Em meio ao barulho da cidade grande, algumas vozes se destacam. Os locutores de rua fazem parte do cotidiano de Belo Horizonte, principalmente no Hipercentro da capital mineira, onde usam e abusam da criatividade para atrair clientes para as lojas e aumentar as vendas do comércio.
Uma dessas vozes talentosas é do Rogério Alves. Ele começou a trabalhar em 1992 como DJ em uma rádio musical no interior de Minas Gerais. Após passar vários anos operando as pickups e os discos de vinil, ele veio para Belo Horizonte. E foi em um momento de grande dificuldade pessoal que ele conseguiu seu emprego atual de locutor no Shopping Xavantes, no Centro da capital mineira.
“Rapazes, a história é longa e, na realidade, emocionante. Eu vim trazer minha mulher para fazer um tratamento de um tumor benigno na mandíbula. Aí eu passei na porta do Shopping Xavantes e perguntei se não tinha trabalho. Qualquer coisa. Eu estava precisando trabalhar. Por incrível que pareça, a Zenaide, a gestora do shopping, falou comigo que estava precisando de um locutor. E nisso eu tô aqui há quase 20 anos.”
Ao ser questionado sobre o que ele usa para atrair os clientes, Rogério responde: “muitas opções, preço baixo e variedade...e ser um bom vendedor, né? Na realidade, o locutor é um vendedor também. Você está vendendo o produto para o cliente”.
Quem também começou a carreira no rádio é o Bruno Corrêa dos Santos, que trabalha como locutor na rede de drogarias Extra Popular. Assim como o colega de profissão Rogério, a carreira do Bruno também começou de uma forma bem curiosa.
“Começou há mais de 20 anos atrás e, por incrível que pareça, em uma rádio. Eu fui convidado para tomar conta de um estúdio de uma rádio, vigiar enquanto o rapaz ia tomar uma água. Aí quando dava o intervalo, eu entrava e falava um pouquinho. Aí foram três palavrinhas, peguei gosto e estou até hoje aqui, graças a Deus.”
Bruno dá detalhes sobre sua trajetória: “depois da rádio, eu vim para o comércio de rua, aí atendi vários tipos de segmentos: sacolão, açougue, farmácia, restaurante, loja de roupas, loja de utensílios e por aí vai. O comércio todo em Belo Horizonte.”
Bruno já trabalha nessa rede de farmácias há seis anos. A drogaria, normalmente, é um lugar que os clientes procuram quando já estão com alguma necessidade, seja de um remédio ou de qualquer outro produto. Como convencer aquela pessoa que não precisa de nada em uma farmácia a entrar na loja e fazer uma compra? Bruno responde.
“Aí que vem a diversão, a parte da criatividade do locutor. Nem todo mundo que está passando na porta da farmácia está doente. Você tem que arrumar um jeito de atrair o cliente. Aí normalmente eu atraio ele com algum tipo de brincadeira. Falo de um medicamento dá vigor sexual. Eu falo da fralda, eu falo do lenço umedecido que a mãe que tá passando ali na hora vai lembrar e vai entrar pra comprar.”
E é assim, com criatividade e um pouco de bom humor, que Bruno se destaca em meio ao barulho da Praça Sete, ocupada por vendedores, fiéis defendendo suas crenças e, claro, o ruído do trânsito: “Às vezes quando meu patrão me tira daqui até os vizinhos sentem minha falta”, brinca o locutor.