Importação de tilápia do Vietnã acende alerta no setor brasileiro: risco sanitário

Mesmo após a suspensão temporária da tilápia na lista de exóticas invasoras, o tema tem gerado forte mobilização entre produtores nacionais e entidades do agronegócio

No Vietnã, métodos de processamento permitem um teor de água adicionada muito superior

Com a possibilidade de inclusão da tilápia na lista de espécies exóticas invasoras, o mercado brasileiro de pescados enfrenta um novo e complexo desafio: o avanço da importação de tilápia do Vietnã.

Mesmo após a suspensão temporária da lista, o tema tem gerado forte mobilização entre produtores nacionais e entidades do agronegócio, que coloca em xeque não apenas a competitividade econômica, mas também a segurança sanitária e a transparência para o consumidor final.

Segundo Nathalia Rabelo, analista de agronegócio do Sistema Faemg Senar, a entrada do produto asiático cria um cenário de desigualdade regulatória. De acordo com a especialista, embora o consumo de tilápia continue aquecido no Brasil, a oferta de um produto que não segue os mesmos padrões de qualidade nacionais prejudica toda a cadeia produtiva brasileira.

Diferenças no processamento e o “peso da água”

Um dos pontos mais críticos levantados pela analista diz respeito ao processamento do peixe. Enquanto a indústria brasileira é submetida a rigorosas normas de inspeção que limitam a adição de água no congelamento, o produto vietnamita apresenta discrepâncias significativas.

  • Padrão brasileiro: normas rígidas de processamento garantem que o consumidor pague pelo peso real do peixe, com controle estrito de “glazing” (camada de gelo protetora).
  • Padrão importado: no Vietnã, métodos de processamento permitem um teor de água adicionada muito superior. Na prática, isso altera o peso final, a textura da carne e o valor real do quilo do produto.

“O brasileiro não vai deixar de comer tilápia, mas o aumento da entrada do produto do Vietnã traz um peixe que não segue os nossos padrões sanitários. Há diferenças relevantes no teor de água adicionado durante o congelamento, o que mascara o preço e compromete a qualidade”, alertou Rabelo.

Riscos sanitários e o vírus TiLV

Para além da questão comercial, há uma preocupação biológica. O Vietnã possui registros do TiLV (vírus da tilápia do lago), uma patologia que pode causar alta mortalidade em tanques de cultivo e que, atualmente, não está presente nas águas brasileiras. A introdução desse vírus via importação de peixe processado ou in natura representa um risco sistêmico para os polos produtores, como Morada Nova de Minas (MG).

Defesa da rotulagem transparente

Diante da impossibilidade de barrar o livre comércio, o setor produtivo, representado pelo Sistema Faemg e pela CNA, pleiteia mecanismos de defesa que passam pelo direito à informação.

Nathalia enfatiza que é essencial reforçar a obrigatoriedade de uma rotulagem transparente. O objetivo é que o consumidor consiga identificar rapidamente:

  • Origem do produto: Indicação clara de que o peixe é importado do Vietnã.
  • Método de processamento: Detalhamento sobre a composição e aditivos
  • Teor de água: Transparência sobre quanto do peso da embalagem corresponde efetivamente ao filé de peixe.

Perspectiva de mercado

Para o setor, a transparência é a única forma de garantir condições equitativas de comparação. Sem normas de rotulagem que exponham essas diferenças, o produtor brasileiro — que investe em genética, sanidade e sustentabilidade — acaba perdendo espaço para um produto mais barato, porém tecnicamente inferior.

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Formada em jornalismo pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH), Giullia Gurgel é repórter multimídia da Itatiaia. Atualmente escreve para as editorias de cidades, agro e saúde

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