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Petiscos contaminados: quatro representantes da Tecnoclean são indiciados

Crime é considerado hediondo pela legislação e envolvidos podem pegar de 10 a 15 anos de reclusão, além de ter que pagar multa

Mallu faleceu após consumir petiscos contaminados da Bassar Pet Food.

Quatro representantes da Tecnoclean foram indiciados pela Polícia Civil de Minas Gerais pela contaminação de petiscos que resultou, apenas no estado, na morte de 14 cães. A delegada Danubia Quadros explicou, nesta segunda-feira (5), que a legislação entende o crime como hediondo e que os envolvidos podem pegar de 10 a 15 anos de reclusão, além de pagamento de multa.

Ainda de acordo com Danubia, o indiciamento não exclui “a responsabilidade (administrativa e cível) das demais empresas da cadeia produtiva até chegar ao consumidor final”. Porém, a parte criminal foi imputada apenas à Tecnoclean. Ao todo, foram investigadas cinco empresas.

“A Polícia Civil concluiu que a empresa Tecnoclean vendeu produto de grau alimentício sendo que estava apenas autorizada venda para grau industrial [...] Esse produto não tem grau de pureza para o ramo alimentício”, esclareceu Danubia, que está à frente da Delegacia do Consumidor.

Durante as investigações, foram realizadas oitivas, produzidos laudos periciais e notas fiscais que foram incluídas ao inquérito policial. Além disso, foi coletado em um telefone uma conversa crucial para a apuração do caso.

“Foi apreendido um telefone com uma conversa que foi extraída de uma funcionária da Tecnoclean e do representante da A&D [ A&D Química Comércio Eireli - importador do produto]. Nessa conversa via WhatsApp, o representante da A&D deixou claro para a pessoa da Tecnoclean que o seu produto não poderia ser vendido para o ramo alimentício, ou seja, para o consumo humano ou animal”, explicou.

“Ele deixou claro em mais de uma oportunidade que a A&D não tem autorização para a venda do produto com grau de pureza para o ramo alimentício. Então foi uma conversa importante e, dela, a gente extraiu que a Tecnoclean realmente sabia e assumiu o risco de produzir o alimento”, acrescentou.

Troca de rótulos

Além disso, a delegada também explicou sobre a troca dos rótulos de monoetilenoglicol e propilenoglicol. “Foi apurada também durante as investigações a incorreta identificação de rótulos. Desta conversa, via celular, a gente também extraiu o layout, a planta da empresa Tecnoclean, e identificou que o monoetilenoglicol e o propilenoglicol eram acondicionados em barris idênticos com cores semelhantes, um ao lado do outro à época dos fatos”, destacou.

“Existe nessa empresa específica um sistema falho de rastreabilidade que, inclusive, dificulta a apuração tanto policial quanto administrativa. A empresa compra o produto e apenas troca o rótulo [...] Essa incorreta identificação também evidenciou a participação direta da empresa Tecnoclean na contaminação dos animais”, completou.

Produto mais barato

A delegada explicou também que o monoetilenoglicol é mais barato que o propilenoglicol. No entanto, o primeiro insumo citado é altamente tóxico se consumido em doses excessivas, já o segundo pode ser usado para produção de alimentos. “A gente acredita que tem viés econômico para uma finalidade imprópria”, destacou.

Entenda

A investigação teve início após tutores desconfiarem da morte de dois cães e levarem corpos para serem periciados pela Escola Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Conforme laudo de necropsia, os animais morreram por “ lesões renais graves” em decorrência de consumo de etilenoglicol. Na ocasião, os donos suspeitaram que a substância estava em petiscos.

No dia 2 de setembro, a Polícia Civil divulgou dados que confirmam a presença de monoetilenoglicol - mesmo que etilenoglicol - em um petisco recebido pela instituição de um dos tutores que registrou denúncia. Após a coletiva, o MAPA determinou o fechamento da fábrica e recall de produtos.

No decorrer da investigações, os órgãos constataram que petiscos de outras marcas também foram contaminados por etilenoglicol, vendido pela empresa Tecnoclean.

Com informações de Oswaldo Diniz

Patrícia Marques é jornalista e especialista em publicidade e marketing. Já atuou com cobertura de reality shows no ‘NaTelinha’ e na agência de notícias da Associação Mineira de Rádio e Televisão (Amirt). Atualmente, cobre a editoria de entretenimento na Itatiaia.