Após a operação policial mais letal do Brasil, que deixou 121 mortos, especialistas discutem os acertos e erros da ação. Enquanto o Governo do Rio de Janeiro
Em entrevista ao Jornal da Itatiaia, nesta quinta-feira (30), enfatiza que a situação atual não é uma crise da segurança pública, mas sim uma crise produzida pelo próprio Estado, que “resolveu promover um massacre numa operação policial”.
Segundo Grilo, não havia aumento expressivo de ocorrências criminais, tentativas de invasão ou guerra entre facções que justificassem a operação.
“O Estado deliberadamente promoveu uma megaoperação que resultou na morte de 121 pessoas, incluindo agentes do próprio Estado, configurando uma completa irresponsabilidade”, afirmou.
A socióloga classifica o cenário como uma crise humanitária e grave, que precisa ser abordada por diferentes ministérios. “Há uma crise instalada, mas é uma crise humanitária, uma crise grave que precisa ser tratada por diversos ministérios. Há, neste momento, a formação de uma comissão interministerial para lidar com essa crise que se estabeleceu no Rio de Janeiro”, explicou.
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Em resposta à situação, foi anunciado um plano para criação de um escritório emergencial pelo
O governador, que autorizou a operação com 2.500 agentes, passou a culpar a união por uma suposta recusa de ajuda.
A reação do Governo Federal
“Não houve nenhuma recusa de oferta de ajuda, nem qualquer pedido de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) - que, aliás, nada teria mudado a situação. Em resposta às provocações e como tentativa de evitar um confronto, o governo federal sinaliza uma conversa com o governo estadual para promover uma integração. Essa integração já é uma proposta da PEC da Segurança Pública, da qual o Rio de Janeiro é um dos estados mais resistentes”, explicou Grilo.
Segundo ela, o tipo de cooperação que o governo fluminense cobra não envolve troca de inteligência ou investigações conjuntas, mas sim repasses de recursos materiais, como helicópteros blindados e reforço de homens armados.
‘Não enfraquece o Comando Vermelho (CV)’
“Sabemos muito bem que isso não é o que funciona para lidar com a questão da segurança pública no Rio de Janeiro”, acrescentou.A operação é considerada a mais letal da história do país, e, segundo Carolina Grilo, não enfraquece o Comando Vermelho (CV).
“Do ponto de vista de uma organização criminosa, que se articula em rede e conta com uma fonte inesgotável de mão de obra devido às desigualdades estruturais, todas as pessoas mortas são substituíveis. Para o Comando Vermelho, isso não representa uma perda grave. Mas, para as famílias dessas pessoas, é irreparável.”
Ela destaca ainda que a desproporção entre mortos e feridos excede qualquer parâmetro internacional e indica abuso da força. A socióloga ressalta que é precipitado acusar as vítimas de serem criminosos antes da conclusão das investigações.
“A desproporção — quatro policiais mortos e 117 pessoas mortas pela polícia — constitui um grave indício de execuções sumárias e de mortes por engano, de pessoas que fugiam do tiroteio ou tentavam se abrigar”, concluiu.