Com ascensão meteórica, Banco Master levantou suspeitas e teve venda negada pelo BC

Instituição está no centro de polêmicas nesta semana após anúncio de venda, prisão de dono e liquidação decretada pelo Banco Central

Empresa quintuplicou seu valor nos últimos cinco anos com comportamento considerado agressivo no mercado

O Banco Master, liquidado pelo Banco Central do Brasil nesta terça-feira (18) e cujo dono, Daniel Vorcaro, foi preso na noite de segunda-feira (17) se notabilizou nos últimos anos por um crescimento meteórico de patrimônio e por uma postura agressiva no mercado. O comportamento da instituição já chamou a atenção de autoridades reguladoras.

A trajetória do banco nesta década envolveu aportes bilionários em empresas com pouca capacidade econômica de dar retornos financeiros aos investimentos. Investigação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) apontou que as movimentações traziam suspeitas, inclusive, de transações que favoreciam empresas vinculadas à irmã de Vorcaro.

Reportagem publicada na Revista Piauí de outubro de 2024, mostrou que o patrimônio líquido do Master quintuplicou em cinco anos, saindo de R$ 219 mihões para R$ 5 bilhões. O sucesso foi inflado pela emissão de Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) a taxa de juros muito acima das praticadas no mercado.

O aumento baseado na emissão de CDBs cobertos pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC) para pessoas físicas — o que é um indicativo de baixa liquidez — chamou a atenção do mercado financeiro e do Banco Central e colocaram o Master no radar das instituições reguladoras.

Em março de 2025, o Banco de Brasília (BRB) anunciou o interesse em comprar 58% do capital do Master por cerca de R$ 2 bilhões. A operação foi investigada pelo Ministério Público do Distrito Federal (MPDFT) e passou pelo crivo do Banco Central.

Em setembro, após mais de cinco meses de análise, o Banco Central decidiu reprovar a transação. A medida foi justificada pelos riscos considerados excessivos para a transação devido à diferença nos ativos detidos pelas duas instituições.

Entre o anúncio do interesse do BRB e a decisão do Banco Central em barrar a negociação com o Master, houve entre analistas do mercado financeiro uma percepção de que a transação se caracterizava como uma operação de resgate de um banco privado em situação de iminente insolvência financeira por uma empresa estatal.

Uma nova transação foi anunciada na véspera do caos vivido pelo banco nesta terça-feira. Na segunda (17), a Fictor Holding Financeira anunciou que injetaria R$ 3 bilhões no Master. A operação seria feita por um consórcio que contava ainda com investidores dos Emirados Árabes Unidos.

A operação, embora anunciada e celebrada por ambas as partes envolvidas na transação, ainda estava sujeita à aprovação do Banco Central e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade)

Prisão de Vorcaro

Daniel Vorcaro, dono do Master, foi preso na noite de segunda-feira (17) em São Paulo. Ele foi detido no âmbito da Operação Compliance Zero. Havia uma suspeita da Polícia Federal de que o banqueiro pudesse deixar o país para evitar uma eventual prisão.

A operação tem o objetivo de combater a emissão de títulos de crédito falsos por instituições financeiras que integram o Sistema Financeiro Nacional (SFN). Ao todo foram cumpridos cinco mandados de prisão preventiva, dois de prisão temporária e 25 mandados de busca e apreensão no Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Bahia e no Distrito Federal.

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Repórter de política da Itatiaia, é jornalista formado pela UFMG com graduação também em Relações Públicas. Foi repórter de cidades no Hoje em Dia. No jornal Estado de Minas, trabalhou na editoria de Política com contribuições para a coluna do caderno e para o suplemento de literatura.

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