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Pesquisa aponta controle estratégico como chave no combate ao carrapato-do-boi

Infestações afetam carne, couro e leite; estudo aponta soluções para reduzir impactos econômicos

Ganhos de produtividade são comprometidos

A Embrapa Gado de Corte, em Campo Grande (MS) estuda há décadas o controle estratégico do carrapato. O problema com o carrapato-do-boi (Rhipicephalus microplus) começou com o desenvolvimento de novas raças e seus cruzamentos. A raça zebuína Nelore compõe a maior parte do rebanho brasileiro e coloca o país como um dos maiores produtores e exportadores de carne bovina. Com o avanço dos carrapatos, os ganhos de produtividade são comprometidos e o resultado na balança não é visto.

O pesquisador Renato Andreotti explicou que o nível de infestação do carrapato nos rebanhos varia em função da presença e do grau de raças sensíveis. “A infestação acarreta perda de peso pela inapetência, irritabilidade do animal, perda de sangue pela espoliação acentuada levando à anemia, lesões no local da picada evoluindo para miíases e lesões posteriores no couro”, afirmou o pesquisador da Embrapa.

Para reverter a situação, a pesquisa sugere o controle estratégico, adotado em vários países. Andreotti e equipe disponibilizaram o Museu do Carrapato, uma plataforma digital, na qual o produtor rural e o técnico podem verificar, por exemplo, a resistência da espécie aos acaricidas, por meio de ensaios clínicos. No Museu, o visitante terá informações sobre o controle estratégico do carrapato, ciclo de vida, relações com as variações de temperatura e umidade, raças de bovinos utilizadas no sistema de produção e manejo das pastagens.

Andreotti destaca que “a única forma de minimizar os prejuízos do carrapato-do-boi é seguir o controle estratégico preconizado pela Embrapa”. Um dos primeiros passos, segundo ele, é usar o produto adequado no rebanho.

Falta de tratamento causa alto prejuízo

Um parasito pode dar um prejuízo por animal de 90 litros de leite por dia e 2,3 arrobas por animal por ano, bastando para isso um número de 138 carrapatos em uma vaca leiteira e 180 carrapatos em um animal cruzado de corte. Há ainda danos no couro dos animais pelas reações inflamatórias nos locais onde se fixam ou pela transmissão de doenças, como a tristeza parasitária.

O pesquisador comenta também sobre os prejuízos relacionados ao custo de mão-de-obra, instalações, aquisição de acaricidas e carrapaticidas e de equipamentos de suporte para aplicação nos rebanhos.

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Outras tecnologias como a régua do carrapato para medir o nível de sensibilidade de cada raça ao parasita; o sistema lone tick, o qual controla o carrapato dos animais sensíveis, naturalmente infestados, sem o uso de acaricidas, com base no tempo de sobrevivência das larvas nas pastagens, promovendo um distanciamento entre o hospedeiro e o parasito; e a vacina do carrapato, a ser lançada nos próximos anos, são estratégias possíveis para controle.

*Giulia Di Napoli colabora com reportagens para o portal da Itatiaia. Jornalista graduada pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022.