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Intoxicação por metanol em bebidas de SP lembra caso da Backer em BH

Duas pessoas morreram e outros dez casos estão sob investigação em São Paulo; estudante perdeu a visão após beber gim adulterado

Intoxicação por metanol em bebidas em SP lembra caso da Backer, em BH

Os casos de intoxicação por metanol em bebidas alcoólicas em São Paulo, que estamparam as capas de portais nesse fim de semana, ainda estão em investigação, com muitas dúvidas envolvidas.

As duas mortes, ocorridas em São Bernardo do Campo e na capital paulista, vieram à tona, quando o Centro de Vigilância Sanitária (CVS) do estado confirmou que, desde junho, seis casos de intoxicação por metanol já haviam sido registrados. As ocorrências chamaram atenção por serem numerosas em um curto período.

Os relatos de mortes e internações por bebidas contaminadas lembram o caso Backer, outra tragédia que aconteceu em janeiro de 2020, em Belo Horizonte. Mensagens nas redes sociais denunciavam internações em hospitais da cidade de pessoas que consumiram a cerveja Belorizontina e apresentaram problemas de saúde, como insuficiência renal, necessidade de hemodiálise, complicações neurológicas, cegueira, internações em UTI e até mortes.

A Polícia Civil de Minas Gerais confirmou, à época, a contaminação por dietilenoglicol e monoetilenoglicol, substâncias tóxicas usadas como anticongelantes na indústria de bebidas. Pelo menos dez pessoas morreram e outras 19 tiveram sequelas.

    Em 2023, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e a Cervejaria Três Lobos Ltda, responsável pela Backer, fizeram um acordo que trata da indenização por dano material às vítimas de intoxicação após o consumo de uma cerveja produzida pela empresa.

    Com o acordo, cada vítima deve receber R$ 500 mil, além de um salário mensal até estar completamente capaz de voltar ao trabalho. Cada familiar de primeiro grau das vítimas vai receber R$150 mil e a Backer ficou responsável por pagar todo o custo dos tratamentos médicos das vítimas.

    Onze pessoas respondem pela adulteração e contaminação da bebida, incluindo três sócios da Backer. No entanto, os fundadores da marca, Munir Khalil Lebbos e Halim Khalil Lebbos, que comandam a cervejaria, não foram incluídos na denúncia do Ministério Público nem foram indiciados pela Polícia Civil. Porém, após cinco anos, o julgamento não foi concluído.

    Bebidas falsificadas

    Na contaminação por metanol em São Paulo, todos os casos estão ligados ao consumo de bebidas alcoólicas falsificadas, segundo a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos (Senad). Para a Associação Brasileira de Combate à Fiscalização (ABCF), a principal suspeita é de que o metanol usado na adulteração seja o mesmo importado ilegalmente pelo PCC, utilizado para batizar combustíveis.

    De acordo com a Polícia Civil, que investiga o caso, as vítimas, com idades entre 23 e 27 anos, consumiram uma garrafa de gim no dia 1º de setembro. Até a última atualização, os órgãos de saúde ainda não haviam esclarecido como ocorreram as intoxicações.

    Estudante ficou cego temporariamente após ingerir gim adulterado

    O estudante Diogo Marques relatou ter perdido a visão após beber gim com energético. Em entrevista ao Fantástico, da TV Globo, nesse domingo (28), ele contou: “Acordei, abri o olho e estava tudo preto, com uma dor de cabeça muito forte.” Diogo precisou ficar internado três dias depois que exames confirmaram a presença de metanol em seu sangue.

    Segundo familiares, as bebidas foram compradas em uma adega que os amigos já frequentavam.

    Um colega do estudante segue internado em estado grave há 28 dias. “Ele está respirando pelo ventilador, não tem fluxo sanguíneo cerebral. Segundo a medicina, é irreversível”, disse a mãe de Rafael.

    O que é o metanol?

    O metanol, encontrado na bebida ingerida por Diogo e os amigos, é uma substância altamente inflamável e de difícil identificação. Segundo informações da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, é um “composto orgânico da família dos álcoois, sendo líquido à temperatura ambiente”. O cheiro do produto, que também é inflamável e incolor, se assemelha ao de uma bebida alcoólica comum. No Brasil, sua principal função é servir como matéria-prima para a produção de biodiesel.

    O Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), por meio da Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) e do Conselho Nacional de Combate à Pirataria e Delitos contra a Propriedade Intelectual (CNCP), emitiu, no sábado (27), uma recomendação urgente aos estabelecimentos que comercializam bebidas alcoólicas no estado de São Paulo e em regiões próximas.

    Riscos à saúde

    A ingestão, inalação ou até mesmo o contato prolongado com metanol pode causar náusea, tontura, cegueira e até a morte. Pequenas quantidades já são suficientes para provocar intoxicação grave.

    O produto também é inflamável, podendo gerar incêndios e explosões em caso de manuseio inadequado. A presença de metanol em excesso na gasolina ou no etanol adulterado multiplica os perigos: além de enganar o consumidor, pode levar a falhas mecânicas graves e colocar motoristas e passageiros em risco de acidentes.

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    Formada em jornalismo pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH), já trabalhou na Record TV e na Rede Minas. Atualmente é repórter multimídia e apresenta o ‘Tá Sabendo’ no Instagram da Itatiaia.