A compra de um barranco no Aglomerado da Serra mudou completamente a vida da família dos cozinheiros Valdecir Cardoso, 46 anos, e Heloísa Helena, 56 anos. O pedaço de terra, que custou R$ 200 e um celular, abriga há oito anos o BarranKus, bar erguido no Aglomerado da Serra, região Centro-Sul de Belo Horizonte. A história da família abre a segunda temporada da série Comida, Boteco e os Segredos da Grande BH.
O nome do bar é uma homenagem ao barranco que deu origem ao prédio de seis andares, dos quais quatro são do comércio, que tem características únicas. Para entrar, é preciso bater no portão e esperar o envio da chave por uma cordinha. Além disso, lá não tem garçom. É o próprio cliente que pega a cerveja, escolhe a música e até fecha a conta. Tudo isso, aliado a um cardápio variado, ao ambiente familiar e uma vista impactante, faz do Barrankus um sucesso.
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É graças ao Barrankus que o casal banca a formação dos filhos, Dyhan Pierre, 19 anos, que estuda para ser perito criminal, e Deyse Lauren Cardoso, de 20, estudante de direito. Dyhan também é bailarino do grupo Corpo.
“É muito gratificante, mas é uma luta muito pesada. Começamos do nada. Os meninos eram pequenos. Hoje estão estudando e vão se formar. Meu menino virou bailarino. Tudo provém do Barrankus. A minha menina faz direito e meu menino faz perito criminal. Tudo em faculdade particular”, se orgulha Valdecir, conhecido como Nem.
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Comida
Costelinha com mandioca, tropeiro, tilápia, feijoada, macarrão na chapa e hambúrgueres variados fazem parte do cardápio. “Começamos somente com delivery. Foi crescendo o movimento, muitos clientes e começamos a montar um bar. Vai fazer 8 anos. O pessoal que começou a comprar na nossa mão queria vir almoçar no estabelecimento. Só que não tinha espaço. Só uma garagem. Tivermos que ir crescendo, crescendo, até dá nisso aí hoje, um bar”, lembra o empreendedor, que é irmão de Zé Pretinho, comerciante que mantinha um bar na mesma região.
Valtecir diz que a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) fez o projeto do imóvel após ele iniciar a fundação por conta própria e ser denunciado. “Ficou caro, mas mais seguro e melhor”, reconhece.
Comando
Heloísa diz ser o braço forte do negócio e da família. “Comando a cozinha, comando o bar, comando o marido, os filhos. Eu comando tudo. Mas não é muita luta. É gratificante e muito bom. A gente distrai o dia todo, conversa e é em família. Se tiver de brigar, a gente briga e resolve. O cardápio é muito bom. A gente não tem o que reclamar. Já acostumei. São quase 10 anos. Teve uma época que a gente não considerava muito o Barrankus um bar, não. Mas aí a gente viu que a coisa estava fluindo e começamos a falar: criamos um bar mesmo e agora vamos ter que dar a nossa cara pra bater”, disse a empreendedora, que se orgulha da trajetória da família.
“É muito gratificante. Meu menino, que hoje é bailarino formado, vendia chup-chup quando a gente começou aqui. A menina vendia refrigerante. Ela fazia o chup-chup e a gente vendia cocada. No início, foi assim. A gente pensava assim: ‘nós não vamos dá conta, mas nós demos conta’. Foi bom muito”, diz.
Moradores da comunidade e do asfalto fazem parte da clientela. “Nossos vizinhos são muito parceiros. Todos compram na nossa mão: vizinhos, de longe, do asfalto. Nós misturamos todo mundo. A gente misturou asfalto com a comunidade. Então, todos servem bem. Aqui vem médico, aviador, turista. Vêm pessoas até dos Estados Unidos almoçar aqui. A gente não sabe falar inglês, mas usa o Google tradutor”, brinca.
Sonho
Estudante de direito, Deyse Lauren diz viver um sonho e lembra que tudo começou quando os pais ficaram desempregados. “Eu já trabalhava aqui, vendendo cocada e chup-chup. Para não ficar desempregado e a gente morrer de fome, meu pai criou o Barrankus. Pra mim é um sonho. Sempre gostei de cozinhar, igual minha mãe, mas nunca imaginei que aqui seria um bar e desse tamanho”, diz.
“Mesmo formando em direito, virando advogada ou concurso público, porque não sei o que vou fazer, vou continuar o bar. Muita luta, vitória e humildade, que é o essencial”.
Dyhan Pierre lembra com o orgulho da luta dos pais e diz que todos trabalham juntos para manter o bar. “A minha família evoluiu. A vida mudou total”, diz. “Era uma criança meio sem saber o que estava acontecendo muito, mas conseguia perceber muita coisa dentro de casa. Quando a gente construiu o bar, no início, não parecia tanto que daria tão certo, mas com a ajuda das pessoas e nossa energia, acho que deu muito certo e mudou a nossa vida para melhor”, diz o filho, que iniciou no grupo Corpo quando tinha 8 anos.
Ambiente familiar
Moradora do Aglomerado da Serra, a doméstica Vera Lúcia Emanuela Rodrigues, 41 anos, é cliente do Barrankus. “É um bar de família e de amigos. É um bar self-service de bebida: você chega, senta na mesa e, se quiser beber, vai no freezer e pega a bebida. Não tem garçom”, diz Vera, que indica como tira-gosto a costelinha com mandioca, o bolinho de bacalhau e o contra-filé com fritas. “É um bar de
família e o diferencial é que para você entrar nele, precisa gritar e pedir a chave”.
A Aline Emanuela Rodrigues de Jesus, 31 anos, levou o namorado Gabriel Vieira, de 26, para conhecer o Barrankus. Ele já era cliente do delivery e se surpreendeu com o ambiente. “Achei o lugar perfeito. Ambiente, estrutura. É inovador, porque é a primeira vez que venho em um ambiente e que você mesmo se serve, pega sua cerveja e escolhe a música”, diz Gabriel. “O Barrankus é incrível. Tanto a vista durante o dia, como a noite. É um lugar tranquilo, familiar e jovem também”, descreve Aline.
Serviço Barrankus bar:
Como chegar? Colocar no gps rua Herval, 795, e subir o morro mais íngreme ( à esquerda). Carro chega até a porta, mas só tem vaga para dois veículos. Ideal é estacionar logo após o fim da subida e ir a pé até o bar;
Funcionamento: segunda a sábado - 11h às 14h30 (almoço) e 18h às 1h (bar);
Delivery, reservas e mais informações: (31) 9 9920-9476
Caeté
Nessa quarta-feira (8), a Itatiaia contará a história do bar do Tunico Machado, que tem quase 80 anos de tradição em Caeté, na Grande BH .
Edição de áudio: Leonardo Leal/ trabalhos técnicos e de sonorização Ronald Araújo/ vídeo: Naice Dias/ edição de vídeo: Marina Borges/ texto e produção: Rômulo Ávila.