Pai de trans morta na Savassi, em BH, depõe e questiona: ‘Por que não estão presos?

Muito abalado, Edson Alves relatou que passou a temer pela própria segurança depois de ter seu nome divulgado

Após morte de Alice, pai presta depoimento e cobra prisão de agressores

Edson Alves Pereira, pai de Alice Martins Alves, mulher trans de 33 anos, prestou depoimento formal pela primeira vez no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), em Belo Horizonte, nesta quarta-feira (19). Alice morreu 18 dias após ser brutalmente agredida por dois funcionários do bar Rei do Pastel, na Savassi, Região Centro-Sul da capital. As agressões ocorreram em 23 de outubro.

O Boletim de Ocorrência (B.O.) havia sido registrado em 5 de novembro, em uma delegacia especializada, mas, na ocasião, nem Alice nem o pai, Edson Alves Pereira, foram ouvidos. Agora, ele falou pela primeira vez como pai e como testemunha. “Eu tenho observado que o DHPP começou um trabalho intenso em cima disso”, disse Edson, ainda muito abalado.

Mesmo assim, o pai afirmou estar revoltado ao saber que os dois funcionários identificados pela Polícia Civil seguem em liberdade. “Já tem a identificação dos elementos. Por que não estão presos? Quem está facilitando que esses indivíduos continuem soltos?”, questionou.

‘Ela me disse que foram eles’

Edson contou que, antes de morrer, Alice afirmou a ele que os responsáveis eram “do Rei do Pastel”. Ele acredita que o depoimento prestado nesta quarta pode ajudar a confirmar a participação dos agressores.

Muito abalado, Edson relatou que passou a temer pela própria segurança depois de ter seu nome divulgado. “Eu tô em pânico, tô com medo, entendeu?”, desabafou. Ele disse que tem evitado sair de casa, mas recebeu demonstrações de apoio: “Tive que enfrentar a esquina onde frequento às vezes. Vieram me dar um abraço”, contou.

Suspeitos estão identificados

A PC confirmou na semana passada, em coletiva de imprensa, que os dois funcionários do Rei do Pastel envolvidos nas agressões já foram identificados.

“Medidas cautelares foram solicitadas. Se tem interceptação telefônica, se tem mandado de busca, se tem prisão, obviamente a gente não vai divulgar porque esses indivíduos estão em liberdade”, explicou o delegado Thiago Machado. O caso corre sob sigilo.

Requisito para prisão preventiva

O advogado Thiago Lenoir, que representa o pai, afirmou na chegada à delegacia que houve uma série de falhas que atrasaram a apuração. “A autoria deveria ter sido consignada no dia dos fatos. A Polícia Militar conversou com Alice, prestou atendimento, e por que esses dois indivíduos, que estavam a menos de 40 metros dali, não foram presos?”, questionou.

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Para ele, há requisitos suficientes para prisão preventiva. “Eles não podem estar em liberdade. No dia dos fatos, ameaçaram uma testemunha-chave que, hoje, a Polícia Civil tem dificuldade para localizar”, completou, se referindo ao motociclista que interviu nas agressões.

Relembre o que aconteceu

Alice foi espancada no dia 23 de outubro, quando deixava o bar para ir para casa. Segundo a investigação, dois funcionários passaram a persegui-la após ela sair sem pagar uma conta de R$ 22 — comportamento que, de acordo com a PC, já teria ocorrido outras vezes, sem que houvesse confusão anterior.

Áudio vazado de um funcionário aponta que Alice foi agredida por ter deixado o local sem pagar a conta. O espancamento só parou quando um motociclista que passava pela rua interveio.

Alice foi socorrida ainda no dia da agressão. Seu estado clínico piorou ao longo dos dias, e, em 8 de novembro, uma nova internação constatou a perfuração intestinal. Ela morreu no dia 9, em um hospital particular de Betim, na Região Metropolitana. O Rei do Pastel se manifestou publicamente em uma publicação no Instagram.

A reportagem entrou em contato com a PCMG e aguarda um posicionamento.

Formou-se em jornalismo pela PUC Minas e trabalhou como repórter do caderno de Gerais do jornal Estado de Minas. Na Itatiaia, cobre principalmente Cidades, Brasil e Mundo.
Jornalista formado em Comunicação Social pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH). Na Itatiaia desde 2008, é “cria” da rádio, onde começou como estagiário. É especialista na cobertura de jornalismo policial e também assuntos factuais. Também participou de coberturas especiais em BH, Minas Gerais e outros estados. Além de repórter, é também apresentador do programa Itatiaia Patrulha na ausência do titular e amigo, Renato Rios Neto.

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