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Metanol: bares de BH não notam queda no movimento, mas clientes relatam medo

A Itatiaia saiu às ruas de Belo Horizonte e conversou com consumidores e funcionários de bares

Alguns consumidores relaram medo de tomar bebidas destiladas

A crise causada por intoxicações causadas por metanol presente em bebidas falsificadas no estado de São Paulo e casos suspeitos em outros estados brasileiros, tem feito com que consumidores evitem ingerir destilados e alguns estabelecimentos vêm suspendendo a venda dos produtos.

Buscando entender os impactos da crise do metanol nos comércios belo-horizontinos e nos hábitos dos consumidores do estado, a Itatiaia saiu às ruas da capital mineira para entender se algo mudou após o aumento dos casos de contaminação.

Bares não notaram queda no movimento

Ítalo Freire Neiva, garçom no Santê Espeteria, relatou que não houve mudança no consumo de destilados no local. Segundo ele, alguns clientes chegaram a perguntar sobre a situação dessas bebidas no estabelecimento, porém, após explicação, consumiram normalmente.

“A gente não sentiu diminuição nos pedidos de destilados. Mas tem muita coisa que não é confirmada, o pessoal acaba vendo em grupos de WhatsApp e vem falar com a gente. Mas eu sempre tento controlar e informar as pessoas. Como é algo que ainda não aconteceu perto deles, não acreditam e continuam consumindo”, contou o garçom.

Segundo Ítalo, o Santê Espeteria compra seus produtos somente em locais certificados, porém sabe que, se as notícias continuarem, haverá diminuição de consumo em todos os locais. Porém, acredita que não será algo muito significativo.

“É muito difícil as pessoas se sensibilizarem tão rápido e tão forte. No meio da pandemia o pessoal saía. E para bebida, ainda, que faz parte da rotina da maioria dos brasileiros. Quem tem outras fontes, vende espetos, porções, não vai sentir tanto o baque”, ponderou.

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‘É preciso achar meios de mitigar as falsificações’

O funcionário de um bar no Santa Tereza, que preferiu não ser identificado, afirmou não ter notado uma diminuição do movimento. Apenas perguntas dos clientes sobre o assunto.

“A gente preza pela qualidade das bebidas que a gente serve, tudo com nota, tudo certinho. Mas da parte dos clientes está bem velado esse assunto em Belo Horizonte. Acho que em São Paulo esse caso está mais evidente”, apontou ele.

Segundo ele, os próximos dias serão fundamentais para saber se haverá queda no movimento ou não. O homem apontou que é preciso haver uma mudança geral para que o problema de falsificação de bebidas diminua.

“A questão de falsificação de bebidas não é uma questão de agora. A gente sabe que isso acontece. Até vi um vídeo hoje mais cedo, que para a gente mitigar essa questão, por exemplo, é importante fazer o descarte das garrafas originais em lugar apropriado, os bares e funcionários têm que achar meios de mitigar essas falsificações, para quem quer ser muito esperto aí não levar vantagem e não prejudicar os outros”, destacou.

Clientes temem contaminação

Vanessa Seabra, de 41 anos, é carioca e está visitando Belo Horizonte. Ela contou que é consumidora de destilados, porém, não tem bebido por medo de contaminações por metanol.

“Afeta nossa segurança e deve estar afetando o comércio. A gente não vê o que está sendo preparado e confia. Mas agora está difícil. É aguardar as investigações, ver como será esse desfecho e aí voltar a beber. Por enquanto nada”, afirmou ela.

Raul Neves, de 35 anos, é sergipano e também está visitando BH. Segundo ele, como bebe, basicamente, apenas cerveja, está tranquilo. Ele contou que é muito raro beber destilados e que não teria coragem de consumir esse tipo de bebida atualmente.

“Não, hoje não. Já vi que teve casos (suspeitos) na Bahia, em Feira de Santana, Pernambuco e São Paulo agora, então a gente tá naquele eixo do Sudeste, então tenho um receio. Não consumo e também não consumiria. Só cerveja”, apontou Neves.

Abrasel vê suspensão de vendas de bebidas como precipitada

A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) acredita que seja precipitada a decisão de suspensão da venda de bebidas destiladas, adotada por alguns estabelecimentos em Belo Horizonte, após a crise de intoxicações por metanol.

Em nota enviada à Itatiaia, nessa quinta-feira (2), o órgão ressaltou que ainda não há nenhum caso de contaminação comprovada com origem no consumo em bares. Porém, tratou a situação como compreensível, diante do medo inicial.

Na nota, a Abrasel afirmou que os bares e restaurantes seguem funcionando normalmente em todo o Brasil, com movimento estável e sem registro de casos confirmados ligados ao setor.

Segundo a associação, não há justificativa para medidas generalizadas de restrição, que acabam penalizando negócios que atuam de forma correta e transparente.

Questionada pela Itatiaia, a Abrasel informou que ainda não possui um levantamento sobre o número de negócios que estão suspendendo a venda de bebidas.

Leia, na íntegra, as duas notas enviadas pela Abrasel à reportagem da Itatiaia. Veja

Nota 1: “A Abrasel ressalta que ainda não há nenhum caso de contaminação comprovada com origem no consumo em bares, somente um caso suspeito na capital paulista.”

Nota 2: “A Abrasel considera precipitada a decisão de suspensão da venda de bebidas, adotada por alguns estabelecimentos. Embora compreensível diante do medo inicial.

Os bares e restaurantes seguem funcionando normalmente em todo o Brasil, com movimento estável e sem registro de casos confirmados ligados ao setor. A Abrasel reforça que não há justificativa para medidas generalizadas de restrição, que acabam penalizando negócios que atuam de forma correta e transparente.

No momento, ainda não temos um levantamento sobre o número de negócios que estão suspendendo a venda de bebidas.”

Formado em jornalismo pela PUC Minas, foi produtor do Itatiaia Patrulha e hoje é repórter policial e de cidades na Itatiaia. Também passou pelo caderno de política e economia do Jornal Estado de Minas.
Maic Costa é jornalista, formado pela UFOP em 2019 e um filho do interior de Minas Gerais. Atuou em diversos veículos, especialmente nas editorias de cidades e esportes, mas com trabalhos também em política, alimentação, cultura e entretenimento. Agraciado com o Prêmio Amagis de Jornalismo, em 2022. Atualmente é repórter de cidades na Itatiaia.