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Vítimas do caso Backer seguem sem indenização e relatam abandono após absolvição dos acusados

Cinco anos após a tragédia da cerveja Belorizontina, vítimas ainda enfrentam sequelas, dificuldades financeiras e a sensação de impunidade

Acordo prevê R$ 500 mil para vítima mais R$ 150 mil para cada familiar de primeiro grau

A indignação das vítimas e familiares do caso de contaminação da cerveja Belorizontina, da Cervejaria Backer, vai além da decisão da Justiça que absolveu os dez réus acusados, na última terça-feira (4). Em meio ao luto e às sequelas graves deixadas pela intoxicação, os afetados relatam que a empresa interrompeu o pagamento dos auxílios e ajudas de custo que eram repassados para pagar tratamentos e despesas básicas.

A intoxicação por dietilenoglicol, substância identificada nas investigações, provocou a morte de dez pessoas e deixou dezenove gravemente feridas entre 2019 e 2020. Agora, a falta de reparação agrava ainda mais o sofrimento de quem sobreviveu e dos familiares das vítimas fatais.

Eliana Reis Faria, de 63 anos, perdeu o marido após mais de 500 dias de internação e diz que a sensação é de impunidade."Inocentá-los de tudo o que aconteceu, diante de tudo que eu presenciei com o meu marido, cego numa UTI, dói muito. Ver que eles não vão ser responsabilizados é revoltante” lamentou ela.

Em entrevista à Itatiaia, a idosa afirmou que a cervejaria interrompeu o repasse de valores que vinha fazendo após um processo cível. “A Baker estava pagando uma quantia e, depois daquele processo, simplesmente parou de pagar. Eu quero muito que eles sobrevivam, que haja uma maneira de obrigá-los a não pedir falência. As vítimas precisam de auxílio”, reforçou.

O aposentado Humberto Fernandes Melo, de 70 anos, também foi contaminado. Ele perdeu 60% da função renal e enfrenta sequelas neurológicas e faciais. “Para mim, eles davam uma ajuda de custo de R$ 4.500, mas já faz seis meses que não estão pagando. A indenização não tem nenhuma perspectiva, porque a empresa está em recuperação judicial e a lei permite que ela administre isso da forma que quiser”, explicou.

Humberto contou também que segue com acompanhamento médico, fisioterapia e fonoaudiologia para amenizar os efeitos da contaminação. “Mudou completamente o meu modo de vida” afirmou.

O autônomo Vanderlei de Paula Oliveira, de 43 anos, que também foi contaminado e chegou a passar por um transplante, lamentou a decisão da Justiça. “Existe um crime, existem as vítimas, mas não há culpados. É muito difícil receber essa notícia sem um resultado prático”, desabafou.

A Itatiaia entrou em contato com a Cervejaria Três Lobos, responsável pela marca Backer, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.

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Jornalista pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Na Itatiaia desde 2022, trabalhou na produção de matérias para a rádio, na Central Itatiaia de Apuração e foi produtora do programa Itatiaia Patrulha. Atualmente, cobre factual e é repórter da Central de Trânsito Itatiaia Emive.
Formada em jornalismo pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH), já trabalhou na Record TV e na Rede Minas. Atualmente é repórter multimídia e apresenta o ‘Tá Sabendo’ no Instagram da Itatiaia.