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Projeto do Morro do Papagaio distribui lanches e custeia transporte de jovens que farão Enem

Mais de 50 alunos do curso Voa, Papagaio! estarão presentes no segundo dia do exame com apoio do projeto

Colabores do Voa Papagaio! se reúnem na porta da escola onde acontecem as aulas para oferecer os kits e chamar carros de aplicativo para levar os candidatos até os locais de prova

Moradores do Morro do Papagaio, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, que farão prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) neste domingo (12), podem contar com transporte gratuito de ida e volta e com kit de lanche e material, graças ao projeto Voa, Papagaio!

Desde 2019, a inciativa oferece curso gratuito preparatório para Enem. Segundo Júlio Fessô, que é um dos idealizadores do curso, ao lado de Bruno Rangel e Grazi Mendes, o projeto tem o objetivo de levar educação de qualidade para dentro da favela. “A maioria dos nossos alunos são pessoas negras e mães solo, o curso é realizado por professores voluntários que doam seu conhecimento e tempo para ajudar. Oferecemos também aulas para quem deseja fazer o Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja)”, explica Júlio.

Para quem está no processo de tentar o Enem neste mês de novembro, Júlio Fessô explica que os colabores do Voa Papagaio! se reúnem na porta da escola onde acontecem as aulas para oferecer os kits e chamar carros de aplicativo para levar os candidatos até os locais de prova. “Além disso, nós também vamos até o local para apoiá-los, incentivar e desejar boa sorte”, conta ele, que também é líder comunitário do Morro do Papagaio.

Oportunidade

Ana Carolina Lima, de 30 anos, é uma das 50 pessoas que participam do curso e vão tentar uma vaga na universidade através do exame. Ela cursa Redes de Computadores na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), mas tem o sonho de ingressar na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) para fazer psicologia. “O cursinho ajuda vários moradores da comunidade, se fosse para ir de ônibus eu gastaria em média R$20 por dia, além de ter que encarar o trânsito para ter acesso ao local. Eu sou a primeira pessoa da minha família a entrar em uma faculdade, tudo isso graças ao Voa, Papagaio”, conta.

Mas a história de Ana não é o único caso de sucesso do projeto. Julio Fessô realizou o curso no ano passado e em seguida o Enem. O resultado foram duas aprovações. “Passei em Serviço Social na UNA e Ciências Socioambientais na UFMG. Acabei optando pela segunda opção, pois acredito que as questões relacionadas às mudanças climáticas precisam ser discutidas dentro da comunidade e, com o curso, estou trazendo o assunto para o Morro do Papagaio”, finaliza.

Estudantes de baixa renda ocupam maior parte em universidades federais

De acordo com uma pesquisa da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) realizada em 2019, 70,2% dos estudantes de universidades federais no país são de baixa renda. Estes alunos são de famílias com renda mensal de até 1,5 salário mínimo per capita, R$ 1.431, no valor de 2018, quando a pesquisa foi realizada.

Para Julio Fessô o Voa, Papagaio! é uma oportunidade para os moradores da favela se capacitarem para concorrer a estas vagas. “Com o curso, os moradores da quebrada podem disputar vagas e espaços de igual para igual com os estudantes de colégios particulares, por exemplo”, explica.