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Jovem que engravidou menina de 12 anos que morreu no parto é agredido em enterro

A indígena de origem venezuelana Dorca Mata Rattia foi sepultada nesta terça-feira (15) em Betim, na Grande BH

Jovem que engravidou menina de 12 anos que morreu no parto é agredido em enterro

O jovem que engravidou Dorca Mata Rattia, que morreu aos 12 anos após passar por um parto de emergência, foi agredido por familiares dela durante o enterro nesta terça-feira (15).

A despedida foi realizada no Cemitério Parque da Cachoeira, em Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, e reuniu cerca de 70 pessoas da comunidade indígena venezuelana que a vítima fazia parte. Ela vivia em uma ocupação na Grande BH.

Imagens registradas pela reportagem da Itatiaia mostram o momento em que o homem é agredido por uma tia da menina. Outras pessoas intervieram e afastaram a briga.

Menina morreu após parto de emergência

A menina, de 12 anos, faleceu nesse domingo (13) após um parto de emergência no Centro Materno-Infantil, localizado no bairro Espírito Santo. A vítima estava grávida de oito meses e chegou no hospital em estado gravíssimo.

Após dar entrada na unidade de saúde, ela foi encaminhada para o CTI (Centro de Terapia Intensiva) e passou pela cirurgia, mas não resistiu e faleceu.

Procurada pela Itatiaia, a Prefeitura de Betim informou que o recém-nascido sobreviveu e “segue com estado de saúde estável, sob os cuidados da equipe médica na unidade”.

Dorca Mata Rattia era a filha mais velha de uma família com outros quatro irmãos mais novos. De acordo com lideranças comunitárias, o avô paterno do bebê deve ficar responsável pelos cuidados dele.

Quem é o pai do bebê?

Ontem, foi divulgado que o rapaz que engravidou Dorca teria 22 anos. No entanto, um membro da comunidade explicou que ele te 16 anos.

Questionada sobre a diferença, a família relatou ser comum, entre indígenas que migram da Venezuela para o Brasil, que informem idades maiores nos documentos brasileiros.

A família, porém, acredita que o rapaz seja maior de idade. Ainda que se confirme a menoridade dele, isso não o isentaria de responsabilidade, mas mudaria a forma de apuração, que passaria a ser conduzida como ato infracional.

Segundo parte dos parentes, eles não sabiam do relacionamento entre os dois. Já outros membros da comunidade afirmaram que todos tinham conhecimento da relação.

Família descobriu gravidez há um mês, diz tio

Durante a despedida, a família contou que não sabia inicialmente que Dorca estava grávida. O tio da adolescente, Andy Ramires, relatou que a descoberta ocorreu cerca de um mês antes da morte: “A mãe dela fez um teste de gravidez comprado na farmácia. Foi aí que todo mundo ficou sabendo”, disse à Itatiaia.

Flávia Gomes, brasileira que oferece suporte à comunidade, revelou que Dorca não apresentava sinais visíveis da gestação. “Ela não tinha barriga de uma gestante de oito meses. Tanto que, quando o hospital comunicou que teria que fazer o parto, o pai se recusava a aceitar, porque acreditava que a menina estivesse grávida de dois meses”, acrescentou.

Após a descoberta, o tio contou que a mãe de Dorca passou orientações sobre como cuidar da gravidez, mas a menina começou a não se alimentar e, dias depois, passou a sentir fortes dores de cabeça. “Na sexta-feira, ela amanheceu bem, mas, no mesmo dia, com a piora da dor de cabeça, foi levada a um posto de saúde no bairro”, disse.

A mãe e a tia relataram que, apesar de terem recebido um remédio para aliviar a dor, o quadro piorou. Foi então que a família recorreu a práticas culturais da tribo. “Para tentar reverter a situação, eles realizaram rituais e orações com pessoas de fora do estado”, contou Flávia. Sem sucesso, a menina foi levada para o hospital.

Durante o funeral, algumas tradições da etnia ficaram evidentes: quando o caixão desceu à sepultura, todos os homens da família se viraram de costas, e as roupas da adolescente foram colocadas junto ao corpo, como determina o costume. Em meio ao velório, uma familiar chegou a correr atrás do rapaz suspeito e tentou agredi-lo.

Caso será investigado

Em nota, a Prefeitura de Betim afirmou que “todos os protocolos indicados para o caso foram rigorosamente seguidos” pelos médicos e a família recebeu acompanhamento contínuo de uma equipe multiprofissional, incluindo suporte psicológico.

“Por se tratar de caso que envolveu relação sexual com menor de 14 anos, o CMI notificou, — conforme a legislação vigente e em comum acordo com os órgãos de proteção —, o Ministério Público e o Conselho Tutelar, além do Centro de Referência de Assistência Social (Cras) e da UBS de referência da família”.
Prefeitura de Betim

A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) afirmou que instaurou um inquérito para apurar o caso. As investigações serão realizadas pela Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher em Betim.

“A investigação visa esclarecer os fatos e, entre outras diligências, apurar o crime de estupro de vulnerável”, informou a PCMG.

Formou-se em jornalismo pela PUC Minas e trabalhou como repórter do caderno de Gerais do jornal Estado de Minas. Na Itatiaia, cobre principalmente Cidades, Brasil e Mundo.
Jornalista formado em Comunicação Social pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH). Na Itatiaia desde 2008, é “cria” da rádio, onde começou como estagiário. É especialista na cobertura de jornalismo policial e também assuntos factuais. Também participou de coberturas especiais em BH, Minas Gerais e outros estados. Além de repórter, é também apresentador do programa Itatiaia Patrulha na ausência do titular e amigo, Renato Rios Neto.
Jornalista formado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Na Itatiaia, escreve para Cidades, Brasil e Mundo. Apaixonado por boas histórias e música brasileira.