A família de Laudelina Gomes Machado, de 61 anos, busca por respostas depois que a mulher morreu ao realizar um realizar um procedimento estético com o uso polimetilmetacrilato (PMMA), que prometia levantar os glúteos.
Ela faleceu no dia 7 de março na Clínica Estética, que fica no bairro Prado, na Região Oeste de Belo Horizonte. A família denuncia que o procedimento foi feito por uma dentista e biomédica, que é companheira do médico que foi contratado para fazer o procedimento.
Débora Cesarino, advogada que representa parentes de Laudelina, disse em entrevista à Itatiaia que a paciente conheceu o médico por meio do Instagram. “Ela encontrou o perfil dele e gostou dos resultados. Foi ao consultório e fez duas aplicações na mesma região com a mesma substância, que foram bem sucedidas. Cada uma custou R$ 12 mil”, contou.
Foi na terceira ida que algo deu errado. A família conta que Laudelina estava “otimista” e “tranquila” no dia da sessão. “Laudelina não tinha nenhum problema crônico de saúde e estava muito esperançosa de fazer o último procedimento para corrigir um detalhe que estava a incomodando”, explicou Débora.
Segundo a advogada, o marido de Laudelina a acompanhou na data e viu a intervenção enquanto estava na sala de espera. Foi ele quem disse que o procedimento não foi feito pelo médico, e sim pela companheira dele. “A porta estava entre aberta e ele conseguiu visualizar o que se passava lá dentro. A aplicação do PMMA não foi feita pelo médico, mas, sim, pela companheira”, explicou Cesarino.
Revés
Laudelina ainda estava na clínica quando passou mal. De acordo com boletim de ocorrência, o marido entrou na sala para socorrer a esposa, acompanhado pelo médico que deveria ter feito o procedimento.
“Foi então que ela passou mal: vomitou e se ajoelhou. Ela foi deitada no chão, onde iniciaram os procedimentos de primeiros-socorros. O próprio esposo viu tudo isso, entrou na sala e fez respiração boca a boca. Chamaram um cardiologista que tem um consultório ao lado da clínica”, relatou a advogada.
O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) também foi acionado, mas a morte foi constatada. No registro policial, a dentista e biomédica afirma que, naquela data, acompanhou a realização do procedimento apenas preparando o material utilizado.
Médico fez ‘live’ no dia seguinte à morte
Em meio ao luto pela perda da mãe, os familiares se indignaram com uma postagem do médico responsável no Instagram. Josué Machado, de 37 anos, filho de Laudelina, contou que “no dia seguinte ao falecimento da minha mãe, ele estava fazendo uma live do vendendo o produto dele: o programa que chama ‘Bumbum Classe A’, que utiliza PMMA para melhorar o bumbum das pacientes. Fez live como se nada tivesse acontecido, uma grande desrespeito”, contou.
A família acredita que a “live” e outros conteúdos da página do médico é que convenceram Laudelina a realizar o procedimento estético.
Outros casos
A advogada da família conta que o mesmo médico responde a pelo menos outros dois processos relacionados pacientes que reclamam de insucesso em seus procedimentos estéticos. “Esses outros dois casos não levaram a um fim tão trágico quanto o da Laudelina, mas também são graves”, acrescentou.
Registro profissional
A Itatiaia consultou o registro do médico no Conselho Federal de Medicina (CMF), que aparece ativo no site e sem informação sobre área de especialização.
Perguntado sobre processos a que o médico responde, o Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais (CRM-MG) respondeu, em nota, que “todas as denúncias recebidas, formais e de ofício, são apuradas, e todo o procedimento corre sob sigilo, conforme o Código de Processo Ético-Profissional, tendo o médico amplo direito de defesa e ao contraditório.”
Investigação
A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) informou que instaurou inquérito policial para apurar a morte de Laudelina Gomes. “O corpo da vítima foi encaminhado ao Instituto Médico Legal André Roquette, onde passou por exames de necropsia e laboratoriais, sendo, em seguida, liberado aos familiares A PCMG aguarda a conclusão dos laudos que determinarão as causas e circunstâncias da morte”, disse a corporação em nota enviada à Itatiaia.
Clínica
A Prefeitura de Belo Horizonte informou que a clínica onde foi realizada a cirurgia é acompanhada pela Vigilância Sanitária municipal e que está em processo de renovação do licenciamento sanitário. Nova visita será feita ao local para verificar as condições do espaço.
O que diz o médico
A Itatiaia buscou a página do profissional nas redes sociais, porém ela não foi encontrada pela reportagem. Em contato com o WhatsApp da clínica em que o profissional trabalha, a reportagem recebeu mensagem da assessoria jurídica do médico Adelmo de Araújo Monteiro, que disse que:
“O Dr. Adelmo está há 40 anos realizando procedimentos estéticos, com aplicação do PMMA (produto genuíno e aprovado pela ANVISA), podendo afirmar com propriedade que trata-se de um produto seguro. Ocorre que todo procedimento estético, por simples que seja, possui riscos de intercorrências, principalmente quando é necessário o uso de anestésico. O Dr. Adelmo firma seu compromisso e seriedade com suas pacientes, colocando-se a disposição no que for preciso.”
‘Minha mãe era batalhadora’
O filho conta que Laudelina Já trabalhou como manicure e, nos últimos vivia, com um companheiro em um sítio em Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte. “Trabalhou desde os nove anos. Ela cuidou, criou dois filhos sozinho. Meu pai faleceu quando eu tinha dois anos”, contou.
Em relação aos procedimentos estéticos, ele conta que Laudelina tinha vontade de melhorar a aparência. “Com a idade, o corpo se transforma. Ela tinha umas ‘covinhas’ dos dois lados do bumbum que a incomodavam muito”, acrescentou Josué.
Agora, a família luta por Justiça e espera que a morte seja investigada e os responsáveis, penalizados.
Problemas em procedimentos estéticos
Casos de morte ou sequelas após realização de procedimentos estéticos são relativamente comuns. Em 2023, uma
Já em março de 2024,