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Menina indígena de 12 anos que morreu durante parto é enterrada em Betim (MG); família pede por justiça

Dorca Mata Rattia pertencia à etnia Warao e vivia com a família em uma ocupação; comunidade relata que a gravidez só foi descoberta um mês antes da morte

Durante o funeral, algumas tradições da etnia ficaram evidentes: quando o caixão desceu à sepultura, todos os homens da família se viraram de costas, e as roupas da adolescente foram colocadas junto ao corpo

O corpo da menina Dorca Mata Rattia, de 12 anos, que morreu durante o parto, foi enterrado na manhã desta terça-feira (15), no Cemitério Parque da Cachoeira, em Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte. A vítima pertencia a uma tribo indígena venezuelana que vive em uma ocupação da cidade. A despedida reuniu cerca de 70 pessoas da comunidade.

Na última sexta-feira (11), a garota, que estava grávida de oito meses, deu entrada Centro Materno-Infantil (CMI), em Betim, já em estado gravíssimo. Segundo a prefeitura da cidade, diante da gravidade do quadro, foi necessário encaminhá-la para o Centro de Terapia Intensiva (CTI) e realizar um parto de emergência. Segundo a família, o bebê está bem.

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Durante a despedida, a família contou que não sabia inicialmente que Dorca estava grávida. O tio da adolescente, Andy Ramires, relatou que a descoberta ocorreu cerca de um mês antes da morte: “A mãe dela fez um teste de gravidez, comprado na farmácia. Foi aí que todo mundo ficou sabendo”, disse à Itatiaia.

Flávia Gomes, brasileira que oferece suporte à comunidade, revelou que Dorca não apresentava sinais visíveis da gestação. “Ela não tinha barriga de uma gestante de oito meses. Tanto que, quando o hospital comunicou que teria que fazer o parto, o pai se recusava a aceitar, porque acreditava que a menina estivesse grávida de dois meses”, acrescentou.

Fortes dores e cabeça

Após a descoberta, o tio contou que a mãe de Dorca passou orientações sobre como cuidar da gravidez, mas a menina começou a não se alimentar e, dias depois, passou a sentir fortes dores de cabeça. “Na sexta-feira, ela amanheceu bem, mas, no mesmo dia, com a piora da dor de cabeça, foi levada a um posto de saúde no bairro”, disse.

A mãe e a tia relataram que, apesar de terem recebido um remédio para aliviar a dor, o quadro piorou. Foi então que a família recorreu a práticas culturais da tribo. “Para tentar reverter a situação, eles realizaram rituais e orações com pessoas de fora do estado”, contou Flávia. Sem sucesso, a menina foi levada para o hospital.

Investigação

A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) investiga as circunstâncias da gravidez, já que, independentemente da relação entre a menina e o pai do bebê, a lei determina que crianças de até 14 anos não têm capacidade de consentir e, portanto, são vítimas de abuso sexual.

Um membro da comunidade indígena explicou à imprensa que, ontem, foi divulgado que o rapaz que engravidou Dorca teria 22 anos. No entanto, conforme o registro venezuelano, ele tem 16 anos. Questionada sobre a diferença, a família relatou que é comum, entre indígenas que migram da Venezuela para o Brasil, que informem idades maiores nos documentos brasileiros.

A família, porém, acredita que o rapaz seja maior de idade. Ainda que se confirme a menoridade dele, isso não o isentaria de responsabilidade, mas mudaria a forma de apuração, que passaria a ser conduzida como ato infracional.

Segundo parte dos parentes, eles não sabiam do relacionamento entre os dois. Já outros membros da comunidade afirmaram que todos tinham conhecimento da relação.

A adolescente era a filha mais velha de uma família com outros quatro irmãos mais novos. De acordo com lideranças comunitárias, o avô paterno da criança recém-nascida deve ficar responsável pelos cuidados do bebê.

Tradição

Durante o funeral, algumas tradições da etnia ficaram evidentes: quando o caixão desceu à sepultura, todos os homens da família se viraram de costas, e as roupas da adolescente foram colocadas junto ao corpo, como determina o costume. Em meio ao velório, uma familiar chegou a correr atrás do rapaz suspeito e tentou agredi-lo.

Formou-se em jornalismo pela PUC Minas e trabalhou como repórter do caderno de Gerais do jornal Estado de Minas. Na Itatiaia, cobre principalmente Cidades, Brasil e Mundo.
Jornalista formado em Comunicação Social pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH). Na Itatiaia desde 2008, é “cria” da rádio, onde começou como estagiário. É especialista na cobertura de jornalismo policial e também assuntos factuais. Também participou de coberturas especiais em BH, Minas Gerais e outros estados. Além de repórter, é também apresentador do programa Itatiaia Patrulha na ausência do titular e amigo, Renato Rios Neto.