Estudo aponta as 20 cidades mais violentas da Amazônia Legal; veja lista completa

Presença de facções criminosas cresce e já alcança quase metade dos municípios da região, segundo estudo do Forúm Brasileiro de Segurança Pública

Estudo divulgado nesta quarta-feira (19) mostra que a presença de facções cresceu e chegou a quase metade das 772 cidades da região

O Forúm Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) divulgou, nesta quarta-feira (19), um estudo que lista as 20 cidades mais violentas da Amazônia Legal. A presença de facções chegou a quase metade das 772 cidades da região.

A Amazônia Legal é formada por nove estados: Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins.

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Os municípios foram divididos em quatro escalas, de acordo com o número de habitantes:

  • Pequeno 1: até 20 mil habitantes.
  • Pequeno 2: de 20 mil a 50 mil habitantes.
  • Médio: de 50 mil a 100 mil habitantes.
  • Grande: acima de 100 mil habitantes.

O FBSP considerou as taxas de mortes violentas intencionais registradas nos últimos três anos, calculadas a cada grupo de 100 mil habitantes. Com esses dados, o estudo apontou os municípios com as maiores taxas:

Muncípio UFHabitantesvariação taxa trienal
Vila Bela da Santíssima TrindadeMTAté 20 mil250%136,10
Nobres MTAté 20 mil-11%114,30
Calçoene PAAté 20 mil-20%105,30
Alto Paraguaí MTAté 20 mil-8%99,30
Cumaru do Norte APAté 20 mil98,2098,20
Rio Preto da Eva AMDe 20 a 50 mil178%98,50
Barra do BugresMTDe 20 a 50 mil52%89,00
AripuanãAM De 20 a 50 mil0%85,90
Novo ProgressoPADe 20 a 50 mil-48%85,80
MocajubaPADe 20 a 50 mil-29%85,60
São Félix do XinguPADe 50 a 100 mil-20%61,20
CoariAM De 50 a 100 mil91%60,50
IrandubaAM De 50 a 100 mil-76%59,10
TabatingaAM De 50 a 100 mil-11%57,60
Santa InêsAMDe 50 a 100 mil0%57,10
SorrisoMTAcima de 100 mil-8%65,30
SantanaAP Acima de 100 mil31%60,00
Ituituba PAAcima de 100 mil-28%48,10
MacapáAPAcima de 100 mil7%52,50
Altamira PAAcima de 100 mil-54%50,90

Fonte: Fórum Brasileiro de Segurança Pública

Segundo o estudo, as situações das cidades são as seguintes:

  • Vila Bela da Santíssima Trindade (MT): posição estratégica para o tráfico de drogas pela proximidade com a Bolívia.
  • Nobres (MT): sob influência do CV e com conflitos entre a facção e o PCC.
  • Calçoene (AP): cortada pela BR-156, usada como corredor para o tráfico de drogas.
  • Alto Paraguai (MT): dominado pela Tropa do Castelar, dissidência do Comando Vermelho.
  • Cumaru do Norte (PA): violência ligada a conflitos agrários, garimpo, facções e desmatamento acelerado.
  • Rio Preto da Eva (AM): disputas entre PCC e CV ao longo de 2024.
  • Barra do Bugres (MT): rota estratégica para o escoamento de drogas vindas da Bolívia, disputada por CV e PCC.
  • Aripuanã (MT): garimpo ilegal, tráfico e atuação do Comando Vermelho em território indígena.
  • Novo Progresso (PA): atravessada pela BR-163, rota do tráfico e palco de conflitos fundiários.
  • Mocajuba (PA): parte da violência ligada ao CV; metade das mortes foi causada pela polícia.
  • São Félix do Xingu (PA): combinação de desmatamento, conflitos fundiários e presença de facções.
  • Coari (AM): rota hidroviária estratégica para escoar drogas do Peru e Colômbia.
  • Iranduba (AM): município da região metropolitana de Manaus, com forte atuação do CV.
  • Tabatinga (AM): tríplice fronteira com Peru e Colômbia; uma das principais entradas de drogas no país.
  • Santa Inês (MA): cortada por duas rodovias, uma ferrovia e com aeroporto regional; área estratégica para crimes.
  • Sorriso (MT): facções CV e PCC disputam o território desde 2023.
  • Santana e Macapá (AP): concentram 75% da população do estado e 79% das mortes violentas; localização favorece crimes transfronteiriços.
  • Altamira (PA): maior município do país, com histórico de grilagem e desmatamento; disputas entre CCA e CV.
  • Itaituba (PA): eixo estratégico no rio Tapajós, com forte presença de garimpo ilegal e facções criminosas.

Presença de facções cresce e chega a quase metade da Amazônia

O estudo mostra que a presença de facções criminosas chegou a 45% dos municípios da Amazônia Legal.

Das 772 cidades da região, 344 apresentaram algum indício da atuação de grupos criminosos. O aumento é de 32,3% em relação ao ano passado, quando eram 260 cidades.

Para o FBSP, o crescimento está ligado ao controle das rotas do tráfico de drogas, especialmente no Alto Solimões. Crimes como o garimpo ilegal também impulsionam a expansão desses grupos.

Quantas e quais são as facções

Os pesquisadores identificaram 17 grupos criminosos, nacionais e internacionais, como o Comando Vermelho (CV), o Primeiro Comando da Capital (PCC), o Tren de Araguá (Venezuela) e dissidências das ex-Farc, da Colômbia.

O CV tem influência em 83% das cidades com facções, chegando a 286 municípios — entre domínio e disputa. O grupo teve crescimento de 123% desde 2023.

O PCC está presente em 90 municípios, com controle em 31 e disputa em 59. A presença é semelhante à registrada há dois anos, quando estava em 93 cidades.

As 17 facções identificadas são:

  • Comando Vermelho (CV);
  • Primeiro Comando da Capital (PCC);
  • Amigos do Estado (ADE);
  • Bonde dos 40 (B40);
  • Primeiro Comando do Maranhão (PCM);
  • Família Terror do Amapá (FTA);
  • União Criminosa do Amapá (UCA);
  • Comando Classe A (CCA);
  • Bonde dos 13 (B13);
  • Bonde dos 777 (dissidência do CV);
  • Tropa do Castelar;
  • Piratas do Solimões;
  • Bonde do Maluco (BDM);
  • Guardiões do Estado (GDE);
  • Tren de Araguá (Venezuela);
  • Estado Maior Central (ECM, Colômbia);
  • Ex-Farc Acácio Medina (Colômbia).

A presença varia conforme a localização: municípios próximos de fronteiras têm maior índice de atuação.

  • Acre: 22 de 22 municípios (100%);
  • Amapá: 10 de 16 (62,5%);
  • Amazonas: 25 de 62 (40%);
  • Maranhão (parte amazônica): 53 de 181 (29%);
  • Mato Grosso: 92 de 141 (65%);
  • Pará: 91 de 144 (63%);
  • Rondônia: 21 de 52 (40%);
  • Roraima: 13 de 15 (80%);
  • Tocantins: 17 de 139 (12%).

(Sob supervisão de Alex Araújo)

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Izabella Gomes é estudante de Jornalismo na PUC Minas e estagiária na Itatiaia. Atua como repórter no jornalismo digital, com foco nas editorias de Cidades, Brasil e Mundo.

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