A modalidade de carros por assinatura ganha espaço no Brasil, impulsionada pela alta nos preços dos veículos zero quilômetro e pela complexidade na gestão de revenda. Chamado de “usership” (uso em vez de posse), o modelo permite tratar o veículo como um ativo patrimonial e passa a considerá-lo um serviço, com custos previsíveis e centralizados.
Porém, como toda novidade, a modalidade gera dúvidas e precisa ser bem avaliada pelos novos consumidores, o que exige uma análise fria sobre depreciação, custo de oportunidade do capital investido e riscos mecânicos.
O contrato
O primeiro passo na hora e assinar um carro é avaliar bem o contrato. O serviço geralmente engloba um pacote fechado (bundle) que inclui despesas que, na compra, são variáveis ou anuais.
Os contratos padrão operam com as seguintes variáveis técnicas:
- Prazo de vigência: Variam tipicamente entre 12 e 48 meses. Contratos mais longos tendem a diluir o valor da mensalidade.
- Franquia de quilometragem: O limitador técnico mais importante. As faixas comuns são de 500 km, 1.000 km, 2.000 km ou 3.000 km mensais. O excedente costuma ter um custo elevado por quilômetro rodado.
- Cobertura de seguro: Inclui proteção contra roubo, furto, colisão e terceiros, mas com franquias que podem variar conforme o perfil de risco e a categoria do veículo.
- Gestão documental: IPVA, licenciamento e emplacamento são de responsabilidade da locadora.
Pontos fortes e fracos da assinatura de carros
Confira o que alugar um carro traz de melhor e pior:
Pontos fortes
- Previsibilidade de fluxo de caixa: O valor mensal é fixo, eliminando surpresas com manutenções corretivas pesadas ou aumentos abruptos de seguro.
- Custo de oportunidade: O capital que seria imobilizado na compra do carro (ex: R$ 100.000,00) pode permanecer aplicado em renda fixa. Com a taxa Selic em patamares elevados, o rendimento desse capital pode subsidiar parte significativa da mensalidade.
- Isenção de risco de revenda: O assinante não sofre com a desvalorização de mercado (depreciação) nem com a dificuldade de liquidez na hora da venda.
Pontos fracos
- Inexistência de ativo residual: Ao final do contrato, o usuário não possui bem algum para dar de entrada em uma nova aquisição.
- Rigidez contratual: Multas por rescisão antecipada costumam ser altas (muitas vezes 50% do valor restante do contrato).
- Limitação de customização: Não é permitido realizar modificações estéticas ou mecânicas (stage, envelopamento, troca de rodas) sem autorização prévia e reversão ao final.
Manutenção
A manutenção dos veículos é um ponto a se levar em consideração na hora de definir o modelo a ser utilizado.
Manutenção no modelo de assinatura
A locadora assume a responsabilidade pela manutenção preventiva prevista no manual do fabricante.
- Logística: Muitas operadoras oferecem o serviço “leva e traz”, onde um técnico retira o veículo para revisão e o devolve pronto.
- Custos: Peças de desgaste natural (pastilhas, pneus em alguns contratos, filtros, óleo) estão inclusas na mensalidade.
- Garantia: Como os carros são zero quilômetro, estão cobertos pela garantia de fábrica durante todo o período de uso típico (12 a 36 meses).
Manutenção na compra de usado
Ao optar por um seminovo, o proprietário assume o risco técnico integral.
- Vícios ocultos: Carros fora da garantia de fábrica podem apresentar falhas em componentes caros como transmissão automática, módulos de injeção ou sistema de ar-condicionado.
- Desgaste acumulado: A compra de um usado exige a troca imediata de correias, fluidos e pneus para garantir a confiabilidade, gerando um custo inicial pós-compra (CAPEX adicional).
- Gestão: O proprietário deve cotar peças, agendar serviços e fiscalizar a qualidade da mão de obra.
Compensa ter carro por assinatura ou comprar um usado? Veja como calcular
Para se calcular o que vale mais a pena, assinar um carro ou comprar um usado, é necessário aplicar o cálculo de TCO (Total Cost of Ownership) projetado para o período do contrato (ex: 24 ou 36 meses).
Cenário de Compra de Usado
- Depreciação: Um veículo perde valor ano a ano. Embora usados tenham depreciação menor que zero km, ela ainda existe.
- Custo do Capital (Custo de Oportunidade): Se você tem R$ 80.000 para comprar um usado à vista e opta por comprar, você deixa de ganhar cerca de R$ 8.000 ao ano (considerando um rendimento líquido conservador de 10%). Esse “dinheiro perdido” é um custo técnico.
- Despesas Operacionais: Soma-se IPVA, Seguro Privado, Licenciamento e Manutenções fora da garantia.
Cenário de Assinatura:
- Soma das Mensalidades: Valor total pago no período.
- Abatimentos: Deve-se subtrair o rendimento do capital que ficou investido (já que você não descapitalizou para comprar o carro).
O que vale mais a pena?
A assinatura tende a ser vantajosa financeiramente para perfis que rodam dentro da franquia (até 2.000 km/mês) e possuem o capital total para compra, mas preferem mantê-lo investido rendendo juros compostos.
Já a compra do usado é matematicamente superior para quem roda excessivamente (motoristas de aplicativo, representantes comerciais) ou para quem pretende ficar com o veículo por longos períodos (acima de 5 anos), diluindo a depreciação inicial.
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A escolha técnica depende da liquidez e do perfil de uso. Se o objetivo é blindagem patrimonial e eficiência de fluxo de caixa, o modelo de assinatura supera a compra de um usado premium que exige manutenção cara.
Por outro lado, para quem busca construir patrimônio e tem conhecimento técnico para gerir a manutenção de um seminovo, a compra tradicional ainda oferece o menor custo absoluto a longo prazo, desde que o veículo escolhido tenha boa liquidez e robustez mecânica.