Tilápia em alerta: insegurança jurídica e importação do Vietnã marcam fim de ano

Suspensão temporária da lista de espécies exóticas invasoras, que incluía o peixe mais cultivado no país, trouxe um alívio momentâneo

Setor aguarda a reavaliação das listas prometida para janeiro

A cadeia produtiva da tilápia no Brasil encerra o ano de 2025 em um cenário de forte mobilização e preocupação. A suspensão temporária da lista de espécies exóticas invasoras, que incluía o peixe mais cultivado no país, trouxe um alívio momentâneo, mas a previsão de retomada do tema em janeiro mantém produtores e entidades em estado de alerta.

Em análise sobre o panorama do setor, Nathalia Rabelo, analista de agronegócio do Sistema Faemg Senar, criticou a elaboração das listas pelo Ministério do Meio Ambiente. Segundo a especialista, o documento, que abrangia cerca de 444 espécies da fauna e flora, carecia de embasamento técnico e ignorava critérios fundamentais para tal classificação.

Falhas técnicas e riscos de mercado

De acordo com Rabelo, a classificação de uma espécie como “invasora” deveria seguir um tripé de critérios: socioeconômico, ambiental e social. No entanto, as listas focavam exclusivamente em possíveis danos ambientais, ignorando a relevância econômica da tilápia.

“A lista estava muito mal construída. Citavam, por exemplo, o cavalo de forma genérica, baseando-se em estudos não referenciados. Para o produtor de tilápia, o impacto não é a proibição direta, mas a insegurança jurídica e as barreiras de mercado”, afirmou a analista.

Embora o Ministério do Meio Ambiente garanta que não haverá proibição do cultivo, o setor teme o “efeito cascata” da rotulagem de espécie invasora:

  • Dificuldades no licenciamento: novos entraves burocráticos para a operação de fazendas aquícolas.
  • Dano de imagem: marketing negativo para um produto que é base da alimentação de muitos brasileiros.
  • Restrições de crédito: possíveis barreiras em financiamentos que exijam conformidade ambiental rigorosa.

Impacto em Minas Gerais

O estado de Minas Gerais sente o peso dessa discussão de forma direta, especialmente na região do reservatório de Três Marias. O município de Morada Nova de Minas conta com o título de maior produtor de tilápia do Brasil e vê sua base econômica ameaçada pela instabilidade regulatória. A analista destaca que o pleito da CNA e do Sistema Faemg é que espécies de interesse comercial sejam geridas pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), e não apenas pela pasta ambiental.

Ameaça estrangeira: importação do Vietnã

Além das questões normativas internas, o setor enfrenta o desafio das importações da tilápia vinda do Vietnã. O produto asiático chega ao mercado brasileiro com preços baixos, mas carrega preocupações sanitárias e de qualidade.

Nathalia Rabelo alerta para a presença do TiLV (Vírus da Tilápia do Lago) no Vietnã, uma doença inexistente nas águas brasileiras. “Existe um risco real de introdução dessa doença aqui. Além disso, há questões de direito do consumidor: o produto importado muitas vezes utiliza injeção de água para aumentar o peso, prática não admitida nos nossos padrões de registro”, pontuou.

Próximos passos

O setor aguarda a reavaliação das listas prometida para janeiro. A expectativa é que o novo texto considere o contexto de mercado e a realidade produtiva nacional para evitar o excesso de oferta e a queda brusca nos preços que prejudicam o produtor local.

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Formada em jornalismo pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH), Giullia Gurgel é repórter multimídia da Itatiaia. Atualmente escreve para as editorias de cidades, agro e saúde

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