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Mortes de mulheres apenas por ser mulher passam de 700 em Minas só neste ano

Estado acumula 183.806 processos de violência doméstica. Minas se debruça em campanhas de combate aos crimes contra mulheres

Emily foi atingida com dez golpes dentro de casa, no bairro Cardoso, na região do Barreiro

“Ela era uma menina muito excepcional. Emily correria atrás dos seus ideais, trabalhava desde cedo, com 15 anos”. Esse é o relato emocionado do pai de Emily Ferreti, Julei Anderson. Ela tinha 25 anos quando foi assassinada a facadas pelo ex-companheiro no bairro Cardoso, na cidade de Betim, na região Metropolitana de Belo Horizonte.

O irmão mais novo dela, de 16 anos, tentou defendê-la golpeando Thales com um pedaço de madeira e também foi ferido na mão. Emily chegou a ser socorrida e levada ao Hospital Júlia Kubitschek, mas não resistiu aos ferimentos.

O crime, que teve grande repercussão, aconteceu em agosto, mas para a família dela, o trauma permanece vivo até hoje. “Eu estava no meu trabalho e meu filho me ligou me dando notícia de que ele havia entrado dentro da minha casa e a golpeado”, contou a mãe, Fernanda Ferreti.

O assassinato de Emily Ferreti não é um caso isolado. Apenas neste ano, mais de 700 mulheres foram vítimas de feminicídio no estado. Isso é o que aponta a superintendente da Coordenadoria da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar (Comsiv) do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), Evangelina Castilho Duarte.

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“Nós temos, em Minas, cerca de 300 comarcas espalhadas pelo interior e, em 2022, 700 casos de feminicídios - que é morte de mulher só pela situação de ser mulher. Temos 183.806 processos sobre outros tipos de violência violência como, física, sexual e psicológica”, disse a desembargadora. Em Belo Horizonte, são 21.154 processos de violência doméstica familiar em andamento.

A jovem Emily fez dois boletins de ocorrência contra o agressor além de ter uma medida protetiva deferida pela Justiça. A desembargadora Evangelina explica que apesar do estigma existente quanto a uma suposta ineficácia das medidas, as estatísticas mostram o contrário.

“Aqueles que estão sob medida protetiva, seja afastamento do lar e/ou afastamento da esposa, a porcentagem é de cerca de 1% de reincidência. Nós temos, também, um programa de acolhimento dos homens que são autores da violência: o grupo reflexivo sobre violência doméstica. Essa reincidência é, também, de 1%. Então, depois que eles chegam na Justiça, a violência tende diminuir”

Prevenção

O fato de o assassino estar preso gera uma sensação de Justiça, mas não traz a vítima de volta e, por isso, além das sentenças, o judiciário mineiro desenvolve uma série de ações que visam prevenir o ápice da violência doméstica.

“A gente pode citar, recentemente, o projeto que atendeu mais de 200 mulheres pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) em que foram oferecidos cursos de capacitação para combater a dependência econômica, no qual mulheres são submetidas em situação de violência doméstica”, disse titular do Segundo Juizado de violência doméstica e familiar de Belo Horizonte, o juiz Marcelo Gonçalves de Paula.

Já em relação aos homens, são feitos também projetos que atendem as construções civis. “O Tribunal de Justiça, através da sua equipe, vão aos canteiros de obra e lá trabalham com os homens e com as mulheres nesses locais machismo, masculinidade, ciclos de violência e outros temas que são envolvidos”, disse.

Em alguns casos, o TJMG realiza audiências de fortalecimento que visam devolver o protagonismo e melhorar a autoestima das mulheres.