Um estudo da Faculdade de Saúde Pública da USP aponta que mais de 80% de 345 modelos de escovas de dente apresentam pontas das cerdas fora do recomendado. Além disso, 70% dos produtos tinham problemas no cabo e cabeça e 63,5% continham número total de cerdas inferior ao recomendado. Uma boa escova dente precisa ter 18 tufos com 80 cerdas em cada um - totalizando 1.440 cerdas -, ser macia, com cabo reto, achatado e cabeça pequena.
O estudo analisou produtos comercializados em São Paulo, mas o dentista Renato Vieira, de 29 anos, avalia que o problema ocorre em Minas, pois as marcas vendidas aqui são praticamente as mesmas.
Mas o que o uso frequente de escovas inadequadas pode representar? Há risco, por exemplo, de perder algum dente? Inicialmente, Renato Vieira explica que a escolha da escova ocorre de acordo com a gengiva. “Pensando nisso, a melhor escova dental é aquela que não vai machucar a nossa gengiva”, pontua.
“O que a gente observa no consultório, principalmente daqueles pacientes que usam escovas de cerdas muito duras, é que esses pacientes tendem a apresentar retrações gengivais. Elas também vão causar mal para o esmalte, que é essa parte brilhosa dos nossos dentes”, disse.
O profissional alerta ainda que a situação pode piorar quando o uso de escovas inadequadas é associado a um creme dental ruim e à dieta muito ácida, com consumo de Coca-Cola e suplementos. “Esses pacientes vão ter um esmalte mais suscetível a desgaste”.
O uso de escovas inadequadas por paciente que já têm problemas, como perda de esmalte e exposição de raiz, é ainda mais arriscado. “Se a gente utiliza escovas inadequadas, escovas muito duras, a gente vai ter, sim, uma perda de minerais nessa região, vai ter um desgaste nesse esmalte e, principalmente, nessa dentina, que é muito mais vulnerável do que o esmalte”.
Como foi feito o estudo?
A pesquisa, coordenada pela pesquisadora Sônia Regina Cardim de Cerqueira Pestana, teve como objetivo identificar e analisar as normas e exigências técnicas para a produção e comercialização das escovas de dentes manuais.
Na primeira etapa do estudo, a pesquisadora fez uma revisão integrativa da literatura, um método que sintetiza os resultados obtidos em pesquisas sobre um tema ou questão, de maneira sistemática, ordenada e abrangente. Nesta etapa, Sônia Pestana se deparou com duas normas brasileiras e 29 artigos sobre o tema.
Em um segundo momento, a pesquisadora propôs um protocolo para avaliar as escovas vendidas no Estado de São Paulo, baseado na Portaria 97, de 1996, e na Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 142 de 2017, normas vigentes à época em que a autora realizou o estudo (2018).
*Com informações da USP