Cultivo de tilápia não será proibido no Brasil, afirma Ibama; entenda discussão

Desde o fim de outubro, a possibilidade de inclusão da tilápia na Lista Nacional de Espécies Exóticas Invasoras provocou uma onda de reações do setor

Proposta recebeu fortes críticas do setor produtivo, que teme os impactos da medida

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), ligado ao Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), afirmou que é falsa a informação de que o cultivo de tilápias será proibido no Brasil.

Responsável por autorizar o cultivo de espécies exóticas na aquicultura, o Ibama afirmou em nota que “mantém a tilápia como espécie permitida, de grande relevância econômica e amplamente consolidada no Brasil”.

Desde o fim de outubro, a possibilidade de inclusão da tilápia, principal peixe produzido e consumido no Brasil, na Lista Nacional de Espécies Exóticas Invasoras provocou uma onda de reações e acendeu um sinal de alerta no agronegócio nacional.

A proposta, em análise pela Comissão Nacional de Biodiversidade (Conabio), por meio do Ministério do Meio Ambiente (MMA) que deverá votar a nova lista em dezembro, coloca em discussão espécies de grande relevância econômica.

“A eventual inclusão de uma espécie nessa lista tem caráter técnico e preventivo, e não implica banimento ou restrição de uso. O reconhecimento de espécies com potencial de impacto sobre a biodiversidade serve apenas como referência para políticas públicas e ações de prevenção e controle”, informou o Ibama em nota oficial.

Preocupação do setor

Apesar das garantias do MMA, a proposta recebeu fortes críticas do setor produtivo, que teme os impactos da medida.

Em nota, a Associação Brasileira das Indústrias de Pescados (Abipesca) classificou a iniciativa como “economicamente desastrosa e juridicamente temerária”, alegando que ela “ignora a realidade das cadeias produtivas legalmente licenciadas.” A entidade manifesta preocupação com o risco de insegurança regulatória.

“Ainda que se alegue caráter ‘técnico e preventivo’ para a listagem proposta, sua adoção abre margem para insegurança regulatória, efeitos em cascata sobre normas correlatas e retração imediata de crédito e investimentos, afetando milhares de empregos em todo o país e claro, impactando diretamente os preços desses alimentos,” acrescentou a Abipesca.

Ministério da Pesca pede esclarecimentos e tem licenciamento travado

O Ministério de Pesca e Aquicultura (MPA) também se manifestou, solicitando mais informações ao MMA sobre os impactos no licenciamento ambiental das atividades produtivas que utilizam as espécies listadas.

Em nota, o MPA ressaltou a importância econômica das espécies em questão, que juntas representam cerca de 90% da produção da aquicultura brasileira, com um valor estimado em R$ 9,6 bilhões.

O receio principal do MPA é que a classificação como exóticas invasoras impeça o licenciamento ambiental das criações, já que a legislação federal atual não permite o licenciamento de espécies exóticas invasoras, apenas de espécies detectadas nas regiões hidrográficas.

Para debater o tema e seus possíveis desdobramentos, o MPA convocou uma reunião extraordinária do Conselho Nacional de Aquicultura e Pesca (Conape), órgão consultivo com representantes da sociedade civil, produtores e pesquisadores.

A votação da nova lista em dezembro promete trazer uma resposta, colocando em lados opostos a preservação da biodiversidade e os interesses da cadeia produtiva que movimenta bilhões de reais e milhares de empregos no país.

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Formada em jornalismo pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH), Giullia Gurgel é repórter multimídia da Itatiaia. Atualmente escreve para as editorias de cidades, agro e saúde

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