O trânsito acelerado concorre com o ir e vir de milhares de pessoas que atravessam as ruas do centro da capital mineira, e três anos depois da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) decretar emergência em saúde pública pela pandemia de Covid-19, são poucas as máscaras nos rostos e miúdos os indícios de que um dia a cidade foi fechada para conter o avanço da nova doença.
Sentada em um banco à rua dos Carijós, Maria do Socorro Abreu de Lima, 67, descansa em uma tarde de segunda-feira antes de pegar o ônibus para o bairro onde mora na região de Venda Nova. Em julho, a morte do marido dela, Hélio, à época com 75 anos, completará três anos. Internado após um mês inteiro de intubação, ele não resistiu à gravidade da doença – a respeito da qual pouco se sabia àquela altura – e se uniu à trágica estatística do Ministério da Saúde que, na última terça-feira (28), registrou a marca de 700 mil mortos pelo coronavírus.
“A pandemia mudou a minha vida”, crava Maria do Socorro enquanto indica com o dedo a fotografia do marido no papel de parede do celular. Quando Hélio contraiu o vírus da Covid-19, a confecção de uma vacina que amenizasse os efeitos da doença e o início da imunização no Brasil pareciam muito distantes. Seis meses após a morte dele, em 19 de janeiro de 2021, os centros de saúde de Belo Horizonte começaram a aplicar as primeiras doses da vacina contra o coronavírus. Maria recebeu não apenas a primeira, como também a segunda, a terceira e a quarta doses. “Meu marido era sadio, mas, infelizmente ele pegou e Deus levou no início da pandemia. Ainda não tinha vacina e ninguém sabia como lidar. Foi muito triste. Mas, a vida é assim. Eu consegui receber a vacina, tomei todas as que foram liberadas para mim”, lembra.
Maria do Socorro engrossa a estatística dos moradores da capital mineira que se protegeram com a primeira dose – cerca de 96,6% nos últimos dois anos. Se a adesão à dose inicial foi praticamente total na capital mineira, o que contribuiu para a redução drástica dos casos e das mortes por Covid-19, a procura pelas doses de reforço (terceira e quarta) ainda está acanhada na cidade e apenas 40,9% do público-alvo está totalmente protegido.
O cenário é parecido em relação à vacina bivalente (que protege contra a cepa original do coronavírus e as subvariantes da ômicron). Apenas 18,7% da população com mais de 60 anos foi às unidades de saúde para receber o imunizante. Em relação às crianças, a conjuntura é ainda mais alarmante: somente 8,4% dos pequenos com idades entre seis meses e dois anos receberam a primeira dose contra a doença.
O alerta está aceso, e segundo o boletim Infogripe da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) da última segunda-feira (27), os casos de Covid-19 entre a população adulta estão aumentando no país e é necessário que a cobertura vacinal seja ampliada para que a pandemia não se torne outra vez uma ameaça, como também avisa Paulo Roberto Corrêa, diretor de promoção à Saúde e Vigilância Epidemiológico da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH).
"É um risco que corremos. Nada impede que novas variantes aumentem a transmissão da doença. A vacina é necessária para prevenir, para diminuir a circulação da doença. As pessoas acham que a doença está totalmente controlada, o que as deixa mais confortáveis. Muitas acham que não é necessário completar o esquema vacinal”, cita. “Essa é uma situação que nos preocupa muito, porque nós precisamos ter uma alta cobertura para que a população fique protegida”, conclui.
Linha de frente no enfrentamento à pandemia de Covid-19, o médico infectologista Leandro Curi reforça a importância das doses de reforço para que a doença permaneça controlada em Belo Horizonte. “As pessoas não podem pensar que a pandemia acabou. O vírus continua circulando e é necessário se proteger da melhor forma possível, que é a partir da vacinação”, pontua.
Ele esclarece também que o triunfo da imunização com a queda no número de casos e mortes por coronavírus contribui para o relaxamento da população. “Graças à eficácia das vacinas, o número de mortes cai e as pessoas relaxam e acreditam que não precisam mais se vacinar. A grande questão é que os níveis de anticorpos caem com o passar dos meses. E, então, as doses de reforço e a própria bivalente vêm para lembrar ao organismo que nós temos que continuar nos protegendo”, conclui.
Além do alerta feito no Infogripe para o aumento de internações ligadas ao coronavírus entre adultos em alguns estados brasileiros, o boletim da Fundação Oswaldo Crus destaca ainda o crescimento de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) entre crianças e adolescentes. Até o momento não é possível relacioná-los a um vírus específico, como o da Covid-19, entretanto, o coordenador do Infogripe, Marcelo Gomes, ressaltou a urgência da adesão da população às doses de reforço.
“O cenário de aumento recente de casos de SRAG associados à Covid-19 reforça a importância da adesão à campanha de vacinação, parque o cenário atual não gere impacto significativo em termos de casos graves”, citou. No documento, Belo Horizonte aparece como uma entre as 17 capitais que registraram aumento nas síndromes respiratórias nas últimas semanas.
Vacinação contra a Covid-19 em Belo Horizonte
Dois anos e dois meses após o início da vacinação contra a Covid-19 na capital mineira, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) segue ofertando o imunizante e ampliando a campanha nos centros de saúde. Atualmente, o município privilegia a aplicação da vacina bivalente nos públicos-alvo, das primeiras doses nas crianças com idades entre seis meses e 11 anos, na primeira dose de reforço para o restante da população e na quarta dose para pessoas com mais de 40 anos e trabalhadores da saúde. Confira a seguir:
Vacina bivalente: podem receber pessoas maiores de 60 anos, gestantes e puérperas, pessoas com deficiência permanente, indígenas, quilombolas e pessoas com alto grau de imunossupressão maiores de 12 anos;
Vacinação infantil: podem receber crianças com idades entre seis meses e 11 anos, 11 meses e 29 dias;
Dose de reforço: podem receber as crianças com idades entre 8, 9, 10 ou 11 anos, adolescentes de 12 a 17 anos, gestantes e puérperas, pessoas maiores de 18 anos e aquelas que iniciaram o esquema vacinal com Janssen;
Quarta dose: podem receber os adultos maiores de 40 anos e os trabalhadores de saúde com mais de 18 anos.
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