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Pai de estudante diabético eliminado do Enem rebate Inep: ‘Pegaram meu guri para Cristo’

Nessa segunda-feira (25), o responsável pela comunicação do instituto disse à Itatiaia que pedido de reaplicação tinha sido aceito

O estudante de 17 anos eliminado do primeiro dia da prova do Enem após o sensor de glicemia disparar ainda não sabe se terá possibilidade de refazer a prova. Em entrevista emocionada à Itatiaia nesta terça-feira (26), o pai do estudante, o eletrotécnico Rudnei Noro, 54 anos, disse que a informação oficial do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) é de que o pedido de reaplicação foi negado.

Segundo ele, a informação consta na página do participante e também no e-mail recebido pelo aluno, que mora em Salto de Jacuí, no interior do Rio Grande do Sul, e fez o exame na cidade de Sobradinho, 50 km distante de Salto.

“O único meio de contato que a gente tem com o Inep é a página do participante do Enem, que é por onde meu filho acessa. Foi por ali que ele fez o pedido de solicitação para refazer a primeira prova, naquela que ele foi expulso. Naquele momento, o Inep disse que ele foi injustamente expulso, inclusive soltou uma nota dizendo que era permitido o controle de monitoramento de glicemia e que os prejudicados poderiam solicitar para refazer a prova. Na segunda prova, inclusive, meu filho teve uma sala especial para fazer e, para mim, estava tudo ok e resolvido”, disse o pai, que relata surpresa com a resposta do Inep.

Resposta do Inep

“Então, ele fez a solicitação no prazo na sexta-feira passada (dia 22) o Inep deu a deu a resposta conforme passei para vocês uma cópia da tela atualizada agora de manhã. Lembrando que hoje é terça-feira (26), são 8h30 da manhã. Eles falam que ele foi corretamente eliminado da primeira prova. Então, não aceitaram que ele refizesse a primeira prova”.

Nessa segunda-feira (25), o responsável pela comunicação do instituto disse à Itatiaia que pedido de reaplicação tinha sido aceito. Procurado novamente nesta terça-feira (26), o Inep ainda não respondeu. O espaço segue aberto.

“O Inep está anunciando na mídia que está tudo resolvido, que houve uma inconsistência de sistema, e que ele (filho) está permitido a fazer, mas não apresentam um documento comprovando. A gente não tem nada oficial, só tem a página do participante dizendo que ele não pode fazer. É só o que a gente tem até agora. Eles falam, mas não comprovaram nada para nós. Eles não apresentaram nem para imprensa um documento dizendo que realmente o meu filho pode refazer a prova”, ressalta o pai, que tentou contato via e-mail com a presidência e outros setores do Inep e recebeu respostas automáticas.

Desabafo

Rudnei diz que família está vivendo um filme para uma situação que deveria ser normal. “Três semanas atrás meu filho foi fazer uma prova corriqueira, que qualquer estudante do Ensino Médio faz, e a única coisa é que ele tem que controlar a glicemia”, lembra o pai, que considera a posição atual do Inep pior do que a adotada pelo fiscal no dia da prova.

“Agora, emocionalmente, ele ficou abalado. Da outra vez ele até ficou assim (tranquilo), porque parecia que tinha sido resolvido. Mas agora ele viu que não. Agora, ele está abalado mesmo, entende? E parece que a gente está em uma briga que a gente não é nenhum Davi contra um Golias”, comparou o pai, que aponta falta de conhecimento dos responsáveis sobre a diabetes tipo 1.

“Entrar numa celeuma dessas para cuidar da saúde do meu filho? Eu vou cuidar da saúde do meu filho. Não tem o que fazer. O Enem já nem é o mais importante nessa história. É uma questão de respeito, de manter a nossa dignidade, de provar que o meu filho tem direito a frequentar os mesmos ambientes que os outros estudantes e depois para quando for um concurso e viver a vida dele. Não sei como um órgão governamental tem total falta de desconhecimento a respeito do assunto. E parece que pegaram o guri para Cristo. Só que nós estamos aqui para proteger. Vai ser difícil eles pregarem ele nessa cruz, porque vou permitir que preguem ele nessa cruz. Sou um pai e eu vou até o fim”, avisou

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Relembre

O caso ocorreu dia 3 deste mês, em Sobradinho, no Rio Grande do Sul, e foi compartilhado nas redes sociais do pai do jovem.

Na postagem feita na rede social, o pai explicou que o filho tem diabetes tipo 1, quando há pouca ou nenhuma produção de insulina no corpo, e que precisa monitorar o nível de açúcar no sangue para saber quando tomar o medicamento. O adolescente usa no braço um tipo de sensor de glicemia, que é conectado ao celular, e apita quando os níveis estão fora do normal.

Ainda conforme o pai, o celular do adolescente estava sob a posse do fiscal na hora da prova, quando o alarme do sensor disparou uma vez. A situação já foi suficiente para que o estudante fosse eliminado e retirado da sala por “perturbar os demais alunos”. O adolescente ainda precisou assinar uma ata e foi obrigado a deixar a escola onde fazia a prova.

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Jornalista formado pela Newton Paiva. É repórter da rádio Itatiaia desde 2013, com atuação em todas editorias. Atualmente, está na editoria de cidades.