O avanço do garimpo ilegal e a atuação de facções criminosas voltaram a ameaçar a Terra Indígena Sararé, no Mato Grosso, mesmo após uma operação federal realizada nesse segundo semestre do ano. Relatórios internos da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), obtidos pelo jornal O Globo, apontam a
Segundo os documentos, enviados ao governo federal entre outubro e dezembro, a Operação Xapiri não conseguiu conter de forma duradoura a atividade ilegal. Poucas semanas após o encerramento da ação, garimpeiros retornaram ao território em grande número, impulsionados principalmente pela valorização do ouro no mercado.
A Funai relatou que os grupos atuam de forma organizada, com logística constante para entrada de combustível, alimentos e insumos usados na construção de estruturas improvisadas dentro da terra indígena. A movimentação ocorre inclusive durante a noite, dificultando a fiscalização e ampliando a sensação de insegurança entre as comunidades.
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Os ofícios também descreveram um cenário de violência extrema, com registros de assassinatos, chacinas e ataques contra agentes públicos. Há relatos de confrontos armados, circulação de fuzis e uso de explosivos, além de tentativas de cooptação de indígenas para esconder armas ou facilitar o acesso dos criminosos às aldeias.
Informações de inteligência citadas nos documentos indicam a expansão do Comando Vermelho na área, além de disputas entre facções rivais pelo controle dos pontos de extração ilegal de minério. A presença do grupo criminoso teria levado garimpeiros a contratar seguranças armados, formando estruturas semelhantes a milícias privadas.
Em um dos relatórios, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) estima que apenas um garimpo sob influência do CV concentre cerca de dez fuzis. Um delegado da Polícia Federal, citado nos documentos, classifica o processo como uma “mexicanização” do território, em referência ao domínio armado exercido por organizações criminosas.
A Funai também alerta para o agravamento da situação dentro das aldeias, com ameaças a lideranças indígenas e uso das rotas de acesso às comunidades por criminosos. Há ainda indícios de que grupos que deixaram a região durante a operação federal já planejavam retornar com maior intensidade.