A biomédica Lorena Marcondes foi indiciada Polícia Civil por homicídio com dolo eventual em razão da
As investigações apontaram várias irregularidades, incluído o uso de um preenchedor indicado para pacientes com HIV.
“Trabalho complexo. Conseguimos trazer as provas técnicas, testemunhais. Não acaba. Outras vítimas estão sendo apuradas de forma paralela. O que estava acontecendo ali era um absurdo. Não posso nem falar que aquilo era um consultório. Não sei chamar o que é aquilo, mas estava longe de ser consultório. Juridicamente, a pessoa que age desse modo, no mínimo, assumiu o risco de produzir o resultado. Não temos dúvidas de que ela deve responder por homicídio doloso”, disse o delegado Marcelo Nunes, responsável pela investigação.
Nunes destacou ainda que a investigação encontrou duas qualificadoras: motivo torpe e traição. “Ao contrário do que ela falava, que preocupava com as pacientes, ela só visava o lucro. As planilhas que nós temos não têm nenhum dado científico médico do paciente. Só questões financeiras. Ou seja, ela só visava lucro”, disse.
“Ela enganava os pacientes dizendo que o ‘procedimento não é invasivo’. ‘Não é uma cirurgia’. Mas só no corpo da Isis foram 12 incisões profundas. Se isso não é invasivo, o que é então? Tem que abrir as pessoas de fora a fora para considerar (invasivo)?”, reforçou o delegado, que destacou o fato de a biomédica aquirir confiança das pacientes por meio das redes sociais.
HIV
Paula Lamounier destacou ainda que foram encontrados em um carro usado pela clínica, e retirado do local por uma funcionária no dia do óbito, caixas fechadas de fármacos que deveriam ser administrados apenas em ambiente hospitalar e ambulatorial.
“Encontramos dentro do carro, junto a esses itens, um frasco de soro fisiológico contendo uma substância branca, que na ocasião não sabíamos do que se tratava e exames na sequência demonstram se tratar de PMMA, que é um preenchedor de deformidades pequenas ou casos de lipodistrofia (desequilíbrio da distribuição de gordura que pode ser tratado com preenchimento ou lipoaspiração) de HIV. Não é indicado para fins estéticos”, reforçou.
O delegado Flávio Tadeu Destro (chefe do 7° Departamento de Polícia Civil), o inspetor Ricardo Carvalho e o escrivão José Maria Patrício também participaram da coletiva.
Lidocaína
Durante a coletiva, a perita Paula Lamounier e o médico-legista João Paulo Nunes destacaram o uso excessivo de lidocaína, que é uma substância ativa de anestésico local, e falta de estrutura mínima do local onde o procedimento foi feito. João destacou exames comprovaram perda significativa de sangue, hemorragia na região lombar e choque hemorrágico, com repercussão grave. “Não raro, está associado ao quadro de óbito”, reforçou o médico.
A Itatiaia tenta contato com a defesa da biomédica.
A Polícia Civil também indiciou duas auxiliares da biomédica por homicídio simples e outros funcionários da clínica, que irão responder por fraude processual.
Relembre o caso
Segundo a Polícia Civil, essa cirurgia só pode ser feita com a presença de um médico e de um anestesiologista. A clínica não possuía equipamentos básicos, como monitor cardíaco, e o laser que seria usado no procedimento não tinha chegado no local no momento em que a cirurgia começou.
A profissional e a enfermeira que a auxiliava nas cirurgias foram presas preventivamente após o caso, mas foram beneficiadas com um habeas corpus e estão em prisão domiciliar. Lorena também é citada em três processos na Justiça por erro médico. Um deles envolve um modelo que teria ficado com a boca deformada após passar um procedimento estético com a mesma profissional em Divinópolis (MG).