‘Nada será como antes’. O título da música assinada por Milton Nascimento e Ronaldo Bastos é perfeito para descrever a relevância do álbum ‘Clube da Esquina’ (1972) para a música mineira. Após o lançamento do disco, encabeçado por Bituca e o então jovem Lô Borges, nada foi como antes. E é um pouco desta história que a diretora Ana Rieper tenta resgatar em seu documentário ‘Nada será como antes - A música do Clube da Esquina', que estreia nesta quinta-feira (28) nos cinemas de todo o Brasil.
Em pouco mais de uma hora, o documentário traz lembranças sobre o início da carreira de Bituca, o improvável encontro com Lô nas escadas do Edifício Levy, no Centro de Belo Horizonte, além de detalhes sobre a produção das músicas, com direito a um ‘react’ da separação dos instrumentos em algumas das faixas da música e um ‘masterclass especial’ do baterista Robertinho Silva, que participou da gravação do disco.
Confira o trailer abaixo:
‘É a história das nossas vidas’
Em entrevista exclusiva à Itatiaia, a carioca Ana Rieper confessa que a música do Clube da Esquina ‘a constitui’ desde a adolescência, quando um amigo a chamou para ouvir o disco ‘Clube da Esquina II’ (1978), que, segundo ela, traz uma sofisticação muito grande. A paixão pelo segundo álbum a fez procurar o primeiro e se apaixonar pelo trabalho daquele grupo de mineiros liderados, coincidentemente, por um carioca de nascimento.
‘Eu sou carioca, mas a gente tinha um grupo de amigos que era de Minas Gerais. Então os mineiros sempre levavam a gente para viajar para Minas e, a partir desta audição do Clube, eu fui desvendando esse mundo e amando. Milton, Beto Guedes, Toninho Horta, Lô Borges. São músicas que embalaram minha juventude’.
Beto Guedes, Milton Nascimento e Lô Borges: os maiores nomes do Clube da Esquina
Um dos destaques do documentário são imagens muito raras dos membros do Clube da Esquina se apresentando juntos. Parte dessas gravações vieram de um especial feito pela TV Band em 1974 e que, por décadas, ficou guardado no arquivo da emissora. Gravações feitas por emissoras europeias também compõem a produção, assim como vídeos coloridos do Centro de Belo Horizonte em meados do século XX.
‘O pesquisador de imagens e de material de arquivo, Antônio Venâncio, trouxe um material fantástico. Talvez ele seja um dos maiores especialistas em imagens de arquivo do Brasil. A gente usou esse material da Band e de TVs da Alemanha, Itália e também da França. O material imagético é lindíssimo. Tivemos que deixar muita coisa de fora, principalmente por questões orçamentárias’.
A produção também traz trechos de filmes produzidos em Minas Gerais durante os anos 1970, incluindo ‘Jardim de Guerra’, de Neville d’Almeida, considerado o filme mais censurado da história do cinema brasileiro. A equipe de Ana Rieper contou até mesmo com um ‘cinegrafista especial’: Márcio Borges, irmão de Lô e um dos letristas do Clube da Esquina.
‘Essa foi uma das formas do nosso filme incorporar a importância do cinema dentro do Clube da Esquina, como uma forma de construir a linguagem do nosso próprio filme. O Marcinho é cineasta, colaborou com o roteiro e fez a câmera em algumas situações. A câmera foi pilotada por um dos nossos personagens. Um elemento de dinamização’.
Após o lançamento de ‘Nada Será Como Antes’, Ana Rieper já trabalha em outras produções, incluindo uma série sobre música sertaneja, uma outra série sobre as mães do samba e um longa-metragem sobre a sexualidade a partir do ponto de vista do funk, que deve se chamar ‘Massa Funkeira’.
É uma história das nossas vidas. É um movimento importante não só para a música brasileira, mas também para a mundial. É uma música que comportaria muitos filmes
