‘Noite chegou outra vez/de novo na esquina os homens estão’. As frases que abrem a música ‘Clube da Esquina’ descrevem um cenário comum de uma esquina do bairro de Santa Tereza, na região Leste de Belo Horizonte. Mais especificamente, no encontro das ruas Paraisópolis e Divinópolis, que entrou para a história da música mundial como ‘a esquina’ do Clube da Esquina de Milton Nascimento, Lô Borges, Beto Guedes e companhia limitada (ou ilimitada). Agora, o encontro das duas pacatas ruas vai ganhar uma cara nova, sem abandonar suas origens e nem os nomes que a fizeram famosa no mundo da música.
O imóvel que fica na esquina da Paraisópolis com Divinópolis pertence à família do arquiteto Chico Casarões há cerca de 70 anos. No imóvel, o pai e os avós dele acompanharam o surgimento do movimento musical que marcou a música brasileira: ‘o quarto que fica na esquina era o quarto em que minha avó dormia. Eu convivia com ela e dormia nesse quarto. A gente brinca que aquela é a janela lateral do quarto de dormir’.
O imóvel acabou ficando fechado por muitos anos, o que gerou incômodo em Chico. Por isso, ele e a também arquiteta Bruna de Sá decidiram fazer um projeto para revitalizar não apenas a esquina, mas também o imóvel como um todo. A casa, construída nos anos 1950, possui vários itens de época, como piano de parede, geladeira, lustres, móveis e até piso de granilite. Todos esses itens serão mantidos e integrados a nova finalidade do imóvel, que deixará de ser residencial para se tornar um espaço de coworking e trabalhos culturais.
Reforma deve ficar pronta no fim de agosto
Por fora, o espaço será modernizado e vai se tornar ‘instagramável’. A esquina vai ganhar um banco para ‘encontros e despedidas’, como diria o próprio Milton. As placas que trazem o emblema do Museu Clube da Esquina e a letra da canção ‘Clube da Esquina’ serão mantidas, e a parede ainda vai ganhar uma placa em inglês. O ambiente será equipado ainda com caixas de som para que os visitantes posam escutar a música dos mineiros.
Por dentro, o imóvel vai ter um espaço de coworking, salas de reunião e produção e outros espaços onde profissionais de diversas áreas criativas poderão empreender, fazer networking e aquecer a economia do Santa Tereza com novos projetos. Toda a reforma vai respeitar os elementos originais da casa. Chico e Bruna também têm outros projetos ambiciosos para o espaço, porém, preferem aguardar a confirmação para divulgá-los: ‘são planos nossos, mas precisamos da autorização de algumas pessoas. Ainda não temos o OK, mas já estamos em conversa com eles'.
Chico Casarões faz questão de deixar claro como respeita o legado do Clube da Esquina e de todos os seus membros. A nova ‘Casa da Esquina’, que deve ser inaugurada em agosto, não pretende lucrar financeiramente com o trabalho de Bituca e companhia e sim preservar um pedaço da história.
Imóvel será reformado, mas vai preservar características originais
‘Nós temos um negócio acontecendo na casa, que é uma coisa privada. Mas a ação na esquina é quase que separada. Nós vamos ser os curadores, os mantenedores da esquina. Mas a gente não pensa em colocar uma cordinha e pedir pro povo pagar R$ 2,00 para tirar foto. Pelo contrário, o objetivo é justamente preservar e criar mais um atrativo para o bairro. Já tiveram alguns outros projetos que tentaram colocar em prática, mas sempre esbarravam na questão do proprietário do imóvel que detém o direito da fachada. A partir do momento que nós viemos para cá, nós decidimos meter bronca nisso e fazer acontecer, porque é um interesse da gente ver isso aqui cheio de gente, sempre’.
Arquitetos Bruna de Sá e Chico Casarões lideram projeto