Resíduos de agrotóxicos em alimentos atingem menor índice de irregularidades em 8 anos

Relatório da Anvisa mostra queda nas amostras insatisfatórias e aponta ausência de risco crônico ao consumidor no ciclo 2024

Resultados revelam que 20,6% das amostras analisadas apresentaram algum tipo de não conformidade

O número de amostras de alimentos classificadas como insatisfatórias em relação ao nível de resíduos de agrotóxicos atingiu o menor nível dos últimos oito anos. Os dados fazem parte do relatório da Anvisa do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA), referente ao ciclo 2024. Os resultados revelam que 20,6% das amostras analisadas apresentaram algum tipo de não conformidade, o menor percentual desde 2017.

Uma amostra é classificada como insatisfatória, ou não conforme, quando são encontrados agrotóxicos não autorizados para uso na cultura onde foram detectados. Além disso, a presença de agrotóxicos proibidos ou nunca aprovados no Brasil e amostras com níveis acima do limite estabelecido pela Anvisa (Limite Máximo de Resíduos - LMR) também é inadequada.

As não conformidades trazem indícios de que o uso do agrotóxico no campo foi feito em desacordo com as indicações aprovadas pelas autoridades competentes para aquele produto e aquela cultura. Dentre elas, a principal irregularidade encontrada é o uso de um agrotóxico que não tem indicação para aplicação em determinada cultura.

O relatório também aponta a existência de amostras de alimentos em que foram identificados agrotóxicos proibidos no país (três amostras) e agrotóxicos não registrados no Brasil (13 amostras).

Qual o risco ao consumidor?

Para avaliar os possíveis efeitos nocivos de amostras inadequadas, a Anvisa utiliza uma metodologia recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e avalia dois tipos de risco: agudo e crônico.

O risco agudo, ou de curto prazo, é o risco de efeitos à saúde que podem ocorrer quando, em um único dia (uma ou duas refeições), uma pessoa consome uma grande porção de um alimento que contém um alto nível de resíduo de agrotóxico. Essa combinação faz com que seja ultrapassada a dose segura, no caso, a Dose de Referência Aguda (DRfA).

No ciclo 2024, o risco agudo foi identificado em 12 amostras das 3.084 analisadas. O percentual de amostras identificadas com risco agudo ficou em 0,39% e comprovou a tendência de queda que vem sendo observada nos últimos 10 anos.

Já o risco crônico avalia o consumo diário, por toda a vida, de diversos alimentos com resíduos de agrotóxicos. O risco é identificado quando essa combinação ultrapassa a dose de referência considerada segura, a Ingestão Diária Aceitável (IDA).

Para avaliar esse risco, a Anvisa utiliza um cruzamento de dados entre as quantidades de consumo de alimentos, obtidas pela Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os resultados do monitoramento feito pela Agência desde 2013 e, quando um alimento não foi analisado no período, considera o limite máximo de resíduo permitido por lei.

O cálculo foi feito considerando os resultados da análise de mais de 28 mil amostras de 36 tipos de alimento e 345 agrotóxicos diferentes, e para nenhum deles foi ultrapassada a dose de referência, isto é, não foram encontradas situações de risco crônico ao consumidor com a inclusão dos resultados do ciclo 2024 na avaliação.

Orientações ao consumidor

Frutas, verduras e legumes são essenciais para a saúde e fazem parte das orientações para uma dieta saudável.

Para mais segurança, siga estas orientações:

  • Lave bem frutas e verduras em água corrente.
  • Use uma escovinha para remover resíduos da superfície, se possível específica para essa finalidade.
  • Prefira alimentos com rastreabilidade (identificação do produtor) e os da época, que costumam receber menos agrotóxicos.
  • A higienização com hipoclorito (água sanitária) reduz riscos microbiológicos, mas não elimina resíduos de agrotóxicos.
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*Giulia Di Napoli colabora com reportagens para o portal da Itatiaia. Jornalista graduada pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022.

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