Os problemas enfrentados pelos motoristas com o estacionamento rotativo em Belo Horizonte vão além das dificuldades para encontrar vagas e dos transtornos com os flanelinhas. O sistema também apresenta falhas envolvendo os aplicativos utilizados para a compra e acionamento dos créditos digitais.
Usuários ouvidos pela Itatiaia afirmam que os apps costumam travar no momento de ativar o serviço ou até mesmo não registrar corretamente o crédito acionado para a vaga de estacionamento. Isso implica em multas para os motoristas, uma vez que a Guarda Municipal ao verificar o sistema constata que o veículo está parado na vaga rotativa de forma irregular.
Uma estudante universitária, que pediu para não ser identificada, detalha os problemas enfrentados por ela, por outros colegas e professores de uma faculdade no bairro Funcionários, região Centro-Sul de Belo Horizonte.
“Trava em dois momentos. O rotativo começa a valer a partir das 8h, mas como estou indo para a faculdade, estaciono o carro mais cedo para conseguir uma vaga. Assim que estaciono, já quero acionar o crédito digital para não esquecer quando estiver na aula, o aplicativo permite fazer isso. Mas muitas vezes não consigo porque acontece algum erro de processamento”, reclama.
Outra motorista relata que tentou comprar créditos pelo app após estacionar em uma vaga rotativa, mas o sistema informou falha no pagamento. Além do risco de ser multada, ela ainda descobriu depois que o valor dos créditos foi descontado normalmente no cartão de crédito.
“Foi no bairro Funcionários, no período da manhã, em que eu fiz quatro tentativas de pagamento e o aplicativo não finaliza para eu estacionar corretamente na vaga rotativa. O app mostrava que o pagamento foi concluído, mas depois descobri que o valor foi descontado normalmente no meu cartão de crédito. A empresa disse que faria o estorno, mas isso não aconteceu”, diz.
Ainda que os problemas com os aplicativos sejam eventuais, o sistema do rotativo digital em BH, como funciona hoje, apresenta outro inconveniente para os motoristas: a dificuldade para encontrar pontos de venda físicos.
Venda
De acordo com a prefeitura, bancas de jornais, lanchonetes, livrarias e outros estabelecimentos espalhados pela cidade estão credenciados para comercializar os créditos digitais. A lista com esses locais consta apenas no site da prefeitura. Sendo assim, se o motorista estiver sem celular ou internet no aparelho a situação fica bastante complicada.
Nem mesmo os flanelinhas, que estão diariamente nas ruas, sabem informar com precisão onde tem um ponto de venda. É o que observa o lavador de carros Adão Gomes, que trabalha nas ruas da Savassi há 25 anos.
“Não está funcionando dessa maneira e não há opção para o motorista. Muitos turistas chegam de carro e nem sabem qual aplicativo baixar. A internet às vezes não funciona. A opção seria a banca de revistas, mas a maioria das bancas estão fechadas. Então os motoristas procuram o faixa azul com a gente, que trabalha lavando carro. Penso que seria bom para o motorista que as folhas voltassem”, pondera Gomes.
Sem papel
As folhas de papel do estacionamento rotativo, que tiveram a impressão interrompida com o advento do sistema digital em 2018, não são mais aceitas desde o dia 10 de janeiro deste ano e a BHTrans desconsidera a hipótese de voltar atrás. A empresa responsável pelo trânsito na capital garante que a cada dois quarteirões, no máximo, existe um ponto de venda físico de créditos digitais.
Proprietário de uma banca de revistas na avenida do Contorno, na área hospitalar, Luis Antônio diz que cada vez mais os empresários em BH estão desistindo de vender o rotativo digital.
“Não vale mais a pena porque a venda caiu muito. Antigamente tínhamos uma condição boa, vendendo muitos talões do faixa-azul. De repente tiraram da gente e agora vendemos apenas um, dois créditos digitais por semana. Gera boleto, gera custos e definitivamente não vale a pena. Por aqui, na área hospitalar, está muito difícil encontrar ponto de venda físico porque todo mundo desistiu de vender”, alerta.
Em nota, a BHTrans afirma que “quando há instabilidade no sistema de estacionamento rotativo, não há autuações aos veículos. Assim que detectada a instabilidade, a informação chega eletronicamente para o Centro de Operações da Prefeitura de Belo Horizonte (COP-BH) e também para os agentes, que não realizam fiscalização nas vagas de rotativo”.