Uma das principais escritoras negras do Brasil, Carolina Maria de Jesus faria 110 anos nesta quinta-feira (14). A autora nasceu em 14 de março de 1914, em Sacramento, cidade a cerca de 60 km de Araxá, no Alto Paranaíba, em Minas Gerais. Em 1937, aos 23 anos, a autora chega a São Paulo - local onde escreve a sua obra mais célebre, o livro “Quarto de despejo: diário de uma favelada”.
A obra, publicada em 19 de agosto de 1960, teve 10 mil exemplares vendidos na primeira semana, traduções para diversos idiomas, e alcançou a marca de um milhão de livros vendidos.
Pelo fluxo de pensamento de Carolina, podemos acompanhar o cotidiano na favela do Canindé, em São Paulo, no período entre 1955 e 1961. A autora, que trabalhava como catadora de papel, narra sua vida, sonhos e utopias em seu diário particular. Carolina aborda temas como fome, pobreza e violência.
“Prefiro catar papel do que ser doméstica, porque nunca os patrões estão contentes”, diz trecho do livro “Quarto de Despejo”.
A obra é considerada um marco na literatura brasileira, tanto pelo estilo da escrita, quanto por expandir a voz da mulher negra na literatura. Por muitos anos, Carolina Maria de Jesus não era levada a sério como escritora por intelectuais. A autora era criticada por usar uma linguagem bastante informal e relatar dramas periféricos, além de não ter tido estudo.
Porém, nos últimos anos, houve um resgate da obra da escritora mineira, que conquistou leitores das novas gerações e ganhou edições atualizadas de seus livros.
“Hoje 24 de julho estou reiniciando a escrever o meu diário. Creio que não poderei viver sem escrever porque os dramas continuam acontecer enquanto vivemos”, diz trecho do livro “Quarto de Despejo”.
Site reúne informações sobre obra e vida da autora
Para comemorar a data, o Instituto Moreira Sales (IMS) lança, nesta quinta (14), um site que reúne informações sobre a obra e vida de Carolina Marina de Jesus.
“Tem uma proposta central neste site, que é o de ser um ponto de encontro, onde admiradores, estudiosos, leitores e todas as pessoas que se sentem tocadas por Carolina poderão compartilhar aspectos preciosos de sua vida e obra em movimento”, diz a professora e pesquisadora Fernanda Miranda, responsável pela concepção do projeto.
A plataforma se organiza em quatro seções: Biografia, Obras, Arquivo Vivo e Encontros. A primeira é ilustrada com fotografias, reportagens e reproduções de manuscritos, além de contar a história da escritora através de uma linha do tempo.
Na seção “Obras”, o site reúne informações e trechos dos livros da autora. Além de “Quarto de Despejo”, estão detalhados os livros “Casa de Alvenaria” e “Diário de Bitita”. Na seção “Arquivo Vivo”, foram disponibilizadas cartas escritas e recebidas por ela e um extenso material sobre exposições e reportagens sobre a autora.
Por último, a seção “Encontros” é dividida entre Pesquisa, Escrita e Sala de Aula. É o espaço mais colaborativo do site. “Queremos construir um banco de teses para que as pessoas consigam acessar o conhecimento que tem sido produzido sobre a Carolina na universidade, mas que não seja excludente”, disse Fernanda.
O site pode está disponível neste
