conseguiram terminar uma gestação.

Enquanto Najin sofre de uma fragilidade nos membros posteriores, que impossibilita a manutenção de uma gravidez, Fatu apresenta lesões degenerativas no útero. Uma opção seria implantar os embriões em fêmeas de rinocerontes-brancos-do-sul — mas, para isso, é necessário terminar o desenvolvimento da técnica.

Como chegaram à extinção

Os rinocerontes têm poucos predadores na natureza: são animais grandes e com pele espessa. Apesar disso, nos anos 1970 e 1980 foram vítimas de caça ilegal por supostamente terem chifres com virtudes medicinais.

Com isso, o rinoceronte-branco-do-norte foi extinto em Uganda, na República Centro-Africana, no Chade, na República Democrática do Congo e no atual Sudão do Sul. O rinoceronte-branco-do-sul, por sua vez, ainda tem cerca de 20 mil exemplares selvagens no sul da África.

Se os especialistas conseguirem obter novos rinocerontes-brancos-do-norte, pode haver esperança para mais de 42 mil espécies que atualmente estão na lista de ameaçadas de extinção. O mesmo pode valer para mais de 1 milhão de linhagens de plantas e animais que já estão previstos para desaparecer.