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Qual é a hora mais fria do dia? Especialistas explicam fenômeno e impactos para a saúde

Grande variação de temperatura em um mesmo dia, chamada de amplitude térmica, é fenômeno comum nesta época do ano

Médico explica por que o tempo seco facilita infecções

Nas últimas semanas, moradores de Belo Horizonte viveram madrugadas com sensação térmica abaixo de zero. As menores temperaturas são registradas entre 05h e 06h e, dependendo do ponto da cidade onde estão os termômetros, a sensação térmica pode variar cerca de 10 °C. Por que isso acontece?

Na manhã de terça-feira (6), por exemplo, entre 05h e 06h, na Regional Oeste, os termômetros chegaram a 10,6 °C, com sensação térmica de -2 °C. Já na Pampulha, no mesmo horário, a mínima registrada foi de 11,7 °C, com sensação térmica de 13,4 °C.

Além das baixas temperaturas no início da manhã, BH tem registrado baixa umidade relativa do ar durante a tarde. Ontem, enquanto a temperatura atingiu 25 °C, a umidade era de apenas 30%, nível considerado de atenção pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Qual a hora mais fria do dia?

O meteorologista Claudemir Azevedo explica porque o horário mais frio do dia acontece entre 05h e 06h. “O Sol é a nossa principal fonte de calor. À noite, como não temos luz solar, há uma perda do calor acumulado na cidade durante o dia. Por isso, o momento mais frio do dia acontece instantes antes dos primeiros raios solares aparecerem. É o ponto máximo da perda de calor, porque a partir do momento que amanhece, o sol volta a aumentar a temperatura”, esclarece.

Por que as temperaturas mínimas registradas são diferentes em cada ponto da cidade?

De acordo com Claudemir Azevedo, a diferença de temperatura acontece devido à influência do microclima das regiões (quanto mais urbanizada uma área, mais calor ela retém) e da altitude de cada estação meteorológica. Quanto mais alto o local, mais frio faz. Por isso, a temperatura mínima registrada na Regional Oeste, que está a 1.199 metros acima do mar, foi menor que na Pampulha, que está a 854 metros.

Por que a umidade relativa do ar é baixa nesta época do ano?

Claudemir explica que as massas de ar seco e frio favorecem a baixa umidade. Além disso, como o hemisfério sul está mais afastado do sol neste período do ano, há uma menor evaporação de água e, consequentemente, uma menor formação de nuvens. Esta menor evaporação é uma das causas da baixa umidade relativa do ar. “Também não podemos esquecer que é característica da estação um tempo seco, frio e sem chuva”, afirma.

Por que no outono e no inverno a amplitude térmica é tão grande ao longo do dia?

A amplitude térmica é a diferença de temperatura em um mesmo dia: madrugadas muito frias e tardes quentes. Segundo o meteorologista, a amplitude acontece devido à ausência de nuvens, que faz com que o calor perdido durante a noite seja maior. Como o outono e o inverno são caracterizados como estações secas, a maior parte dos dias tem céu claro sem nuvens.

Quando o tempo está nublado, o calor chega até a atmosfera e é refletido de volta para a superfície. Portanto, não há uma queda tão brusca da temperatura durante a noite. Assim, a amplitude térmica é menor em estações chuvosas como o verão e a primavera.

Qual o impacto da amplitude térmica para a saúde?

Segundo o médico otorrinolaringologista Marcelo Rates, a diferença em si não impacta a saúde. O grande problema são as baixas temperaturas. “Ao esfriar, as pessoas fecham as janelas e os ambientes não tem circulação de ar, o que facilita a transmissão de doenças respiratórias”, explica.

O profissional esclarece que o frio e o tempo seco diminuem nossa primeira barreira de imunidade. “O tempo seco resseca o muco nasal. É ele o responsável por reter as partículas de poeira e organismos vivos, como os vírus, e impedi-los de entrar em contato com o sistema respiratório. Quando essa secreção está seca, os vírus acabam conseguindo entrar no nosso organismo”, diz.

Além do muco seco, outra barreira nasal também diminui nesta época do ano. “Os chamados cílios da mucosa nasal, localizados em todo o nariz, são responsáveis por levar o muco com as partículas de sujeira até a garganta. Assim, a gente engole essa secreção e não adoece. Esses organismos só transmitem doenças via sistema respiratório. Portanto, quando caem no estômago são eliminados. Acontece que no frio, o movimento dos cílios também diminui e o muco fica agarrado no nariz, causando infecções”, conta.

Como se proteger?

De acordo com o otorrinolaringologista, beber muita água é fundamental para se proteger das infecções respiratórias típicas do outono e inverno. “A mucosa nasal é feita basicamente de água, portanto se manter bem hidratado é importante para que ela não resseque e continue fazendo o seu papel de barrar a entrada de vírus e outros micro-organismos no corpo”, afirma.

Além de ingerir a água, lavar o nariz com soro fisiológico e umidificar o ambiente são medidas que ajudam. O médico alerta, porém, para a frequência utilizada nas lavagens nasais. “O nariz tem que ser lavado com delicadeza. Caso a pessoa coloque muita pressão ou lave muitas vezes, há chance de desenvolver otite — infecção de ouvido”, adverte.

O médico também ressalta a importância de estar com as vacinas contra a gripe e a COVID-19 em dia.

Fernanda Rodrigues é repórter da Itatiaia. Graduada em Jornalismo e Relações Internacionais, cobre principalmente Brasil e Mundo.