Fontes da Itatiaia que trabalharam para a
Segundo um ex-membro do alto escalão da mineradora, que prefere não se identificar, após determinação do Ministério Público de Minas Gerais, em 2019, estudos feitos por uma empresa de engenharia geotécnica especializada chegaram a apontar que era preciso haver obras de reforço da estrutura, para evitar possíveis rompimentos. Na ocasião, os estudos não avançaram por entraves financeiros, causados principalmente por uma briga societária entre os responsáveis pelo empreendimento, o que quase provocou a falência da mineradora. Os sócios são empresários, que hoje concentram seus esforços em outros negócios.
A preocupação naquela época foi expressa em uma reunião no mês de agosto, que envolveu membros do Ministério Público de Minas Gerais, da administração municipal de Brumadinho, e diretores da empresa. Foram cobradas medidas para minimizar os riscos de uma nova tragédia, que poderia ser similar a que tinha ocorrido no município em janeiro daquele ano, com o rompimento da barragem da Vale. Naquele mesmo ano, houve evacuação de moradores no entorno da barragem da Emicon.
Este reforço, chamado de fator de segurança, deveria ter sido feito antes do esvaziamento da água da barragem através de um vertedouro em 2022, que era necessária para desativar a mina e minimizar riscos. Mas o esvaziamento foi feito sem reforço na estrutura, que teria seguido sem medidas preventivas.
“Ela precisava de um reforço para mexer, porque você não pode mexer na barragem sem ter um fator de segurança. Ela pode ter uma liquefação. Por quê? O que é liquefação? É a mesma coisa que aconteceu em Brumadinho. Eles retiraram a água dela ou mexeram nela sem fazer o reforço. Eles fizeram um negócio na ‘tora’”.
Este ponto é negado por outra empresa que presta consultoria à mineradora.
Abandono da barragem e risco de liquefação
A barragem B1-A ficou abandonada até 2019, antes do esvaziamento da estrutura, sem sinais de trabalho de descaracterização. O ex-diretor da empresa afirma que os estudos eram para identificar o material que estava parado há anos ali, e que a base da barragem ainda é uma incógnita.
“Foram feitos estudos para entender que material que tinha ali, para entender qual o tipo de construção que tinha sido feita. O que foi feito ali na base dessa barragem para entender a questão de liquefação ou não, sabe? Eu não sei o resultado final disso, mas até onde eu acompanhei, eu acompanhei de perto. A grande dúvida é o que que tem no material? Foi feito em cima de quê? E foi feito de rejeito. Como foi feito em cima de rejeito, a base dela é de rejeito, ele tem grande chance de mexer e ter liquefação” afirmou.
O ex-diretor ainda afirma que a preocupação é o reflexo que chuvas intensas podem causar na atual estrutura da barragem.
“Quando você diminui o nível d'água, você tem a barragem ali e tem o rejeito. Eles fizeram um dente para essa água escorrer. Então, você diminui o nível d'água e você diminui o risco dela, o potencial dela. Mas quando eles fizeram isso, precisava de um reforço, que eles não fizeram. Isso eu sei que eles não fizeram. Então, qual é o reflexo deles terem mexido na barragem sem ter o reforço? Até que ponto, se chover amanhã, isso pode virar uma liquefação? O que acontece quando você diminui o nível d'água?”
Engenheiro participou dos estudos
Um engenheiro geotécnico, que é ex-funcionário da empresa responsável pelos estudos de prevenção de desastres na empresa em 2019, confirmou que houve indicativos para haver obras de reforço, mas os estudos que poderiam certificar esta necessidade foram interrompidos.
“Tem muita coisa envolvida que eu preciso sentar para te falar com veemência, mas te digo sim, uma das recomendações que provavelmente a gente iria chegar é que a estrutura muito provavelmente vai precisar de reforço. Lembro que a gente solicitou, fez um plano de sondagem bem robusto para que fosse feito as investigações na estrutura para que após as investigações, todas as análises, o que a gente deveria fazer e tudo, até a gente chegar realmente na conclusão. É de fato necessário fazer o reforço, ou não, não é necessário? Mas o que ia nos responder isso seria o resultado das investigações de solo, de sondagem propriamente dita, ensaio laboratorial e assim sucessivamente ", ponderou.
O engenheiro diz que, na época, os motivos da interrupção dos trabalhos não foram apresentados de forma clara aos técnicos envolvidos. Porém, houve notícias que questões societárias foram determinantes. “Depois, por motivos que eu desconheço, já que é questão contratual da empresa e eu era mais da parte técnica, esse projeto foi paralisado. Eu sei que na época tinha algumas questões societárias envolvidas, tinha um que queriam, tinha outros que não queriam”, finalizou.
Engenheiro contesta denúncias
O boletim da Agência Nacional de Mineração que elevou de 1 para 2 o nível de emergência da barragem B1-A afirma que estudos conduzidos por auditores e projetistas indicam que os resultados obtidos não podem ser considerados conclusivos, em virtude de insuficiências nas investigações geotécnicas.
Outro engenheiro ouvido pela Itatiaia, que atua em uma empresa de consultoria ambiental que ainda presta serviços à mineradora, reafirmou que a decisão da ANM é corroborada por falta de dados primários, mas que a condição atual da barragem é estável. Ele diz que a dificuldade de concluir processos de análise para emitir os documentos exigidos pela agência reguladora acontece pela falta de recursos, pois a empresa está em estado falimentar desde 2012, com muitas dívidas.
O consultor ainda afirmou que nunca houve orientação de obras de reforço na barragem. Ele diz que a única recomendação que aconteceu foi em 2022, para abaixar o nível de água da estrutura. A pior situação, segundo o engenheiro, era até 2019, quando a barragem estava cheia de rejeitos, e totalmente abandonada.
“Para você ter uma ideia, quando eu cheguei lá em setembro, em julho de 2019, você não via a barragem, o mato tomou conta. Era abandonada. E mesmo com esse abandono, ela não rompeu, não teve problema, foi nessa hora que nós tiramos as vegetações, limpamos, capinamos o talude, cortamos, tinha até árvore lá no meio. Limpamos o sistema de drenagem e tudo, foi um alívio para ver que a barragem estava intacta” afirmou.
Por fim, o engenheiro diz que o nível de água na parte maciça da barragem está em nível baixo, sem risco de saturação, e que a estrutura está segura. Ele ainda diz que seria capaz de dormir debaixo da barragem.
Oficialmente a barragem de rejeitos B1-A foi desativada em 2014, quando deixou de receber rejeitos. O volume armazenado no local foi de 914,5 mil metros cúbicos. A ANM afirma que não há risco de rompimento da barragem.
A Itatiaia tentou contato com os sócios da empresa, mas não houve retorno.