Tilápia será proibida no Brasil? Veja tudo que se sabe de discussão entre ministérios

Possibilidade de inclusão da tilápia, principal peixe produzido e consumido no Brasil, na Lista Nacional de Espécies Exóticas Invasoras provocou uma onda de reações

Desde outubro, a proposta recebeu fortes críticas do setor produtivo

A possibilidade de inclusão da tilápia, principal peixe produzido e consumido no Brasil, na Lista Nacional de Espécies Exóticas Invasoras provocou uma onda de reações desde o final de outubro.

O impasse ocorre, principalmente, entre o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e o setor produtivo, incluindo o Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA).

Ministério do Meio Ambiente e Ibama negam proibição de cultivo

Diante da repercussão, o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) divulgou uma nota no fim de outubro para tranquilizar o setor produtivo. A pasta garantiu que a eventual inclusão da tilápia e de outras espécies na lista não implicará em proibições de cultivo no país.

“O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), autarquia responsável pela autorização de cultivo de espécies exóticas na aquicultura, permite a criação da tilápia, de grande relevância econômica e cultivo amplamente consolidado no Brasil. Não há, portanto, qualquer proposta ou planejamento para interromper essa atividade,” afirmou em texto o MMA.

O Ministério reforçou o caráter técnico e preventivo da inclusão na lista, que visa a “prevenção, detecção precoce e resposta rápida em caso de novas invasões biológicas”, e não o banimento ou a proibição de uso.

Já em novembro, o Ibama, ligado ao MMA, emitiu mais uma nota informando que é falsa a possível proibição da tilápia.

Responsável por autorizar o cultivo de espécies exóticas na aquicultura, o Ibama afirmou em nota que “mantém a tilápia como espécie permitida, de grande relevância econômica e amplamente consolidada no Brasil”.

Setor produtivo critica e alerta

Apesar das garantias do MMA, a proposta recebeu fortes críticas do setor produtivo, que teme os impactos da medida.

Em nota, a Associação Brasileira das Indústrias de Pescados (Abipesca) classificou a iniciativa como “economicamente desastrosa e juridicamente temerária”, alegando que ela “ignora a realidade das cadeias produtivas legalmente licenciadas.” A entidade manifesta preocupação com o risco de insegurança regulatória.

“Ainda que se alegue caráter ‘técnico e preventivo’ para a listagem proposta, sua adoção abre margem para insegurança regulatória, efeitos em cascata sobre normas correlatas e retração imediata de crédito e investimentos, afetando milhares de empregos em todo o país e claro, impactando diretamente os preços desses alimentos,” acrescentou a Abipesca.

Ministério da Pesca pede esclarecimentos

O Ministério de Pesca e Aquicultura (MPA) também se manifestou ainda em outubro, solicitando mais informações ao MMA sobre os impactos no licenciamento ambiental das atividades produtivas que utilizam as espécies listadas.

Em nota, o MPA ressaltou a importância econômica das espécies em questão, que juntas representam cerca de 90% da produção da aquicultura brasileira, com um valor estimado em R$ 9,6 bilhões.

Vale ressaltar que o receio principal do MPA é que a classificação como exóticas invasoras impeça o licenciamento ambiental das criações, já que a legislação federal atual não permite o licenciamento de espécies exóticas invasoras, apenas de espécies detectadas nas regiões hidrográficas.

Reunião em dezembro define impasse

Para debater o tema e seus possíveis desdobramentos, o MPA convocou uma reunião extraordinária do Conselho Nacional de Aquicultura e Pesca (Conape), órgão consultivo com representantes da sociedade civil, produtores e pesquisadores.

A votação da nova lista em dezembro promete trazer uma resposta, colocando em lados opostos a preservação da biodiversidade e os interesses da cadeia produtiva que movimenta bilhões de reais e milhares de empregos no país.

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Formada em jornalismo pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH), Giullia Gurgel é repórter multimídia da Itatiaia. Atualmente escreve para as editorias de cidades, agro e saúde

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