A família e uma amiga de Vitória Regina de Sousa, de 17 anos, contestaram a versão do crime dada pelo suspeito, Maicol Sales dos Santos, em sua confissão do crime à Polícia Civil. O pai da jovem, o primo dela e a amiga a qual ela conversava no dia do crime acreditam que a versão do suspeito é falsa e que ele não agiu sozinho.
O depoimento de Maicol, que está preso desde o dia oito de março, foi gravado em um vídeo, divulgado pelo Fantástico neste domingo (23). Nele, ele afirma que matou a jovem porque ela ameaçava contar para a esposa dele sobre um breve relacionamento que os dois tiveram no ano passado. Vitória, no entanto, nunca havia falado de Maicol para amigos e familiares.
Vitória desapareceu no dia 26 de fevereiro, enquanto voltava do trabalho, em Cajamar, São Paulo. Ela foi vista pela última vez descendo de um onibus perto de casa. Segundo a Polícia Civil, imagens e dados do celular de Maicol indicavam que ele a seguia, e descobriu onde ela estava através de uma publicação feita por ela no Instagram.
Maicol relatou à PC que ofereceu carona à vítima e que ela entrou no carro por vontade própria. Os dois teriam discutido sobre o relacionamento e sobre o fato de Vitória querer contar para a esposa dele. Em certo momento da discussão, ele foi agredido por Vitória e, então, pegou uma faca e deu dois golpes nela.
A perícia, porém, constatou três ferimentos em Vitória. Outra divergência encontrada pelos agentes foi dentro do veículo: não foram encontrados vestígios de sangue ou fios de cabelo nos bancos, apenas uma mancha de sangue e um cabelo no porta-malas. Maicol disse que limpou o carro e que levou o corpo de Vitória até o local onde a enterrou dentro do porta-malas. Ele contou que jogou a faca dentro de um rio.
O corpo, no entanto, foi encontrado em um terreno baldio, sob o solo, não enterrado, em um local diferente do indicado pelo suspeito. Uma enxada e uma pá também foram encontradas próximas ao corpo, e Maicol havia afirmado no depoimento que levou os objetos para casa.
A PC encontrou várias fotos de mulheres parecidas com Vitória no celular de Maicol, e afirma que ele era “obcecado” por ela e que a monitorava.
Família e amiga não acreditam em carona e que Maicol agiu sozinho
No dia em que desapareceu, Vitória havia conversado com uma amiga enquanto voltava do trabalho. Ela relatou medo após dois homens a seguirem, mas, depois, disse que estava tranquila uma vez que eles seguiram em direção a uma favela próxima ao local.
Essa amiga de Vitória não foi identificada e não quis gravar entrevista, mas relatou ao Fantástico que Vitória nunca havia falado sobre Maicol e que ela “não era de ameaçar ninguém”.
João Gustavo de Almeida, primo de Vitória, afirmou que a família deseja que seja feita uma reconstituição do crime. “Se ele alega que foi dessa forma que ele fez, então que ele demonstre na prática como que foi feito”, disse.
O pai da jovem, Carlos Alberto Sousa, também contestou o fato dela ter supostamente pegado carona com ele sem ter avisado. Segundo ele, Vitória tinha o costume de avisar ao pai caso pegasse alguma carona. Ela também nunca havia dito nada sobre Maicol ao pai. Carlos Alberto acredita que o suspeito não agiu sozinho.
“Eu quero saber de todos que estavam junto com ele. Todos. Eu falo todos porque eu tenho a certeza que não é mais um, deve ser mais dois ou mais três envolvidos nessa tramoia. Ele não agiu sozinho de jeito nenhum”, afirmou.
Defesa pedirá anulação da confissão
A defesa de Maicol afirmou que pedirá anulação da confissão, uma vez que ele pode ter sido coagido a falar tudo aquilo. Em nota enviada à imprensa, os advogados do suspeito afirmam que a confissão foi “cercada por graves irregularidades”.
“A ausência dos advogados constituídos no ato, a realização da oitiva durante o período de repouso noturno e a coação psicológica sofrida e relatada pelo investigado são elementos que não podem ser ignorados”, dizia a nota.
Leia a nota na íntegra:
NOTA DA DEFESA
A defesa de Maicol Antônio Sales dos Santos questiona, veementemente, a conduta adotada pelo delegado responsável pelo caso, que, sem ordem judicial, agendou a realização de uma perícia psiquiátrica. Tal medida desrespeita expressamente o artigo 149, §1º, do Código de Processo Penal, tornando sua realização ilegal e arbitrária.
Além disso, causa extrema preocupação o momento em que essa perícia foi determinada: apenas um dia após a suposta confissão de Maicol, que, por si só, já está cercada de graves irregularidades. A ausência dos advogados constituídos no ato, a realização da oitiva durante o período de repouso noturno e a coação psicológica sofrida e relatada pelo investigado são elementos que não podem ser ignorados.
Diante desse cenário, a defesa questiona: qual o verdadeiro interesse da Polícia Civil nessa avaliação psiquiátrica? Haveria uma tentativa de validar uma confissão extraída sob questionáveis circunstâncias? O objetivo seria encerrar as investigações a qualquer custo, mesmo em detrimento das garantias fundamentais do investigado? Reafirmamos que o devido processo legal deve ser respeitado em sua integralidade. A Constituição Federal e os tratados internacionais de direitos humanos não admitem procedimentos que violem direitos individuais e comprometam a busca pela verdade real. Seguimos vigilantes e adotaremos todas as medidas cabíveis para garantir que Maicol Antônio Sales dos Santos tenha um julgamento justo, sem vícios processuais ou arbitrariedades.